O portal NOVAREJO se dedica a esclarecer sobre como funciona o mercado de crédito para o consumo, disputado acirradamente entre bancos e fintechs e centro das últimas polêmicas do setor financeiro nos últimos dias. Uma dessas polêmicas está na linha de crédito “antecipação de recebíveis”, que procura melhorar o capital de giro dos lojistas que atuam no Brasil.
O Brasil possui uma particularidade em relação a outros países que é o “parcelado sem juros” para as compras no cartão de crédito, que representa mais da metade das compras dos brasileiros no cartão, segundo a ABECS (Associação Brasileira das Empresas de Cartão de Crédito e Serviços). O mercado de crédito no mundo não costuma praticar essa modalidade de serviço de crédito.
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É entre esse tempo da venda e do recebimento do dinheiro pelo lojista que está semeada a discórdia entre bancos e fintechs. E o varejo está no meio desse fogo cruzado. Entenda o passo a passo das vendas no cartão para visualizar o caminho que o dinheiro faz de quando o cliente compra até o dinheiro cair na conta do lojista.
1. Captura dos dados
Os dados do consumidor são capturados pelo próprio lojista, no e-commerce, marketplace ou loja física. A primeira coisa a ser feita depois disso é a análise de risco. Esse é um dos papeis da Adyen, empresa que atua com tecnologias para meios de pagamento. “Fazemos uma análise criteriosa de risco daquela transação utilizando nossa própria ferramenta de risco”, informa Túlio Cardoso, head de Adquirência e Parcerias da Adyen para a América Latina.
2. Avaliação de risco
A Adyen oferece, de início, mais de 100 tipos diferentes de checagens e os lojistas de internet podem ainda contar com outras checagens customizadas para avaliação do risco para além da análise de crédito. “O objetivo é prevenir que um fraudador realize aquela compra. É possível descobrir, por exemplo, que cor, tamanho e modelo de um tênis um fraudador prefere comprar (pois é mais fácil revender), e conseguimos apontar a probabilidade daquela transação ser fraude usando machine learning e análise de centenas de milhões de transações”, conta Cardoso. “Tudo isto dura milésimos de segundo, e de forma automatizada a transação segue seu caminho”, completa.
3. Bandeiras
Próxima parada: os autorizadores das bandeiras. As bandeiras do cartão de crédito ou débito (Visa, Mastercard, Elo, entre outras) recebem estas informações e envia para o banco emissor do cartão.
4. Banco
Ao receber a informação da bandeira, o banco faz suas próprias análises de fraude e crédito, analisa se o cartão ainda está ativo (ou se já foi cancelado) e se possui saldo suficiente para aquela compra. “O banco autorizará (ou negará) a transação baseada nestes passos”, aponta Cardoso. “Esta confirmação é remetida de volta à bandeira, que por sua vez confirma pra Adyen o resultado: aprovada ou negada. E se negada, qual o motivo”, detalha.
5. O caminho de volta
Depois da troca de informações entre banco e bandeira, a empresa de pagamentos confirma para o lojista o resultado de todo esse caminho. “É uma verdadeira jornada ao redor do globo. E tudo em menos de 1 segundo. As transações de débito no Brasil são liquidadas para os merchants (lojistas) em até dois dias.
6. Particularidade da transação no crédito
As operações feitas via crédito à vista no cartão são liquidadas em 30 dias para o mercado brasileiro. Para as de crédito parcelado, o procedimento de liquidação é feito parcela por parcela, mensalmente, conforme a opção que o lojista deu ao consumidor final.
7. Antecipação do pagamento (ou antecipação de recebíveis)
Esse tempo no qual o lojista demora para receber o valor das parcelas no crédito do cartão oferece ao mercado financeiro uma possibilidade, de entregar o dinheiro ao lojista antes do prazo formal. “Essas duas últimas modalidades de pagamento (crédito à vista ou à prazo) podem ser antecipadas e pagas anteriormente sempre que o merchant desejar contratar esse serviço.
É nesse espaço entre o momento da venda e o recebimento do dinheiro pelo lojista que surgem as linhas de crédito de antecipação de recebíveis, que os lojistas usam para melhorar seu capital de giro.
A questão é: qualquer operação de crédito tem um custo. As associações do comércio asseguram que os lojistas absorvem os custos das operações a prazo pelo fato de serem obrigados a igualar preços diferentes para cartão de débito, cartões de crédito e crédito a prazo, ainda que o lojista ganhe menos com as vendas no crédito a prazo porque a compra precisou ser financiada por uma instituição financeira, que vai querer ganhar o seu.