Uma das caraterísticas mais marcantes dos EUA é o apelo à comilança. Na TV, nas revistas, na internet, o país parece obcecado por imagens de carnes na chapa, pães sendo mordidos, queijos derretidos, chocolates repletos de cremosidade. Aqui em Austin é impossível assistir à TV por dois minutos, em qualquer canal, sem ser impactado por comida gordurosa – mesmo quando saudável – estimulando apetites sensíveis. Mal de país rico, onde aguçar os instintos da gula é quase um esporte.
O Mc Donald’s é um dos grandes patrocinadores do evento, não por acaso. Seu espaço normalmente oferece muita comida e caloria gratuitamente em alguns horários e a preços módicos em outros. A região de downtown, onde acontece o SXSW nos diversos eixos – música, cinema, arte, interatividade e comédia (este ano) – é repleta de bares e churrascarias. O incentivo à alimentação calórica é extremo.
Há um exercício antropológico aqui: o apego exagerado à cultura local, que preza uma tradição mais rude, expressa no gosto pelo churrasco, pela costela de boi macia, derretendo no garfo, misturada à culinária mexicana. É uma experiência e tanto observar esse gosto pela gordura, esse instinto carnívoro. Haja colesterol e tolerância às pimentas. Não é qualquer um que encara isso muitos dias.
Ao mesmo tempo, orgia alimentar à parte, esse festival é um desafio gigante, ainda maior para a mente. O grau de experimentação e busca por ideias e inovação aqui não encontra similar no mundo. A oferta de conteúdo é diversificada em níveis inconcebíveis. Dúzias de opções estão disponíveis a cada hora. Preparo físico ajuda, já que longas caminhadas atrás de uma inovação ou ideia disruptiva se justificam plenamente.
A jornada do SXSW começa amanhã, 10/03, com o eixo interativo. Correr atrás das novas ideias é o indicado para fugir da exposição indecente de comida gordurosa. Do meu lado, não farei a elegia ao colesterol. Quero mesmo eliminar as adiposidades cerebrais e deixar a inspiração em forma.
*Jacques Meir é Diretor de Conhecimento, Conteúdo e Comunicação do Grupo Padrão