Menos dados, mais intuição e criatividade
- Por Roberto Meir
- 5 min leitura
Nos últimos anos, dados tornaram-se o mantra da vez, o novo oráculo, capaz de revelar todas as respostas e soluções para problemas que enfrentamos. Não obstante, nessa busca incessante por informações, perdemos algo valioso: a intuição e a criatividade. Somos manipulados por algoritmos enviesados que nos direcionam e limitam nossas perspectivas. É fundamental refletir sobre essa situação e resgatar nossa capacidade de pensar por nós mesmos.
Os dados são, indiscutivelmente, uma parte crucial do mundo moderno. Foi dito até mesmo que eles seriam “o novo petróleo” – e, a bem da verdade, a comparação faz sentido, já que dados são apenas commodities, apenas um retrato da realidade, e ganham valor só depois de um verdadeiro refinamento.
Inclusive, se dados fossem por si só valiosos, os analistas de economia e política teriam acertado todas as previsões nos últimos anos, não? Sem interpretação, análise, intuição e ousadia, são apenas uma imagem sem contexto, não são capazes de prever o futuro nem de capturar a complexidade da experiência humana. É difícil lembrar inclusive quando foi a última previsão correta feita por institutos de pesquisa.
Por isso, para fazer com que dados realmente signifiquem alguma coisa, a análise é essencial – não apenas com base em estatística, mas com um olhar já calejado a respeito do tema sobre o qual o analista se debruça. É necessário saber interpretar, contextualizar e extrair insights significativos. Infelizmente, a maioria das pessoas e das empresas não possui tal habilidade. Mergulhados em gráficos, planilhas e métricas, perdemos a capacidade de olhar além dos números e compreender o contexto mais amplo. A interpretação dos dados requer uma mente aberta e curiosa, capaz de fazer conexões e enxergar além do óbvio.
Nesse contexto, surge ainda outra preocupação, ainda maior: o impacto das telas na formação das crianças. Dar um iPhone nas mãos de uma criança é tirar a plenitude da infância, viciá-la em descargas de dopamina constantes, enquanto os pais simplesmente vivem como se não houvesse ali um filho: compenetrada, a criança fica em silêncio. A tela torna-se o mundo todo, distorcendo a noção da realidade que, especialmente no caso dos mais jovens, ainda está em construção.
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A exposição precoce das crianças às redes, aos dados e aos algoritmos altera a forma como elas constroem suas verdades, a maneira como pensam. Constantemente bombardeadas com informações digitais e encorajadas a confiar nos algoritmos para obter respostas e soluções, tornam-se dependentes, perdendo o acesso ao pensamento original e à criatividade. O contato com algoritmos, por sua vez, cria uma bolha de informações que reforça interesses, pontos de vista já existentes e até mesmo preconceitos.
A constante exposição aos dados e à tecnologia pode levar crianças – e até mesmo adultos, por que não? – a perder a capacidade de pensar de forma crítica e independente. A habilidade de questionar, analisar e formar opiniões próprias é essencial para o desenvolvimento de indivíduos pensantes e independentes.
Com isso, a criatividade, habilidade fundamental para a resolução de problemas de maneira inovadora, também está em risco. O foco em dados e na comprovação empírica pode restringir a liberdade de experimentação e de pensamento imaginativo, ou seja, por mais que os dados tenham valor por fornecerem informações valiosas e eventuais insights para a tomada de decisões, é necessário equilibrá-los com a preservação da intuição, da criatividade e do pensamento crítico. Só assim poderemos questionar o status quo e enxergar possibilidades além do que é conhecido.
Somos levados a crer que apenas o que pode ser comprovado é válido, negligenciando, assim, a importância das ideias inovadoras e das intuições que vão além dos limites do conhecido. É preciso desenvolver a capacidade de utilizar os dados simplesmente como ferramentas complementares, sem nunca esquecer a importância da interpretação, sem perder a capacidade de pensar criticamente e de se arriscar.
Em um mundo cada vez mais dominado pelas big techs e pelos algoritmos, é imperativo que cultivemos uma mente ávida por experiências reais, consciente dos vieses presentes nos algoritmos que moldam nossas escolhas e perspectivas. É fundamental preservar nossa capacidade de pensar de forma independente, de questionar e de explorar caminhos não convencionais e lembrar que a capacidade de pensar livremente é um tesouro inestimável que deve ser valorizado e preservado.
E é claro que tudo isso vale também para a experiência desenhada para o consumidor. As empresas estão inundadas de dados, mas a frieza dos números não é capaz de captar a complexidade das emoções humanas. Ao confiar apenas nos dados, corremos o risco de perder a essência do relacionamento.
Para realmente conhecer o cliente, é necessário colocar-se em seu lugar, “vestir o sapato dele”, compreender os gargalos que surgem na interação automatizada e desprovida de uma conexão genuína. É necessário compreender como o cliente se sente, quais são suas expectativas, frustrações e aspirações, transcender a abordagem impessoal, trazer à tona a empatia e a compreensão dos desejos e das necessidades.
Só assim as empresas poderão, de fato, entender os sentimentos do cliente em bons e maus momentos. Mergulhando nas experiências que o consumidor vivencia ao interagir com a marca, pode-se provocar sensações marcantes e conexões duradouras. Essa é uma aposta que compensa mais do que os dados podem provar, afinal, o valor do cliente é incalculável – e insubstituível.
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