Caminhar pelas ruas de Roma é uma experiência sensorial. A luz do outono envolve a cidade num tom amarelado distinto. A cada hora do dia é possível ver a mesma paisagem de formas diferentes, descobrindo novas perspectivas. Como a maioria das cidades européias, Roma é dos seus cidadãos. Os residentes e os turistas tomam as ruas e convivem nos diferentes espaços a qualquer hora. A comunhão das pessoas com a cidade é notável: pequenos negócios que evocam a velha tradição italiana de design e arte e cadeias globais de varejo fast fashion e alto luxo sinalizam para as pessoas que o ambiente permite a convivência de extremos, do grande e do pequeno, das inúmeras ruelas recortadas e das grandes praças, dos muitos carrinhos Smart e Cinquecentos com as imponentes SUVs, do esplendoroso Vaticano com suas igrejas seculares, das fachadas modestas para interiores espetaculares, das pessoas de diversas nacionalidades misturando-se em um caldo cultural do qual cada uma sai com inspirações próprias e particulares.
Esse é o contexto que envolve o Consumidor Moderno Experience Summit que iniciou-se no sábado, 1 de novembro. Um evento inspirador para permitir aos mais de 130 executivos presentes desenvolver a capacidade de inovar. Desta vez, tendo como proposta a compreensão do design thinking como método de modelar negócios sob a perspectiva dos clientes e consumidores.
Após um dia dedicado a passeios particulares – mas que de modo unânime levou quase todos a iniciarem a sua jornada pelo Vaticano e a Praça São Pedro, o dia seguint, foi reservado a uma experiência na vinícola Casale Cento Corvi, em Cerveteri, Roma, região do Lazio. A apenas 3 quilômetros do mar, com solo rico em minerais, a fazenda Casale Cento Corvi constrói uma história baseada na mais genuína tradição vinícola, com uvas exclusivas, processo de fabricação natural, sem qualquer interferência química, a partir de uvas orgânicas tipicamente italianas como as Giacche.
O grupo de executivos que participam do Consumidor Moderno Experience Summit pôde vivenciar como se produz de forma tradicional, usando as variáveis mais incertas – clima, vento, regimes da lua, intensidade do sol, qualidades das uvas – para oferecer vinhos mais complexos, brancos, tintos, rosés, que podem ser descobertos de diferentes formas.
Com o tema central versando sobre “design thinking”, a jornada na vinícola proposta pelo Consumidor Moderno Experience Summit foi pensada para proporcionar uma experiência envolvente e curiosa ao grupo. No total, 6 vinhos foram degustados, 4 deles durante um almoço agradável, na cantina da vinícola, com explicações técnicas e sensoriais que permitiram a todos desvendar sabores, aromas e combinações das bebidas com empenho e alegria. É emocionante e inspirador ver o entusiasmo e o humor contagiante da enóloga Giorgia Collacciani comentando sobre os vinhos que produzem na casa fundada por Fiorenzo Collaciani, seu pai, um senhor de cabelos brancos e sorriso no rosto. A família encanta pela simplicidade, pelo espirito de bem-servir, pelas histórias e pelo orgulho com que fala sobre seus produtos e suas lendas.
Há muitos contrapontos importantes aqui: o vinho como bebida milenar, que se renova e evolui a cada ano, oferecendo múltiplas possibilidades, sinaliza como produtos realmente podem se reinventar a despeito da evolução vertiginosa de tecnologias diversas. A Itália que parece devidamente alinhada aos mandamentos da economia global, preserva essências familiares em produtos que são fruto do que mãos e histórias humanas são capazes de criar. E melhor ainda, esses pequenos negócios – vinhos, massas, azeites, temperos, objetos, sapatos, moda – demonstram notável capacidade de conexão com as pessoas e com o entorno. O contexto da Itália global é, na verdade, uma fortaleza de afirmação cultural com concessões ao turismo expressas nas grifes que despontam em ruas comerciais como a Via del Corso.
Já a nossa jornada para construir negócios voltados à perspectiva do cliente tem muito a aprender com a experiência na vinícola Casale Cento Corvi: a espontaneidade, aliada ao conhecimento real de seus produtos, o controle das fases do processo, a pesquisas com variedades de uvas para criar inovações incrementais – vinhos de maior valor e de maiores nuances, são boas lições.
Mas a melhor de todas as lições disponíveis no ensolarado e especialmente iluminado dia em Cerveteri foi a de ver um time focado no próprio negócio, com uma cultura peculiar, vencedora, intensidade juvenil e capacidade de execução.
Poderíamos dizer, usando o jargão do gestor, que a família Collacciani “conseguiu engajar seu público interno em torno de um propósito genuíno”. Mas é melhor afirmar, no jargão mais popular, que o negócio da família se renova a cada geração sem perder a essência. Este é o elemento que conecta o vinho aos seus clientes, mesmo sendo eles brasileiros como nós, com outra cultura.
O bom vinho é um brinde à essência do design thinking.
*Jacques Meir é Diretor de Conhecimento e Plataformas de Conteúdo do Grupo Padrão.