Três séries de sucesso. Três visões de mundo diferentes quando o assunto é o futuro do capitalismo. Se o tema já estava rondando o imaginário coletivo recentemente, em produções que há três ou quatro anos vinham tentando especular como funcionaria o século 21, a chegada da pandemia de Covid-19 só fez aumentar esse interesse. Tudo porque com a realidade de restrição de mobilidade, o trabalho remoto e o medo de contaminação – que já foram tema da ficção, mas agora são realidade – o tecido social se alterou com mais rapidez do que vinha acontecendo. E gerou questionamentos muitas vezes já antecipados por essas atrações.
Ainda que o futuro esteja sendo construído todos os dias, agora no presente, essas produções dão uma ideia do que pode vir por aí. A esses cenários, é bom lembrar, vale acrescentar o “elemento” novo coronavírus, já que enquanto não houver vacina é quase certo que a contaminação será intermitente. Será que logo mais acompanhamos uma série que já trata deste assunto como ingrediente para pensar o capitalismo? Faça suas apostas e, enquanto isso, assista a esses títulos abaixo:
YEARS AND YEARS (2019)
A produção britânica da HBO chamou bastante a atenção quando foi lançada principalmente por abordar questões como imigração, tecnologia no corpo humano e precarização do trabalho. A série provoca, principalmente, ao mostrar um mundo em que quase todos os empregos se tornaram desnecessários porque há uma inteligência artificial por trás realizando a tarefa.
A narrativa é centrada na família Lyons, comandada pela matriarca Muriel, que vive em Manchester. Todos vivem no Reino Unido e já nesse contexto pós-Brexit. Em um futuro não muito distante do nosso – uma linha do tempo de 15 anos apenas – os Lyons começam a encarar as rápidas transformações sociais e tecnológicas quando um deles se apaixona por uma refugiado ucraniano; outro perde vai à falência com a quebra de bancos e acaba se tornando entregador de app de comida; e uma das netas de Muriel decide implantar um chip de computador dentro do cérebro para se tornar uma super-humana.
A minissérie tem apenas seis episódios, é uma produção da BBC dirigida por Russell T. Davies e conta com a participação da prestigiada atriz Emma Thompson. Cheia de reviravoltas e com roteiro bastante agitado, vale assistir, mas tome cuidado para não ficar ainda mais ansioso com a quarentena ao desligar o último episódio.
BILLIONS (2016 até agora)
Só se fala da série exibida no Brasil pela Netflix e que está em sua quinta temporada (com grandes chances de ganhar mais um ano de vida). Lançada em 2016, pelo canal norte-americano Showtime, ela passou batido dos espectadores até que sua trama começou a esquentar e a encontrar ressonância com a realidade. Estrelada por dois atores bastante conhecidos – Paul Giamatti e Damian Lewis (que ficou famoso por estrelas as primeiras temporadas de “Homeland”), “Billions” se passa no universo financeiro de Wall Street, em Nova York. Bobby (interpretado por Lewis) é o influente CEO de um fundo de investimento que é, claro, bilionário.
+ BILLIONS
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Além de desmistificar o mercado financeiro norte-americano, que é basicamente o principal do mundo, trazendo um pouco mais de seu funcionamento, também discute questões éticas relacionadas a como se ganha esse tipo de dinheiro hoje. Na cola de Bobby está o procurador de justiça, Chuck Rhodes (Giamatti), que é o contrapeso da balança e investiga como a empresa de Bobby ficou tão rica. Ele é a força que questiona sobre o acúmulo de dinheiro: existe um montante que se torna indecente? Amarrando a trama está a personagem feminina Wendy, interpretada por Maggie Siff e que é a ponte entre os dois mundos desses distintos homens. A atração tem assinatura de Brian Koppelman e David Levien, produtores dos filmes “Treze Homens e um Novo Segredo” e “Cartas na Mesa”.
BLACK MIRROR (2011-2019)
Talvez você já tenha ouvido alguém falar a expressão “isso está parecendo um episódio de ‘Black Mirror'”, tamanha aderência que a série britânica exibida pela Netflix tem com a realidade e que, em tempos de Covid-19, parece que só vem aumentando. Seja em memes nas redes sociais, seja nos encontros virtuais do zoom com os amigos ou nos grupos de whatsapp, a produção que é uma das mais populares da plataforma parece não ter ficado ultrapassada. Ao contrário. Sempre tendo em mente como a tecnologia e o relacionamento humano em um mundo ultraconectado estão interligados, ela apresenta temas como a gamificação da vida ou o lado mais obscuro do uso de inteligência artificial, por exemplo, que vai do monitoramento de dados e de gadgets até o rastreamento dos nossos passo (algo que foi realmente feito na China para ajudar a frear a pandemia de Covi).
É ficção científica na veia e alguns episódios são polêmicos por seu alto nível de suspense e terror psicológico. As tramas não são interligadas, ou seja, não se trata de um avanço serial de acontecimentos. E se passam sempre ou em um presente bem moderno, ou em um futuro próximo, para não perder o gancho com a nossa realidade. Para o criador da série, Charlie Brooker, a ideia é mostrar os efeitos colaterais da tecnologia em um mundo onde todas as relações estão se dando através da tela do computador, e mais ainda, da tela do smartphone. Com a quarentena, quanto mais essa sensação de dependermos da tela e da conectividade não aumentou? Muito. Por isso, a série continua tão atual. Parecia uma previsão de futuro que, ainda não se sabe, pode se realizar episódio por episódio.
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