“Não segui as correntes. Não seguir à direita ou à esquerda. Preferi o caminho do pragmatismo, pensando na racionalidade econômica e também em políticas sociais.” Dessa forma, Juan Manuel Santos, presidente da Colômbia e personalidade laureada com o Prêmio Nobel, definiu a sua visão política para Jack Leslie, chairman da Weber Shandwick, em uma conversa no Cannes Lions. O presidente que debelou a Guerra Civil em seu país por meio de um celebrado e corajoso acordo de paz com as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC) interrompeu uma visita oficial à França, onde reuniu-se com o presidente eleito Emmanuel Macron, para participar do Cannes Lions.
Mas o que o presidente de uma nação emergente teria a dizer para uma plateia composta de profissionais de marketing e da economia criativa? O propósito foi mostrar como uma visão pragmática da política, de um político eleito e reeleito e firmemente voltado para pacificar um país conflagrado por uma guerrilha há décadas, usou a comunicação e a crença inabalável em princípios para sensibilizar a população e mobilizar formadores e opinião.
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Juan Manuel Santos contou que guarda elementos comuns com a trajetória de Emmanuel Macron. Ambos criaram partidos novos, ambos responderam por ministérios importantes de líderes tradicionais em seus países e ambos acreditam que o populismo precisa ser combatido com vigor, são “centristas radicais”. Para o presidente colombiano, o populismo encontra terreno fértil quando o sentimento de frustração toma a maior parte da população: “Nós precisamos resgatar a esperança e trabalhar pelo progresso das pessoas, pensar nisso. O mundo precisa de líderes assim”.
Perseverança e criatividade são essenciais para conquistar o apoio da população, e demonstrar sensibilidade para criar políticas públicas que reduzam a pobreza sem abrir mão da racionalidade econômica são deveres dos governantes. Mas o grande propósito da vida de Juan Manuel Santos foi pacificar a Colômbia, criando condições para um acordo de paz com os guerrilheiros das FARC. “Atingir a paz é muito mais difícil do que fazer a guerra. É preciso ser perseverante”, destaca o líder. Santos diz que a negação da paz se faz pelo medo: “é estranho, mas todo o discurso contra a busca da paz é baseado em fazer as pessoas sentirem medo, como se a paz em si fosse pior do que a guerra”.
A paz tão almejada pela liderança colombiana sofreu um revés quando o plebiscito convocado para referendar o acordo de paz do governo com as FARC foi derrotado por menos de 1%. O presidente perguntou ao chefe da campanha contrária ao acordo, qual foi a estratégia utilizada. A resposta, simples e direta foi: “Nós mentimos. Apenas isso. Mentimos”. A mentira, a mesma que motivou fenômenos como o Brexit e a eleição de Donald Trump, fez do medo a plataforma para motivar e engajar eleitores a votarem contra princípios universais de tolerância, integração e paz. Felizmente, o presidente Juan Manuel Santos não se rendeu ao populismo e efetivou o acordo em dezembro do ano passado.
O exemplo de perseverança dado pelo presidente colombiano talvez derive de sua origem: após servir à marinha colombiana como cadete em Cartagena, Santos estudou jornalismo na Universidade de Kansas, fez pós-graduação em Harvard, ajudou a criar o Partido da Unidade Social em 2005 (que levou Álvaro Uribe à presidência e Santos ao governo) e é membro de uma família influente na Colômbia, que foi proprietária do Jornal El Tiempo, onde trabalhou. Santos diz que o jornalismo traz influência, mas a mudança real só acontece com o poder. E o poder de transformar situações para melhor está na política. Uma referência positiva para nós, brasileiros, tão fustigados e descrentes estamos de nossa classe política.
Perseverança e firmeza de princípios são bons antídotos contra os males do populismo.