O ano era 2011. Manuela Bordasch estava terminando a graduação na PUC-RS e, para mergulhar de cabeça no tema de sua monografia, começou a fazer vários cursos livres para entender melhor o modelo de fast fashion. O intuito era entrevistar professores que pudessem ajudá-la com o trabalho de conclusão de curso, mas a história acabou indo muito além. Foi assim que começou a história da Steal the Look, plataforma de moda e beleza que é líder em conteúdo comprável no Brasil. Manuela compartilhou um pouco dessa trajetória em um dos webinars do Fórum de Economia Criativa, evento promovido pelo Centro Universitário Belas Artes.
A glamourização do empreendedorismo
Ao longo desses cursos livres, Manuela, que já tinha trabalhado como modelo dos 14 aos 19 anos, começou a ter contato com o universo dos blogs, que vivia seu boom na época. Apaixonada pelo negócio da moda, mas sem se considerar uma referência de estilo, ela enxergou no conteúdo produzido pelas blogueiras uma oportunidade. “Percebi que era possível trazer tendências do que estava acontecendo do mundo das blogueiras, que hoje chamamos de ‘influenciadoras’, de maneira acessível, para que as pessoas pudessem comprar. Hoje parece óbvio, mas na época, não foi”, conta.
Inovador, o negócio foi imediatamente muito bem aceito pelo público, mas ainda assim, demorou para dar retorno financeiro. Foram cerca de dois anos e meio até os sócios começarem a ter uma remuneração mais significativa. Em sua apresentação, Manuela destacou que atualmente, existe uma “glamourização” do empreendedorismo, e que muitas pessoas confundem “flexibilidade” com “trabalhar menos”: “Se alguém quer ser estilista, por exemplo, eu falo que é melhor trabalhar para outras marcas, porque se você tiver sua própria marca, a última coisa que vai conseguir fazer é criar”.
Mudanças no mercado da moda
Manuela diz que a pandemia da Covid-19 acelerou algumas mudanças no mercado da moda. As mais óbvias, como trabalho remoto e eventos online, aconteceram de maneira natural, e devem persistir no “novo normal”. Outras, no entanto, só o tempo será capaz de dizer se irão se consolidar. “Já vínhamos estruturando home office na Steal the Look, e acho muito difícil que voltemos 100% para o modelo presencial. É uma grande vantagem poder contratar talentos de qualquer parte do mundo, e o impacto que isso tem nos custos da empresa é muito grande. Vamos que avaliar o que é necessário ter presencialmente e o que poderá ser mantido online”, explica.
Segundo ela, as empresas precisam cada vez mais estimular o intraempreendedorismo em seus colaboradores, estimulando-os a lançar novos produtos e serviços dentro da própria corporação. “As pessoas querem flexibilidade, então, se as empresas não derem isso para seus colaboradores, vão começar a perder grandes talentos. As pessoas não querem construir só os sonhos dos outros, elas querem construir os seus próprios, e acho que é possível construir sonhos em conjunto”, diz.
Foi justamente com o intuito de estimular o empreendedorismo que a Steal the Look lançou, em 2018, o PUSH, plataforma de compartilhamento de experiências para empoderar e motivar mulheres que precisam de ajuda para tirar suas ideias do papel. Enquanto os eventos presenciais não são retomados, o PUSH se reinventa com o lançamento de novos produtos, como podcasts, webinars e até um e-book. “Tem um filósofo que diz que o analfabeto do século XXI é aquele que não sabe desaprender e aprender de novo. É importante entendermos que o que nos trouxe até aqui não é o que vai nos levar para o futuro”, conclui.
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