Nosso marketing morreu?

Nosso marketing morreu?

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Fazem parte do passado os grandes momentos da criatividade e o impulsionamento de nossas marcas e nossa propaganda. Hoje, testemunhamos que as marcas e os marqueteiros e publicitários estão cada vez mais dependentes de influenciadores, das redes sociais e de ações duvidosas – tudo para gerar leads e impactos, haja o que houver. 

Repercutimos muito pouco em tudo aquilo em que somos destaque mundial. O Brasil é o maior produtor e exportador mundial de café. Mas deixamos cadeias globais assumirem o seu protagonismo num café de gosto duvidoso por aqui, ou submetemo-nos a um café de cápsula, que não condiz com o hábito tipicamente brasileiro de degustar a iguaria. Da mesma forma com as nossas carnes e os produtos agrícolas, em que somos referência mundial indiscutível graças ao empreendedorismo de autênticos desbravadores que fizeram de nossa terra a mais produtiva e diversa de todo o planeta.

Temos também a matriz energética mais limpa do planeta e não conseguimos obter o devido reconhecimento nos organismos internacionais. Temos um dos melhores sistemas de saúde do mundo, com destaque para o nosso SUS – sem mencionar a excelência de nossa medicina diagnóstica com Fleury, Dasa ou nossos hospitais de classe mundial como Albert Einstein e Sírio-Libanês. 

São inúmeros os expatriados que mantêm seus planos de saúde no Brasil e voltam para cá esporadicamente para fazer check-ups e exames. Além de tudo isso, destaca-se a postura do médico brasileiro, que é empático como nenhum outro profissional da área no mundo. São inigualáveis na arte das relações humanas, porém, nada disso é valorizado.

Sinto falta do marketing que conheci. E de todas as suas maneiras diferenciadas de criar e fazer diferente – principalmente nos momentos críticos que vivemos nas últimas décadas. Hoje, todos se submetem à ditadura das redes sociais, que praticamente pasteurizam qualquer iniciativa.

Assistimos, sem nenhum teor de crítica, a campanhas objetivando o acúmulo de seguidores ou likes e que não se transformam em vendas. Em outras palavras, investe-se muito em ações de valor considerável, mas com pouco resultado. Mesmo hoje em dia, com a popularização do NPS, muitas empresas avaliam muito mais com o propósito de gerar bônus para os executivos do que como uma ferramenta de medição real da percepção do consumidor com a marca ou a reputação da empresa. 

Podemos até dizer que o NPS é uma reformulação das antigas pesquisas de satisfação que sempre podiam ser mensuradas por dois ângulos: a ótica das empresas, sempre otimista, e a real ótica do consumidor, sempre em contraste evidente com a mensuração das empresas. Esse mundo faz de conta é um jogo de soma zero. A confiança do consumidor na qualidade dos serviços das empresas sempre fica em xeque.

Tudo isso pode ser comprovado quando avaliamos os grandes os rankings nacionais de marcas. As principais marcas do Brasil são justamente os grandes bancos – fruto de um belo trabalho de seus executivos que conseguiram sobreviver a anos de má gestão política e econômica do País. Eles conseguiram resplandecer, constituindo marcas fortes. Não temos nenhuma empresa de destaque nos rankings mundiais de marca, o que não condiz com a grandeza e a importância de um País que figura entre as dez maiores economias do mundo. 

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É com um misto de saudade e grande decepção que relembro as épocas em que comprávamos sonhos e vivíamos verdadeiras experiências. Hoje é tudo muito fluido, muito momentâneo. Tudo é realmente uma grande loteria na espera de que alguém curta ou ache alguma coisa interessante inserida em scrolls infinitos que causam pouco impacto. Como querer se inspirar ou respeitar campanhas feitas por influenciadores que recebem – e muito! – para mostrar alguma nova roupa ou algum novo quitute para os seus seguidores?

Sempre é bom frisar ou relembrar: O mesmo influenciador que hoje pode estar à frente da campanha de uma empresa, que tem como norte os princípios de sustentabilidade e governança, pode, na sequência, estabelecer vínculos com outra empresa que não respeita essa mesma agenda. E qual é grau de credibilidade que transmite?

Em paralelo, podemos também testemunhar a pasteurização do consumo. No Brasil, mesmo as marcas de luxo, que são grandes exemplos de experiência do cliente – com design e atendimento personalizado a marcas aspiracionais –, não atraem o cliente com suas vitrines e seus mostruários. Por aqui, não condizem com os altos padrões de elegância e estilo presentes nas principais vitrines das principais praças do mundo.

Esse consumo aspiracional permeia todas as classes de renda – seja com o uso de um tênis mais caro na comunidade, seja com um ambiente de luxo, em que as pessoas sempre procuram se destacar no meio em que vivem, seja ele qual for. Porém, no Brasil temos um outro obstáculo que é consequência da total falta de segurança pública. Nossas capitais são um exemplo crítico de locais onde sequer o cidadão tem o direito de andar nas ruas com o seu celular na mão – em poucos minutos seria furtado. O medo acaba coibindo as pessoas de usufruir de acessórios, roupas ou qualquer item que se destaque, por conta de toda a violência descarada e sem nenhuma contrapartida de segurança por parte de quem foi eleito para cuidar da integridade dos cidadãos.

Em pleno mês do consumidor, é preciso relembrar que o marketing, como estratégia empresarial, não pode entregar-se ao conformismo ou ao modismo instantâneo: precisa investir na experiência da marca, no encantamento, na emoção, no storytelling. A boa história encanta e faz a diferença. É muito mais importante investir no cliente e no consumidor – contando as suas histórias, repercutindo-as porque são verídicas e reais – do que nos influenciadores do momento. 

A marca pode ocupar o seu espaço pela transparência e pela forma autêntica com que se comunica com os seus consumidores. É mais do que urgente reavivarmos e recriarmos um marketing que conhecemos e admiramos, para estar devidamente alinhado às empresas que são focadas no consumidor e em métricas que fazem com que esse consumidor sempre recomende a empresa e continue prestigiando e valorizando a história, os valores e as entregas de cada marca. Sem isso, nenhuma marca repercute. 

As marcas são sempre lembradas pela experiência que proporcionam. Em um período em que a Inteligência Artificial está invadindo todas as praias e todas as organizações, em todas as áreas de atuação, é preciso, cada vez mais, investir e preservar o contato próximo com o cliente, proporcionando a melhor experiência. 

Isso é CX. Isso é CX com IA. Marketing, sem CX, não é marketing. Vida longa ao marketing. 

SUMÁRIO – Edição 289

As relações de consumo acompanham mudanças intensas e contínuas na sociedade e no mercado. Vivemos na era da Inteligência Artificial, dos dados e de um consumidor mais exigente, consciente e impaciente. Mais do que nunca, ele é o centro de tudo: das decisões, estratégias e inovações.
O consumidor é digital sem deixar de ser humano, inovador sem abrir mão do que confia. Ele quer respeito absoluto pela sua identidade, quer ser ouvido e ter voz.
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CAPA: Camila Nascimento
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