Geração Z: É hora de incluir os excluídos
- Por Roberto Meir
- 6 min leitura
Na virada do século, os americanos estavam preocupados com o efeito da presença de distintas gerações, heterogêneas, no mercado de trabalho. Os veteranos, que viveram a Segunda Grande Guerra; os Baby Boomers; a Geração X; e, por fim, a Geração Y ou Millennials que, na época, era chamada de “Net Generation” ou “Next Generation”. Tive a fortuna de ser um brasileiro pioneiro em participar e conhecer todos os “founding fathers” desse conceito que, hoje, representa a grande “dor de cabeça” de dez entre dez empresas.
De um lado, os veteranos e a sua resiliência incomparável, donos de princípios e valores como patriotismo, lealdade, justiça e trabalho árduo. Do outro, os Millennials, supostos “digitais”, com seus computadores à frente e arrogância natural, desafiando conceitos, princípios e práticas corporativas.
No meio deles, destacavam-se os Boomers, geração que mais gerou riquezas na história da humanidade, e a Geração X, admiradora confessa dos seus antecessores, ansiosa para herdar o magnífico legado, mas sempre ofuscada pelo colossal sucesso dos Boomers. Eis que os “coaches” tiraram da cartola que o correto seria passar o bastão diretamente para os Millennials, pela sua suposta expertise mais digital. Nesse momento, criou-se um grande lapso na história que acarretou a ausência de formação de lideranças futuras.
Na dúvida, olhe para o seu entorno e destaque alguns líderes da Geração X que sejam tão inspiradores quanto grandes nomes da geração anterior. A verdade é que vivemos uma absoluta carestia de verdadeiras lideranças empresariais ou políticas. Dentro dessa linha, podemos também apontar que o Brasil nunca teve uma crise real: quando houve, foram provocadas pela absoluta falta de sintonia entre as nossas pseudolideranças e as mutações do consumidor. Todos foram eméritos e bem-sucedidos em atender às demandas dos Boomers e da Geração X, mas perderam completamente o diálogo e a conexão com os Millennials e com a Geração Z.
Então, cada uma das gerações seguiu caminhos distintos, convergentes nas práticas e totalmente divergentes nos valores e costumes. Os Millennials se desenvolveram, incutiram o seu modo de pensar, influenciaram empresas, negócios e o mundo, em geral, e foram os grandes responsáveis pelo estabelecimento de práticas de consumo consciente, responsabilidade social e desenvolvimento sustentável. Embora tenham-se tornado lideranças precoces, não foram capacitados com a devida resiliência e responsabilidade imprescindíveis a um futuro tão complexo. Também relevaram práticas como a busca pelo lucro e pelo resultado, em troca de bandeiras mais inclusivas.
Eis que chega a vez da Geração Z: a primeira totalmente digital e conectada ao celular, nascida em meados dos anos 90. Trata-se da geração mais conscientizada, com mais acesso à informação e à educação e que é, ao mesmo tempo, a mais preguiçosa, sem rumo e, agora, com a recente crise, sem esperança e até sem emprego.
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A sua dicotomia pode ser observada no exercício das questionáveis práticas de boicote e cancelamento, ao mesmo tempo em que os Zs são os apóstolos da diversidade e da sustentabilidade: a mesma geração que defende a linguagem neutra é a mesma que pratica o etarismo, discriminando os mais velhos. Isso é claramente percebido na forma como os Zs desenvolvem códigos, excluindo os mais idosos ou os menos favorecidos dos malditos apps, como que estabelecendo uma nova linguagem universal. Há vida fora dos aplicativos!
Afinal, se tudo aquilo que vai contra o que a Geração Z acha errado tende a ser cancelado, o mesmo ocorre com tudo aquilo que ela cria: os Zs só incluem o que está de acordo com a preferência deles. A complexidade com que os algoritmos são desenvolvidos é evidência da falta de preocupação com o próximo em entender as diferentes necessidades e expectativas e a maneira de pensar de todos os agentes de uma sociedade. Frise-se que, segundo o Código de Defesa do Consumidor, as empresas devem viabilizar acesso gratuito a consultas para o consumidor, mas o app não é gratuito, pois consome dados.
Contraditórios, os Zs não praticam aquilo que pregam, tampouco apresentam maturidade para perceber a hipocrisia presente no seu próprio discurso. Infelizmente, são jovens brilhantes, porém iludidos e manipulados pelos algoritmos, pelas telas, pelo poder das redes sociais e carecem de senso crítico e visão de realidade e de futuro para sobrepujar as grandes barreiras que se apresentam ao mundo com um futuro tão incerto. A bem da verdade, existe vida e muita criatividade e necessidades no mundo além dos 25 anos…
Máquinas de moer cérebros, as big techs encontraram na Geração Z a sua vítima preferencial. Mais recentemente, na ânsia de exercer seu poder de escolha, os Zs provocaram a Great Resignation – Grande Resignação, em tradução livre –, a maior demissão voluntária em série iniciada nos EUA, que se tornou “modinha” em outros países, inclusive no Brasil. Não por outro motivo, constatamos agora a Grande Frustração, com o desemprego em massa, principalmente nas até outrora intocadas gigantes de tecnologia. Agora, os Zs estão sem trabalho e não contarão com os polpudos investimentos feitos pelos Venture Capitals.
Baseado em toda essa experiência de acompanhar o desenvolvimento de tão distintas gerações e sob a perspectiva de um mundo que tende a uma desglobalização, com inflação em alta, juros subindo, seria mais do que proverbial o estímulo a uma melhor convergência de ideias e trocas entre os líderes de diferentes gerações para rumarmos a um mundo mais harmonioso e pacífico. A polarização, excessivamente exponencializada pelos algoritmos do mal, precisa ser trocada por um convívio mais cristalino a partir das relações humanas e pessoais, porque todas as gerações são importantes!
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