Os brasileiros estão mudando seus hábitos alimentares. Pesquisas indicam que, nos últimos anos, a procura por uma alimentação saudável – composta por mais alimentos in natura ou minimamente processados – e por alimentos à base de plantas está se acentuando. A busca por uma melhor qualidade de vida e a preocupação com o meio ambiente são os fatores que incentivam hábitos mais saudáveis, sustentáveis e éticos.
De olho nessa mudança de comportamento do consumidor, empresas do ramo alimentício buscam alternativas para inovarem e atenderem às demandas do mercado. Alimentos veganos ou vegetarianos, com menos aditivos químicos e produtos com ingredientes funcionais, com benefícios mentais e emocionais, são algumas tendências do segmento. Entenda a importância deste movimento e o mercado em potencial.
Novos hábitos alimentares: um caminho sem volta
A consciência da importância de uma boa alimentação para a qualidade de vida e manutenção da saúde tem crescido entre os brasileiros nos últimos anos – especialmente entre aqueles com maior escolaridade e poder aquisitivo – e se acentuou durante a pandemia, quando a presença de um novo e ameaçador vírus colocou em destaque a necessidade de uma boa imunidade e reforçou os riscos da má alimentação, responsável por doenças consideradas comorbidade para Covid-19.
De acordo com os primeiros resultados da pesquisa NutriNet Brasil, realizada pelo Núcleo de Pesquisas Epidemiológicas em Nutrição e Saúde (Nupens) da Universidade de São Paulo (USP), que contou com a participação de 10 mil pessoas, de modo geral, o consumo de frutas, hortaliças e feijão apresentou aumento entre janeiro e maio de 2020, passando de 40,2% para 44,6%.
Uma outra pesquisa realizada pelo Hypeness em parceria com a MindMiners, plataforma de pesquisa digital, traz dados ainda mais expressivos: de acordo com o estudo, 57% dos participantes aumentaram o consumo de verduras, legumes e frutas e 48% de sucos naturais; em contrapartida, 30% diminuíram o consumo de açúcares e doces, 25% de carnes vermelhas e 36% de refrigerantes.
Outra mudança nos hábitos alimentares dos brasileiros diz respeito à redução do consumo de carnes e derivados animais, como leite e ovos. Nos últimos anos, mais pessoas vêm adotando uma dieta vegana ou vegetariana considerando o impacto ambiental negativo da pecuária e também como forma de proteção aos animais.
Os reflexos desta mudança aparecem em uma pesquisa realizada pelo IBOPE Inteligência, encomendada pela Sociedade Vegetariana Brasileira (SBV), que aponta que, em abril de 2018, 14% da população se declarava vegetariana, número que corresponde a cerca de 30 milhões de brasileiros e significa um aumento de 75% em relação a 2012, quando a mesma pesquisa foi realizada.
Apesar de não ter nenhum documento mais recente com dados sobre o tema, é possível acreditar que essa tendência se mantém em ascenção, já que dados do Google Trends mostram que o crescimento no volume de buscas pelo tema tem aumentado de duas a três vezes a cada ano.
Alimentos à base de planta ganham espaço e conquistam consumidores
Para as empresas do setor alimentício, os novos hábitos alimentares dos brasileiros representam, ao mesmo tempo, boas oportunidades e grandes desafios. Se por um lado é possível ampliar o leque de atuação e conquistar novos clientes, por outro, é necessário pensar em produtos inovadores, mais sustentáveis e capazes de atender aos anseios de consumidores cada vez mais conscientes e exigentes.
“A busca por entender as transformações na sociedade é constante. Até 2050 teremos mais 2.8 bilhões de pessoas no mundo e o consumo de proteínas aumentará cerca de 70%. As proteínas alternativas – como as que são à base de plantas – também são importantes para que a gente consiga atender à demanda crescente pelo alimento no mundo”, explica Rafael Palmer, diretor de marketing da Seara.
Diante deste cenário e de olho nesta fatia do mercado em plena expansão, a Seara lançou em 2019 a linha Incrível, com produtos feitos 100% de vegetais. A criação foi desenvolvida por um hub de inovação da empresa focado em meatless e precisou de dois anos de estudos para ficar pronta.
“A ‘biomolécula i’ é uma criação inédita no Brasil e foi desenvolvida pelo Incrível Lab, um laboratório de inovação criado para impulsionar a Seara rumo ao futuro da alimentação, oferecendo a capacidade de acompanhar as foodtechs mais avançadas do mundo. A ‘biomolécula i’ possibilitou transmitir o sabor e textura de carne para o produto plant based”, explica Rafael Palmer.
De lá para cá, a empresa notou crescimento no consumo dos produtos da linha e, inclusive, agregou novos itens ao portfólio.
“A Linha Incrível atende às demandas dos consumidores que buscam por alternativas ao consumo de proteína animal, mas que não abrem mão de seu sabor. Os produtos 100% vegetais, sem carne nem derivados de ovo e leite, foram criados especialmente para surpreender quem parou de consumir ou diminuiu o consumo de proteína animal, sendo perfeitos para curiosos ou flexitarianos, que são pessoas que priorizam o consumo vegetal, mas não excluem totalmente o consumo de proteína animal”, explica o diretor de marketing da Seara.
Produtos funcionais e que tragam ‘valor com valores’ são promissores
Produtos que tragam benefícios mentais e emocionais, que ajudem a focar, relaxar e prevenir preocupações emocionais ou de saúde devem integrar o rol de preferências dos consumidores nos próximos anos e, com isso, ganhar mais espaço nas gôndolas dos supermercados. É o que aponta o relatório Tendências Globais de Alimentos e Bebidas 2021 da Mintel, empresa global de pesquisas e insights de mercado.
De acordo com o documento, “fórmulas funcionais e produtos que engajam emocionalmente vão ajudar as marcas de alimentos, bebidas e serviços a representarem uma grande fatia no meio de vastas opções do gênero”.
Outra tendência prevista pelo relatório é que, nos próximos anos, mais marcas vão se posicionar como opções conscientes em relação à saúde, bem-estar e valores éticos, inclusive relacionados ao meio ambiente.
“Marcas e lojas têm a oportunidade de lançar produtos com preço apropriado e posicionamentos éticos e ambientais, chamados de ‘valor com valores’. Um compromisso importante será criar produtos nutritivos e acessíveis que vão expandir o acesso à alimentação saudável”, destaca o relatório.
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