No último Brazilian Retail Week, congresso realizado pela revista NOVAREJO, entre 27 e 30 de julho, em dado da plenária de encerramento, Caíto Maia, presidente e fundador da Chilli Beans, e Pedro Herz, presidente do Conselho de Administração da Livraria Cultura, levantaram uma divergência de pontos de vista sobre o varejo do futuro. Pedro, exercitando uma visão quase fatalista, defendeu que o varejo do futuro será constituído de show rooms nos quais a transação irá ocorrer e a conveniência irá prevalecer. No seu entender, o varejo movido à tecnologia modificará o conceito de loja como espaço transacional, e será predominantemente um local de serviços. O produto em si será entregue para o cliente onde e quando ele quiser. Em sua perspectiva, a loja será fluida, com a tecnologia criando interação e registrando essa interação com o cliente.
Caíto Maia, ao contrário, foi enfático na defesa do varejo feito de gente. Para ele, a ideia de um varejo frio, impessoal, não faz sentido, ainda mais em um país como o Brasil, com sua cultura mais intimista, onde os relacionamentos e os laços são elementos indissociáveis de nossa maneira de fazer negócios.
Façam suas apostas.
Uma saída fácil seria simplesmente apostar na ?coluna do meio?. O varejo irá conciliar essa capacidade analítica e de conveniência e de ?leitura? das necessidades dos clientes por meio da tecnologia agregando o envolvimento e o calor proporcionados por gente treinada e engajada na prestação de serviços e no fornecimento de informação qualificada. Outra saída fácil seria considerar que ?cada caso é um caso? e que cada rede encontrará o melhor formato para se adaptar a um consumidor em evolução. Daniel Domeneghetti, em outro painel do BR Week, com executivos da Netshoes e O Boticário também buscou oferecer uma visão do futuro do varejo, dessa vez calcado em propósito e engajamento.
O melhor desse exercício, contudo, é justamente entender o quanto é difícil prever, predizer e antecipar o futuro. Retornem aos prognósticos do início do ano e vejam as previsões feitas para o cenário econômico. Todas foram espetacularmente espicaçadas pelo choque de realidade que se impôs sobre as finanças públicas e o imprevisível quadro de pressão e frustração que dominou a opinião pública. Ainda assim, continuamos a fazer negócios, a buscar novas formas de receita, de geração de caixa e a pensar, sim, no futuro.
Por que temos tanta dificuldade em prever o que virá? Por que nos acostumamos a olhar para o futuro imediato e a desprezar o planejamento de longo prazo? Por que não conseguimos ler os dados disponíveis e apontar caminhos possíveis para enfrentar uma realidade onde a única certeza é a mudança?
Nassim Taleb, excêntrico e fabuloso filósofo, misto de oráculo e financista, elaborou a teoria dos ?Cisnes Negros?, na qual um evento imprevisível é caracterizado justamente por ter efeitos desmedidos e que após a sua ocorrência é normalmente visto como previsível. O livro de mesmo nome mostra como todo o modelo mental de nossa civilização foi construído para negar ou ignorar os sinais que possam indicar a ocorrência de um evento imprevisível. Em linha com essa teoria elegante, Richard Tedlow propôs, em ?Miopia Corporativa?, a ideia da negação. Ou seja, como executivos extremamente bem preparados ignoram os sinais de mudança ou de erros de gestão negando as evidências, mesmo as mais claras.
Por isso, olhar para o varejo do futuro pressupõe exercitar o olhar para sinais, evidências, tendências, mudanças sutis de comportamento e de fenômenos econômicos para traçar cenários que possam ajudar empresas a estar preparadas para a mudança.
Mais decisivo do que saber como será o varejo do futuro dentro da loja, será saber ou se preparar para os novos significados deste negócio frente a um consumidor em evolução. Esta crise que vivemos deixará um legado que irá se combinar com tecnologias, culturas, forças econômicas e tendências sociais e comportamentais para demandar um varejo diferente. O varejo do futuro será, com 100% de certeza, diferente. E é bom começar a pensar nisso desde já.
*Jacques Meir é Diretor de Conhecimento e Plataformas de Conteúdo do Grupo Padrão