Com a pandemia, a crise econômica brasileira foi ainda mais agravada. E a consequência disso reflete ativamente nos consumidores, visto que uma parte teve a renda prejudicada ou mesmo perdeu o emprego.
De acordo com os dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a taxa de desemprego fechou, no último trimestre de 2020, em 14,1% — o que implica em mais de 14 milhões de desempregados no país. Para esse trimestre, a taxa foi a mais alta desde o início da série histórica da pesquisa, em 2012.
E com todos esses acontecimentos, a economia brasileira encontra percalços. Isso passa a afetar todo o varejo e também a mudar os hábitos do consumidor, que se vê em um cenário no qual a renda é reduzida. É o que mostra uma pesquisa do Núcleo de Inteligência e Pesquisas da Escola de Proteção e Defesa do Consumidor do Procon-SP, que analisou a situação econômica de mais de cinco mil pessoas.
Motivos da baixa renda
O estudo revela que 69,76% dos entrevistados registraram uma queda na renda individual desde o começo da pandemia, algo que persistiu no primeiro trimestre de 2021. 23,93% das pessoas mantiveram a renda inalterada durante o isolamento social, sem muitas mudanças e apenas 6,31% das pessoas registraram um aumento de renda.
Para os que tiveram a renda diminuída durante a pandemia, os motivos variam, mas estão quase todos atrelados à pandemia. 40,45% dos entrevistados afirmaram que a redução foi motivada pela paralisação parcial ou total das atividades autônomas ou empresariais, 23,33% tiveram redução salarial e 19,32% foram demitidos. Além dessas taxas, 16,89% das pessoas também informaram baixa renda individual devido à redistribuição da renda entre a família, motivadas tanto pelo desemprego de um dos familiares ou mesmo a morte em decorrência do vírus.
Outro dado que surpreende é a necessidade dessas pessoas para a contribuição familiar econômica dos lares. 39,64% dos entrevistados são responsáveis por toda a renda da família, ao passo que 34,49% são responsáveis pela maior parte dessa renda. Sendo assim, a redução do valor monetário mensal passou a fazer muita diferença dentro da casa desses consumidores.
Dentro dessa porcentagem, apenas 7,13% dos entrevistados têm uma renda de fato pessoal, desvinculada à família.
Ainda que a maior parte dos entrevistados tenha ressaltado uma queda na renda, grande parte de todos os pesquisados (86,88%) destacou um aumento dos gastos pessoais, sobretudo com alimentação. Esse aumento pode ser registrado tanto pelo aumento dos preços dos alimentos, quanto com a maior permanência dentro de casa.
Essa estadia de longa data também foi sentida no bolso dos consumidores pelas atividades da casa. 14,16% sentiram aumentos nas contas de luz, água e gás, relacionadas tanto ao aumento do uso quanto aos aumentos das tarifas, como por exemplo as bandeiras de energia elétrica.
Uma mudança de hábitos
Essa queda na renda da maior parte dos entrevistados também gerou mudanças no consumo dos paulistas. O Procon-SP destacou que 88,86% dos pesquisados tiveram que mudar alguns hábitos para adequar o modo de vida à nova realidade de renda. Essa mudança ficou centrada em redução ou corte de alguns consumos, tais como alimentação, telefonia e internet, contas de consumo e saúde.
Essa redução acaba gerando menos acesso ao varejo como um todo, visto que o foco das reduções gira em torno de recursos fundamentais.
A mudança também se apresentou com o endividamento das famílias, que ficou ainda mais alto durante a pandemia. A pesquisa destacou que mais da metade dos entrevistados possuíam dívidas (55,30%), que aumentaram por causa da pandemia para 88,73% dos endividados.
Entre as dívidas, a maior parte se concentra em cartão de crédito (58,97%), contas de consumo (45,68%) e empréstimos bancários (43,40%).
As consequências da diminuição de renda também terão destaque para os varejistas como um todo, uma vez que os consumidores têm diminuído os gastos. E com a diminuição de parcelas e no valor do auxílio emergencial, essa conjuntura ainda trará desafios para 2021.
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