O Vale do Silício criou uma aura de criatividade e de celeiro de pessoas incríveis, criativas e geniais. Mas esse mito esconde em larga medida traços de personalidade que podem ser entendidos como típicos de psicopatas.
O painel “Psicopatas do Vale do Silício: um guia”, no SXSW trouxe Bryan Stolle, empreendedor e executivo de diversas empresas no Vale, como a Agile Software, Jeff Hancock, Professor de Comunicação de Stanford, Kate Niederhoffer, expert em psicologia de negócios e fundadora da Knowable Research e Michael Woodworth, psicólogo e humanista, especialista em terapia cognitiva-comportamental.
A ideia do painel é dar instrumentos sobre como reconhecer se estamos trabalhando com psicopatas e como lidar com eles, sejam líderes ou colegas para evitar que a vida profissional seja infernal.
Como identificar e quais as características de um psicopata no trabalho? Segundo Michael, essa pessoa tem déficits sociais, e comportamentais, mas ausência de freios morais. Para Hancock, eles mentem para manipular, não necessariamente conseguem dizer por que mentem. Stolle diz que o psicopata tem um ego enorme, e no trabalho você tem que sacrificar o casamento, a família e os amigos para trabalhar com pessoas assim. E a dificuldade é que os psicopatas costumam ser convincentes e o estimulam a renunciar a tudo para construir empresas que não pertencem a você, mas a eles.
Sociopatas e outros perturbados
Na população geral, cerca de 0,6% são psicopatas. É provável que você tenhamos, no seu trabalho, se ela tiver mais de 100 pessoas. Em uma prisão, a título de comparação, são de 20 a 25% de psicopatas. Nas empresas, o número atinge 1%, mas nos escalões superiores atinge 8%! Ou seja, 8 em cada 100 executivos podem ser diagnosticados como psicopatas. Você pode trabalhar com um e não percebeu… Ou sofre e não entende porquê.
Jeff Hancock diz que o Vale do Silício é um ambiente propício para comportamentos sociopatas. O déficit emocional, baseado na ansiedade, é expresso nas redes sociais e nos e-mails corporativos. A linguagem é muito agressiva e esses profissionais têm enorme dificuldade de compreender o que as pessoas falam. A linguagem hostil reflete dificuldade de compreender as pessoas. Em geral temos de moderar a maneira de nos comunicarmos nos diferentes tipos de mídia. Mas psicopatas gostam de tornar sua raiva pública. Os traços preliminares do comportamento agressivo podem ser identificamos já aos 12 anos. Por isso, é bom ficar de olho nas crianças…
“É inacreditável perceber como um psicopata é confiante em suas próprias habilidades e despreza as demais. Ele se considera uma pessoa extraordinária”. Michael trabalhou com muitos deles, assassinos seriais inclusive e disse que é impressionante como eles falam sobre seus feitos repetidamente em detalhes. Eles não se interessam por questões que afligem as pessoas, suas necessidades básicas – sexo, dinheiro, afeto, amor.
Eu, eu mesmo e ninguém mais
“Os psicopatas são profundamente interessados em si mesmos” comentou Hancock. Brian Stolle diz que essa personalidade pode ser adorável num minuto é completamente irascível um momento depois. Travis Kalanick, CEO do Uber, em sua explosão de alguns dias atrás, pode ser uma personalidade desse calibre. Muitas vezes os empregados tentam agir continuamente de modo racional com um líder ou colega psicopata, mas a forma pela qual ele interage é irracional.
“Em uma organização, psicopatas podem realizar trabalhos brilhantes, o que dificulta a compreensão de como são realmente”, destacou Michael Woodworth. Muitas empresas veem esses profissionais como pessoas que resolvem problemas e são valorizados por isso, supostamente porque antecipam problemas. É sempre preferível lidar com o psicopata por meio de texto e não face a face. Normalmente, ele performa bem usando o texto, revelando sua fragilidade e negatividade no texto.
A comunicação por texto é considerada um escudo para o psicopata. Ele não tem habilidade para redigir e ser persuasivo escrevendo. Em uma sociedade na qual pós-verdade é polarização são características, é possível descobrir traços de psicopatas justamente nas interações por texto.
Brian Stolle diz que há algum tempo manteve contato com um CEO provavelmente psicopata. Ele diz que valores sólidos em uma organização podem ajudar a criar escudos e proteções contra os efeitos de um psicopata. Kate questiona qual a dificuldade de reconhecer quando se está sendo manipulado e como reagir ao charme que uma personalidade psicopata transpira no contato pessoal. Nunca é fácil, justamente pela simpatia natural que uma pessoa com essa característica exibe.
No Vale do Silício, nas empresas de tecnologia, a presença de psicopatas é particularmente intensa, justamente pela natureza da atividades das empresas ali instaladas e de formas de comunicação não presenciais, que exacerbam o comportamento negativo. Até que ponto essas empresas em particular e outras em geral, conseguem estabelecer os limites nos quais carisma, simpatia e competência não se confunda, com hostilidade, brutalidade e negatividade?
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