Dar o destino correto ao que descartamos parece uma ação simples. Por outro lado, criar uma cadeia sistêmica para que isso ocorra é um obstáculo a ser vencido. Estima-se que cada brasileiro produza 1,02 kg de lixo por dia, o que significa que toda a população descarta 208 mil toneladas diariamente.
De acordo com o Ministério do Meio Ambiente, 58% desse material é coletado, mas apenas 13% do que é recolhido vai para a reciclagem. A solução exige conscientizar a população e desenvolver a coleta seletiva efetiva nas cidades, o que promete reflexos positivos para a natureza e também sob o ponto de vista econômico.
Na opinião do presidente do Conselho de Sustentabilidade da FecomercioSP, professor José Goldemberg, só haverá resultados com a intensificação da coleta seletiva nos municípios que já dispõem do serviço, bem como criação do recurso nas cidades que não o possuem.
Para se ter ideia da gravidade do problema, em São Paulo, a cidade mais populosa do Brasil, apenas 3% das 12,5 mil toneladas de material diárias têm como destino a reciclagem. ?A situação é delicada. Há cidades que nem têm aterro sanitário, ou seja, estão na dura realidade dos lixões, o que é uma questão de saúde pública?, ressaltou o professor, que ainda mencionou a ausência do hábito de separar materiais recicláveis nos lares como um fator cultural a ser mudado.
Segundo William Paneque, fundador do Instituto Recicla Cidadão ? que destina mensalmente 15 toneladas de materiais recebidos em seu ecoponto a uma cooperativa de reciclagem na Grande São Paulo ?, o poder público precisa agir. ?Somente as cooperativas e os catadores não conseguirão cumprir essa missão em prol do meio ambiente?, disse Paneque.
Ele lamenta a redução da quantidade de materiais recebidos pelo instituto, que até 2012 chegava a atingir 220 toneladas por mês, porém, sem ajuda dos governos, precisou minimizar a estrutura. Com o corte os funcionários que trabalhavam na separação dos materiais foram dispensados ? mais de 300, entre os quais havia moradores de rua, passaram pelo Recicla Cidadão -, o que significa um impacto negativo no mercado de trabalho e, consequentemente, na economia local.
Custo começa a ser revisto
O alto custo demandado pela coleta seletiva sempre foi o primeiro empecilho para que governos efetivassem o sistema nas cidades brasileiras. A visão, porém, tem se modificado. ?Aterros sanitários também são caríssimos. Assim, a coleta não só é uma necessidade ambiental, mas também passa a compensar economicamente?, comentou o professor Goldemberg.
Segundo levantamento da Fundação Getúlio Vargas (FGV), atualizada pelo Índice Nacional de Custo da Construção (INCC), a implantação de um aterro pequeno custa R$ 5,2 milhões.
Goldemberg se mostra otimista e diz considerar que nos próximos dez anos ocorra uma mudança considerável, com exceção das cidades com cenário mais crítico.
Projetos focados na sustentabilidade, como os de reciclagem e de coleta seletiva, podem concorrer ao 5º Prêmio Fecomercio de Sustentabilidade. As inscrições estão abertas podem ser feitas aqui.
Fonte: Fecomercio.