Ele é membro fundador e baterista de uma das bandas de rock mais incontidas e amadas do mundo. Falamos de Lars Ulrich, que foi ao SXSW 2025 para conversar com Zane Lowe, diretor global de criação da Apple Music. Às vésperas da nova fase da M72 World Tour e de um projeto especial com a Apple, Ulrich compartilha como a banda tem usado tecnologia de ponta para transformar suas performances e estreitar laços com os fãs de maneira inédita.
O Metallica sempre esteve na vanguarda da inovação musical. E o painel revelou os bastidores de como a banda vai integrar novas ferramentas para criar experiências imersivas que quebrem a tradicional barreira entre artista e público. Do palco para a tela, do estúdio para o streaming, o painel investigou a dinâmica da música ao vivo e o futuro da conexão entre bandas e seus seguidores.
Lars tem rock no DNA. Desde os seus 10 anos, frequenta shows, levado e incentivado pelo seu pai. Antes de ser um músico, foi um fã. Ele tem lembranças afetivas e intensas de frequentar hotéis para ver de perto os ídolos do Deep Purple, Thin Lizzy, Kiss, seus músicos e suas performances. Essa atitude está no coração da visão que o Metallica tem da própria música e da relação com os fãs. Afinal, poucas experiências são intensas quanto aquela que liga os fãs às suas bandas de coração. O Metallica nasceu dos escombros e da reverberação do abalo sísmico criado pelo Punk Rock, Sex Pistols e Ramones. E sempre teve a impressão de que a banda deveria quebrar a parede que a separa dos fãs e admiradores.
Mas como fazer isso? Como tornar a banda transparente e próxima dos fãs e dos devotos em um nível que seja autêntico e emocional, que vá além da audição e realmente crie conexões e cumplicidade? Lars afirma que cada show é diferente, que cada momento vivido na presença do artista, do músico, é especial e memorável. Essa energia é uma inspiração que serve de combustível para manter a história e a experiência sempre em ebulição.
Vale destacar que o Metallica é uma das bandas mais influentes e bem-sucedidas da história do rock, sendo um dos pilares do thrash metal e revolucionando o som pesado desde os anos 1980. Fundada em 1981 por Lars Ulrich e James Hetfield, a banda redefiniu o gênero com álbuns icônicos como Master of Puppets (1986) e …And Justice for All (1988), combinando velocidade, peso e complexidade técnica.
O sucesso global veio com o Black Album (1991), que trouxe hits como Enter Sandman e expandiu seu alcance para um público mais amplo. Além da inovação musical, o Metallica teve um impacto cultural e tecnológico, sendo uma das primeiras bandas a desafiar o Napster no debate sobre pirataria digital e direitos autorais. Com mais de 125 milhões de discos vendidos, prêmios Grammy e uma base de fãs extremamente fiel, sendo mais de 2 milhões afiliados ao fã-clube oficial, a banda segue inovando, provando que o rock pode evoluir sem perder sua essência.
Nesse sentido, a parceria com a Apple Music procura trazer inovação tecnologia na experiência de ouvir e sentir o peso da banda. A ideia é buscar formas de criar a banda mais acessível e transparente possível, trazendo os fãs o mais próximo possível dos shows, dos bastidores para resgatar o espírito juvenil e romântico que caracterizava a relação das pessoas com seus artistas favoritos. Mas como? Continue a ler.
Pausa para o drama
Essa superexposição, esse sentimento de buscar aumentar a proximidade com os fãs é saudável? Não são poucos os livros, artigos e filmes que mostram o quanto as bandas sucumbem ao peso da própria fama. Na verdade, a indústria da música nunca quis discutir o quanto a profissão é estressante, o quanto os shows são exigentes. O documentário do Metallica, em 2004, foi o primeiro a mostrar a pressão e as questões de saúde mental que afetam a banda em uma turnê. Mas, ainda hoje, não há qualquer atitude mais efetiva no sentido de proteger o artista de seus fantasmas e da pressão criativa, de performance e de como lidar com o sucesso. O Metallica é, nesse sentido, até mesmo considerado um grupo “careta”. De todo modo, à parte preservar a privacidade de seus integrantes, tem coragem de enfrentar os traumas e as questões que a fama traz e a internet exponencializa.
Mas Lars Ulrich enfatiza o ponto nevrálgico do que ser um rock star: a vida no palco faz o músico se sentir vivo. O palco é a razão e a emoção de ser de quem cria música e faz dela a própria vida. E, exatamente por isso, ter a chance de tocar e se conectar com os fãs é uma experiência que querem viver até o último dia.
Ver o show em cima do palco
Impressionante a devoção dos músicos, das canções, dos fãs uns com os outros. E a tecnologia tem a missão de potencializar esse vínculo emocional e transcendental. Zane Lowe, da Apple Music, faz o anúncio que motivou a conversa com Lars Ulrich.
Na próxima sexta-feira, a banda fará uma apresentação especial de 26 minutos que será transmitida para os usuários do Apple Vision. A queda da quarta parede é, na verdade, a chance de vivenciar um show do Metallica por meio de Realidade Virtual com o device da Apple, que elimina a distância do fã com o artista. O Metallica estará bem à frente do fã, com som surround, em todos os ângulos possíveis para que a sensação do concerto do Metallica (gravado originalmente na Cidade do México) seja incomparável. A rigor, a ideia é colocar o fã no palco durante o show. O sonho realizado e ao alcance de quem puder pagar por um Apple Vision.
Talvez esteja aí a reencarnação do evento ao vivo. Mas será que ver com realismo extremo a sua banda preferida substitui estar na arena em carne e osso?
O lançamento do show do Metallica no Apple Vision é uma demonstração de uma tendência em progressão, a Conexão Cenográfica, a realidade transmutada para o digital, em cenários amplos e variados, que coloca a pessoa como parte da história e do cenário, protagonista de uma história sonhada e que pode ser compartilhada.
Depois dessa novidade, Mama said: nothing else matters. Entendedores entenderão.