Está na hora de o Brasil reaprender a dialogar
- Por Roberto Meir
- 6 min leitura
O Brasil é conhecido por sua cultura hospitaleira, sua paixão pelo futebol, sua diversidade cultural e sua riqueza natural. Infelizmente, também é conhecido por sua burocracia disfuncional e pelo Custo Brasil – decorrente da ineficiência do Estado, de altos impostos e do nível colossal de litígio. O custo médio de um processo judicial no Brasil é de cerca de R$ 3 mil, e isso apenas na fase de proposição inicial. Somos o País com o maior número de processos em tramitação no mundo, com quase 80 milhões deles em andamento – só em 2023, foram registrados 3,5 milhões de novos processos na Justiça. Para se ter ideia do que isso representa, basta saber que a Índia – com uma população sete vezes maior do que a brasileira – tem 30 milhões de processos em andamento.
O custo do litígio no Brasil é um problema antiBrasil: prejudica a economia, a sociedade e as relações interpessoais. Implica em altos custos para as empresas, que muitas vezes precisam arcar com altas despesas legais e indenizações. O resultado é previsível: os custos acabam sendo repassados para os consumidores, que acabam pagando mais caro por produtos e serviços. É dinheiro precioso que deixa de movimentar a economia e inibe o consumo e o investimento.
É importante adotar a linha da arbitragem, da mediação, da harmonização e do diálogo para reduzir o custo do litígio no Brasil. Esses são métodos alternativos de resolução de conflitos, fundamentais para o desenvolvimento de uma sociedade mais justa e harmoniosa, potente em uma cultura de conciliação pré-processual.
A cultura do litígio reflete um País imerso em um cenário de desigualdade social e concentração de poder e gera impactos em diversas esferas da vida social, incluindo as relações interpessoais. Um exemplo disso pode ser observado na conhecida frase “Você sabe com quem está falando?”, expressão utilizada por pessoas que se sentem superiores às outras e que acreditam ter o direito de serem tratadas de forma especial, sem se importarem com o respeito e a consideração que deveriam ter por todos os indivíduos, independentemente da posição social.
Essa postura também é percebida em diversas situações cotidianas, como brigas de trânsito, brigas em condomínios e até mesmo em ambientes de trabalho. A falta de respeito e de empatia com o outro é evidente, o que acaba gerando conflitos e aumentando a violência. Esse cenário foi agravado pelo comportamento nas redes sociais – incentivado pelas chamadas Big Techs, empresas que dominam o mercado de tecnologia e internet.
Essas empresas têm uma enorme influência sobre o comportamento das pessoas nas redes sociais e, muitas vezes, acabam incentivando a polarização e a disseminação de informações falsas. Os algoritmos usados por elas levam em conta o histórico de navegação e as interações do usuário na rede, selecionando conteúdos semelhantes aos que já foram visualizados e curtidos.
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O resultado disso é que as pessoas acabam vivendo em bolhas, em que apenas visualizam conteúdos que reforçam suas opiniões e visões de mundo. Isso cria um ambiente propício para a polarização e a disseminação de informações falsas, pois as pessoas tendem a acreditar apenas naquilo que já está alinhado às suas crenças.
Essa situação é preocupante, pois acaba gerando um clima de desconfiança e hostilidade entre os indivíduos, além de prejudicar o debate público e a construção de consensos. A partir dessa postura – e por trás da segurança de suas telas –, pessoas têm a ousadia de cancelar o outro, ao mesmo tempo em que só consideram dignos aqueles conteúdos ou pessoas que pensam, agem e postam o que está de acordo com suas visões de mundo.
Enquanto houver incentivo a “curtir” ou “descurtir” posts e conteúdos haverá discórdia. Essa é a semente dos conflitos dos dias de hoje, que precisa ser combatida, pois contribui, inclusive, com o aumento do custo do litígio no Brasil: o ambiente de conflito comum nas redes sociais tende a ser levado para a vida real.
Por isso, é fundamental que os usuários tenham acesso a uma diversidade de pontos de vista e informações, para que possam formar suas próprias opiniões e visões de mundo de forma crítica e informada. Para isso, plataformas de rede social têm de criar mecanismos para estimular a diversidade de conteúdo e promover o diálogo entre os usuários.
É importante destacar que esse fenômeno não é exclusivo do Brasil. Em todo o mundo, as Big Techs têm sido alvo de críticas por seu papel na disseminação de informações falsas e na polarização da sociedade. Além disso, é fundamental que a sociedade, como um todo, se conscientize sobre os efeitos nocivos da polarização. É preciso buscar um diálogo construtivo, que leve em conta os interesses de todas as partes envolvidas e promova o respeito às opiniões divergentes.
Por fim, é importante lembrar que a resolução pacífica de conflitos é fundamental para a construção de uma sociedade justa e harmoniosa.
É necessário buscar soluções que levem em conta os interesses de todas as partes envolvidas e promovam o diálogo e a conciliação como forma de reduzir o custo do litígio no Brasil. Mais do que isso, é importante resgatar um princípio elementar da cidadania, qual seja, a convivência e a tolerância com o contraditório. Esse é o caminho para promover crescimento, com mais igualdade de oportunidades a partir da harmonia nas relações de consumo.
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