Dando a cara ao diálogo
- Por Melissa Lulio
- 3 min leitura
“Apare os teus sonhos que a vida tem dono e ela vem te cobrar… A vida não era assim.” A letra da canção interpretada por Ivan Lins remete ao período da ditadura militar no Brasil – um período muito duro da história do País e, com certeza, mais doloroso do que os dias de hoje. Apesar disso, é possível perceber atualmente – nos rostos, nas conversas e nos desabafos Brasil afora – que, apesar de vivermos em um País com uma condição de vida muito melhor do que aquele em que viveram os nossos avós, estamos exaustos, desanimados e frustrados. “A gente não era assim…”.
Durante quase dois anos, uma grande parte da população teve a oportunidade de aderir ao distanciamento social imposto durante a pandemia, adaptando-se ao modelo de home office. O tempo passou e, hoje, a COVID-19 é quase que uma lembrança – a vacina venceu, depois de uma longa e tortuosa batalha. Mas e as sequelas?
Muito ainda está em processo de descoberta, mas já ouso ter uma certeza: muitos de nós esqueceram como é que se conversa, de fato. As telas, mais do que nunca, passaram a ser utilizadas como instrumento para dizer o que, pessoalmente, falta coragem para verbalizar. Como consequência, estamos ainda mais intolerantes e polarizados – tendência que já vinha ganhando consistência antes mesmo da pandemia. Isso pode ser percebido nas relações pessoais, mas também a partir de dados que demonstram a forma como o brasileiro recorre à Justiça: a frequência é absurda; os motivos, muitas vezes, são quase banais.
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O brasileiro cordial revela uma face assustadora quando aciona a Justiça com tamanha voracidade. No entanto, lotar os Tribunais com processos apenas abre espaço para a criação de mais cargos públicos (nos Tribunais e afins) e para a ampliação de uma categoria que já é inchada: a de advogados.
Como solução, surgem metodologias e tecnologias que facilitam o entendimento de cada situação, ajudam a desatar nós complexos e fornecem dados que apontam onde há falha na empresa, onde o consumidor carece de razão e onde há oportunismo fútil. Mas será que basta ter a solução? Eu acredito que não. O primeiro passo para a consolidação de um ambiente pacífico é a vontade de querer construí-lo.
O ser humano, como animal social, depende do outro. Por isso, é fundamental ouvi-lo – ainda que não concordemos sempre. Isso vale para as relações com amigos, “crushes”, clientes, colegas de trabalho, familiares etc. A opção de viver sozinho não está disponível. Resta, então, torcer para que, depois de muito “não correr o risco de ficar alegre pra nunca chorar”, possamos “abrir alas” para a folia, superando traumas (conscientes ou não), abrindo mão de inseguranças e dando a cara a tapas – ou ao diálogo.
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