Bruxelas recebeu a 68a Assembleia da Organização Mundial da Saúde (OMS) na qual delegados dos países reunidos aprovaram uma resolução que chama a atenção para as graves consequências da poluição atmosférica para a saúde pública e a economia, especialmente nos países mais pobres. Os números são alarmantes: cerca de 3,7 milhões de mortes são atribuídas à contaminação lançada ao ar livre, enquanto 4,3 milhões de mortes são resultantes de contaminação de ambientes mal ventilados.
O documento faz uma chamada à OMS para fortalecer sua capacidade e para os países redobrarem seus esforços de redução dos impactos da poluição do ar. A Resolução também reconhece a relação complexa entre a melhoria da qualidade do ar e a redução das emissões de gases que causam as mudanças climáticas.
No Brasil, um estudo feito por pesquisadores da Universidade de São Paulo para o Instituto Saúde e Cidadania mostra que a poluição atmosférica será a causa de 250.000 mortes nos próximos 15 anos, 25% delas somente na cidade de São Paulo. A concentração de material particulado no ar é proveniente em 90% de veículos motorizados e vai levar 1 milhão de pessoas a se hospitalizarem, causando gastos públicos na casa de R$ 1,5 bilhão.
No Rio de Janeiro, os números são igualmente ruins. A mortalidade atribuída à poluição do ar no período entre 2006 e 2012 ficou em 31.194 mortes. Já as internações alcançaram 65.102 na rede pública de saúde. Como resultado, houve um gasto público na ordem de R$ 82 milhões em internações que poderiam ter sido evitadas caso os níveis de poluição não fosse tão altos.
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Em outros países em desenvolvimento os números são ainda piores. Índia e China disputam o título de países com maiores níveis de poluição atmosférica no mundo. Um estudo da OMS indicou que a Índia sozinha tem 13 das 20 cidades mais poluídas do mundo. Outro estudo, da Universidade de Chicago, mostrou que os 660 milhões de indianos mais expostos à contaminação atmosférica poderiam viver três anos mais se o ar que respiram atendesse pelo menos aos padrões nacionais.
A combustão de diesel e carvão estão entre as principais causas da contaminação do ar. O transporte motorizado, por sua vez, corresponde a cerca de metade das mortes prematuras causadas pela emissão no ar de material particulado ambiental nos países da OCDE. A energia proveniente da queima de carvão é uma das principais fontes de dióxido de carbono, o principal gás de efeito de estufa responsável pelas alterações climáticas.
?A resolução da OMS chega em um momento crucial para a humanidade e é importante para chamar a atenção do público e dos governos para a necessidade imperiosa de combater as causas da poluição atmosférica conjugada com os esforços para evitar as mudanças climáticas?, diz a Dra. Mariana Veras, Pesquisadora do Laboratório de Poluição Atmosférica Experimental da USP. ?Trata-se de salvar milhões de vidas que se perdem prematuramente por doenças que poderiam ser evitadas facilmente e, ao mesmo tempo, evitar o enorme impacto econômico que afeta todos os países, mas particularmente os mais pobres”.
O físico e especialista em energia, Delcio Rodrigues, explica que vários dos elementos causadores da poluição atmosférica são os mesmos que provocam as mudanças climáticas, como por exemplo o CO2 e outros gases de efeito estufa emitidos pelo uso de combustíveis fósseis. Ele chama a atenção para o fato de que são os mais pobres, tanto nos países desenvolvidos como naqueles em vias de desenvolvimento, que sofrem mais os efeitos da poluição.
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?Nos países mais pobres, inclusive, as doenças e mortes causadas pela poluição atmosférica estão já tão difundidas que acabam afetando a todas as classes sociais?, destaca Delcio. ?Contribui para isso o temor de muitos governos de elevar os custos de monitoramento da qualidade do ar e de implantação de medidas de contenção e a falta de vontade política de tomar as medidas necessárias para impedir esta catástrofe?.
A própria OMS destaca o fato de que são necessárias medidas integradas em todos os níveis de governo, do local ao nacional, além de definições e acordos no âmbito internacional. Cortar as emissões do transporte urbano, por exemplo, vai envolver prefeitos, planejadores locais e políticas nacionais trabalhando coordenadamente para investir em fontes de energia renováveis e que ao mesmo tempo tenham baixa emissão de poluentes.
?Está nas mãos dos governos, em seus diversos níveis, tomar as ações necessárias para salvaguardar a vida de seus cidadãos, evitando custos hospitalares e mortes desnecessárias que, além de causar sofrimento, comprometem o futuro dos países e comunidades?, diz Delcio Rodrigues. ?A OMS tem padrões claros para a emissão de partículas causadoras de poluição do ar, que não são seguidas por muitos países e cidades tanto nos países em desenvolvimento, como nos ricos?.
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Os países têm este ano a oportunidade de partir para a ação e proteger a vida e o futuro de seus cidadãos na medida em que as Nações Unidas finalizam, em setembro, os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável e o mundo se prepara para a Conferência do Clima, em Paris, no fim do ano. No âmbito nacional esta conjuntura abre também a porta para conversas e decisões sobre soluções concretas e relevantes para a vida das cidades e comunidades, como um planejamento urbano mais verde, uso de energia mais limpa, códigos que estimulem construções mais eficientes e seguras, entre outras medidas urgentes e necessárias.
Fonte: Assessoria de Imprensa.