Frente às pressões inflacionárias, instabilidade cambial, e a desaceleração econômica, acentuada pela baixa confiança do consumidor, muitos empresários se perguntam se o país não está seguindo rumo a outra década perdida.
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?O Brasil já quebrou um dia, e vivemos coisas muito piores no passado do que esta crise. Hoje o país não corre risco de quebrar ? o problema foi a deterioração abrupta do mercado. Porém, não chegamos ao fundo do poço: enquanto houver a sensação de que as coisas podem piorar, o mercado vai continuar travado?, propôs Alberto Serrentino, criador da Varese Retail Stragegy, durante o evento Trends NOVAREJO, realizado nesta quarta-feira (30).
Para o especialista, as variáveis para a retomada incluem estabilidade política, governabilidade, equilíbrio fiscal e controle inflacionário, restauração da confiança e principalmente intransigência com eficiência. ?Não precisamos de revolução, mas de estabilidade. Com ou sem crise, os fatores de sucesso de longo prazo não mudam?, destacou Serrentino.
?Hoje é preciso olhar o negócio muito mais no detalhe: renegociar contratos, ter maior rigor na análise de investimentos e gestão por indicadores, proteger o caixa e não perder as oportunidades de vista?, recomendou ele.Confira a seguir o legado que a crise vem deixando para o varejo brasileiro, de acordo com o executivo:
1) Ajuste fiscal e combate à inflação e corrupção na agenda do país
O Brasil está discutindo de maneira quase que unânime a necessidade de fazer ajuste fiscal e combate à inflação e corrupção. O compromisso deixou de ser uma agenda de governo e passou a ser um princípio inadiável para que o país volte a crescer de maneira saudável.
2) Discussão do papel e tamanho do estado
A população está se conscientizando de que o estado brasileiro não cabe mais na nossa economia. Isso abrirá caminho para que mudanças estruturais aconteçam com muito menos trauma e mais rapidez do que seriam feitas em outro cenário.
3) Ajuste no mercado de trabalho
Duas bombas-relógio eventualmente paralisariam o varejo brasileiro: o mercado de trabalho superaquecido e o mercado imobiliário completamente desvirtuado. É impossível ter as duas principais vias de despesa de um negócio, no caso do varejo capital humano e imobiliário, ficando mais caras que a produtividade, a inflação e o crescimento das vendas sistematicamente durante dez anos. Diante dos custos, qualquer iniciativa para contratar, reter, treinar e engajar acabaria falhando.
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4) Redução de índices de turbulência na mão de obra
Os millenials, que mal sabiam o que era crise e comprometimento com o trabalho e a empresa, estão acordando para uma realidade mais complicada, que vai muito além da busca por desafios profissionais e melhor qualidade de vida. Com a oferta de emprego menor, ficou mais difícil barganhar aumentos e promoções, exigindo maior sacrifício e engajamento.
5) Ajuste no mercado imobiliário e redução nos custos de ocupação
Os custos de ocupação historicamente altos de shopping centers caíram pela metade nos últimos seis meses. Muitos centros comerciais hoje estão cedendo lojas montadas para quem quiser assumir, chegando a ?zerar? o aluguel, embora poucos estejam dispostos a embarcar neste momento. Com o tempo o mercado deve amadurecer e alcançar a um ponto de equilíbrio onde as distorções serão corrigidas.
6) Retomada das exportações
Apesar da indústria estar retraída e em sofrimento, a crise não é homogênea no país. Alguns setores já começam a reagir, como por exemplo o de calçados, pois retomaram as exportações, bem como o de agronegócio e automóveis.
7) Postergação de entrada de novos competidores
Uma grande quantidade de investidores e novos players que estavam prontos para entrar no mercado brasileiro desistiu, diminuindo o nível de competição no mercado.
8) Maturidade de gestão
As empresas estão tomando decisões difíceis sem medo, como a realização de cortes, fechamentos e demissões. O legado disso será um salto de produtividade no varejo, que poderá ser quantificado quando a demanda voltar a crescer. Como as empresas enxugaram custos e apertaram o cinto, os saltos de lucratividade deverão ser muito maiores do que o aumento nas vendas. A estabilidade do mercado será garantida por empresas que, apesar da recessão e queda brusca nas vendas, não estão quebrando ? por conta de sua alta eficiência e produtividade.
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