Acima das diferenças, o respeito
- Por Roberto Meir
- 5 min leitura
Respeito é um atributo indispensável para as relações humanas – seja entre amigos, cônjuges, pais e filhos e colegas de trabalho, seja entre empresas e clientes. É o respeito, inclusive, que norteia as relações dentro de uma empresa produtiva e com potencial para crescer exponencialmente.
Sem que haja respeito, é impossível dar vazão a outros sentimentos positivos, como a empatia – que é quase uma buzzword nos dias de hoje. É preciso conhecer, de fato, a outra pessoa com quem se relaciona, em qualquer âmbito da vida: Como ela é? Quais problemas enfrenta? Quais são suas necessidades e expectativas? Estar aberto às pos-
síveis respostas para estas perguntas pressupõe, sobretudo, abrir mão das próprias verdades para praticar a escuta ativa, sem julgamentos.
Porém, diante da polarização e da radicalização das opiniões – cenário vivido hoje em todos os cantos do mundo –, a convivência entre pessoas tornou-se praticamente incivilizada. Tornou-se comum invalidar o pensamento do outro apenas por ser diferente. Mas será que a culpa é realmente da polarização? Ouso dizer que não. Sempre houve a rivalidade entre Corinthians e Palmeiras, entre Fluminense e Flamengo, mas, salvo em alguns casos pontuais, isso nunca foi motivo para separações e discórdias incontornáveis.
O exemplo do futebol ajuda a entender como nos tornamos intolerantes, mas sabemos que este não é o único assunto que provoca uma drástica exaltação de ânimos. A bem da verdade, quase todo assunto é capaz de provocar discussões homéricas. E como chegamos a esse ponto?
A resposta é mais simples do que pode parecer. Quem conhece o modelo de negócio das Big Techs – seja por utilizá-las, seja por estudá-las – sabe que, principalmente no caso das redes sociais, existe um incentivo à discussão e a discórdia. Na linguagem dessas plataformas, ironicamente, tais discussões podem ser interpretadas como uma forma de engajamento: se aconteceu uma briga nos comentários do seu post, parabéns, você mostrou ser relevante para os algoritmos.
Ainda que as empresas de tecnologia tenham surgido para facilitar a vida de alguma forma, o crescimento meteórico fez com que elas se tornassem mais fortes do que as leis de um País. Basicamente, as Big Techs acabam influenciando todas as conversas, porque sabem, a partir dos dados, o que é capaz de gerar amor, ódio, tristeza, alegria, angústia, vergonha etc. As Big Techs podem, inclusive, antever uma queda de valor ou o crescimento de uma empresa, apenas por observarem os burburinhos que começam dentro das plataformas.
SEM QUE HAJA RESPEITO, É IMPOSSÍVEL DAR VAZÃO A OUTROS SENTIMENTOS POSITIVOS, COMO A EMPATIA – QUE É QUASE UMA BUZZWORD NOS DIAS DE HOJE. É PRECISO CONHECER, DE FATO, A OUTRA PESSOA COM QUEM SE RELACIONA, EM QUALQUER ÂMBITO DA VIDA
Logo que o Facebook começou a crescer, difundiu-se uma máxima fundamental para os dias de hoje: “quando o serviço é de graça, o produto é você” – no caso, os seus dados. E ainda que as leis mundo afora tenham sido adaptadas para combater, ao menos um pouco, a extrema influência das organizações sobre as informações sensíveis dos consumidores, as tais Big Techs seguem fazendo tudo e mais um pouco com a saúde mental e o tempo das pessoas, resultando em uma multidão de pessoas – principalmente jovens – obcecados por seus smartphones e desligados da vida real.
Viciados na dopamina liberada no cérebro a cada novo estímulo provocado pelas telas, os jovens têm cada vez mais dificuldade para lidar com frustrações e correm o risco de recorrer às drogas para buscar mais e mais prazer (uma vez que a tela deixa de ser suficiente, conforme a vida se torna naturalmente mais complexa). Além disso, perdem-se as verdadeiras referências e os princípios, uma vez que o sinônimo de sucesso é uma conta no TikTok com milhões de seguidores – e não importa como chegar lá; o importante é ter aprovação e, mais uma vez, liberação de dopamina.
A verdade é que nunca mais viveremos a dádiva de ter debates saudáveis, com diferentes pontos de vista, apreciando o momento e o simples fato de existir entre amigos, familiares ou colegas de trabalho. O medo de encarar as diferenças é tanto que, mesmo entre pessoas próximas, muitas vezes vence a opção de rolar a tela do celular e consumir apenas aquilo que a bolha em que estamos inseridos nos oferece. Perdeu-se a capacidade de discordar, debater e conhecer os mais variados pontos de vista a respeito de uma situação. Com isso, foi-se a possibilidade de construir ambientes propícios ao crescimento, com harmonia e fraternidade e, é claro, respeito.
Ainda assim, deve-se seguir tentando lembrar e acreditar que é preciso ter inteligência emocional para aceitar, inclusive, pessoas que estão no polo contrário do nosso campo de opiniões. Ao mesmo tempo, vale encarar o desafio de ver o mundo do lado de fora da tela: voltar a ter experiências de fato sensoriais para, então, ser capaz de reconhecer a si mesmo e, é claro, reconhecer o outro. Isso feito, teremos chegado um pouco mais perto do verdadeiro sentimento de respeito.
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