Desafios da nova geração: Os CEOs de si mesmos vêm aí
- Por MARINA ROALE
- 3 min leitura
A Geração Z andou fazendo barulho nos últimos meses com um movimento conhecido como #quietquitting, que se trata de uma tentativa de acordo coletivo entre funcionários para que estes façam o mínimo necessário do requerido por sua função. Trata-se de uma resposta geracional para a máxima do “trabalhe enquanto eles dormem” ou “saia da zona de conforto”.
É bem verdade que o cenário já vinha mudando. De acordo com a Harvard Business Review, o trabalho de comunicação por trás das telas – que vai do tempo passado em e-mails, apps de mensagem até videoconferências – cresceu cerca de 50% em relação à última década, consumindo agora pelo menos 85% da semana de trabalho. Isso significa que passamos mais tempo atualizando informação e follow-ups do que executando, criando e tendo chances reais de inovar ou exercer um propósito.
Não à toa, ainda antes de a pandemia estourar, o debate sobre burnout aquecia nas empresas. As multiplataformas de comunicação e mensuração de resultados aumentaram o senso de imediatismo e urgência, gerando terreno fértil para a estafa e a ansiedade, inclusive por estarmos solitários e com medo de não estarmos performando como devíamos. Segundo pesquisa da Deloitte divulgada este ano, 45% dos Millennials se sentem esgotados devido às exigências do trabalho.
O fato é que os Zs chegam em um mundo de trabalho em colapso, com uma saúde mental abalada pelo início de vida adulta em pandemia e já se sentido cansados. Estamos falando de jovens que dão início a uma vida profissional em um momento em que quase não existem fronteiras entre o eu da vida privada e o eu da vida corporativa. O self jurídico que participa de uma reunião é o mesmo que monetiza a própria imagem em uma rede social.
O #quietquitting tem gerado a interpretação de que a Geração Z seria menos ambiciosa, mas o fato é que esta geração não rejeita trabalho, mas o trabalho para o outro. Nas pesquisas que realizamos no Grupo Consumoteca pelos últimos anos na América Latina, coletamos uma série de depoimentos de gente querendo ser CEO e realizar grandes feitos. O problema é: para quem só conhece uma vida sob demanda e com muita voz ativa nas redes, é difícil se encaixar nos moldes de um mundo onde há pouca margem para a liberdade.
A mentalidade Z entra em conflito com a do mundo corporativo. Resta saber quem vai ceder primeiro.
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