Garry Kasparov é um dos maiores e mais carismáticos enxadristas da história. O primeiro Grande Mestre a perder uma disputa no tabuleiro para uma Inteligência Artificial (IA) sofisticada, o Deep Blue. Controvertido, polêmico, mordaz, Kasparov é também um consultor brilhante para empresas que precisam enfrentar a era digital. Atualmente a serviço da Avast, empresa dedicada a produzir defesas contra ataques cibernéticos, Kasparov foi ao Web Summit para falar o que o conceito de “machine learning” pode significar em termos de segurança digital.
No painel “Machine Learning e segurança”, o Grande Mestre conversou com Ondrej Vicëk, CTO da Avast, sobre como os sistemas de IA podem evoluir e trazer mais segurança para as sociedades e mercados. Kasparov iniciou o painel questionando se IA é uma ameaça ou uma oportunidade. “No final do dia não importa se ela é artificial, mas sim que ela é inteligente”, provocou. Ele se referiu ao jogo clássico de 1997, quando foi derrotado pela Inteligência Artificial Deep Blue, da IBM. Desde então, o enxadrista tornou-se um colaborador para o desenvolvimento das IAs de um modo que possam torná-las melhores e mais seguras.
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Ondrej comenta que o processo de Machine Learning muda o jogo completamente. O sucesso desse poder computacional deriva justamente da evolução da compreensão e da qualidade da gestão dos dados digitais. “A maior parte dos frameworks, dos modelos matemáticos, não são tão atuais – tiveram origem na década de 70. Mas, somente agora conseguimos aplicá-los intensamente”, diz. Novamente, o machine learning não se deve a algoritmos, mas ao poder dos dados. Foram eles que abriram o acesso a possibilidades como reconhecimento facial, expressões, carros autônomos.
Segurança
A segurança hoje tem total relação com o Big Data e com o acesso aos dados aos bilhões de dispositivos espalhados pelo globo. Se é possível detectar uma ameaça em um único dispositivo, esse dado deve ser incorporado à nuvem de dados e imediatamente processado para que ações corretivas possam ser tomadas. A Inteligência Artificial pode ajudar a elevar a régua da segurança. Mas, é fato que agentes do mal podem também se valer das possibilidades dessa tecnologia para gerar ataques massivos de notável sofisticação, atingindo as maiores corporações do mundo – sim, é possível utilizar a IA para atacar uma corporação por dentro de seus sistemas.
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Pois bem, para Kasparov, precisamos resolver o dilema entre a ameaça à privacidade e à segurança geral. “Nós, em tese, não queremos que as mídias sociais aprendam tudo sobre nós”, enfatiza. Mas até que ponto é possível proteger nossos dados se queremos estar conectados intensamente com o mundo? Isso traz outra reflexão: ao atingirmos um determinado nível de vida e de interatividade e desenvolvimento, não queremos diminuir ou reduzir esse nível.
Kasparov entende a natureza humana e o que significa ser “escaneado” e monitorado o tempo todo, mas o poder das ferramentas de IA está em evolução incessante. É preciso combinar a inteligência de homens e máquinas para aumentar nossa segurança geral.
Use com responsabilidade?
Garry Kasparov diz que as pessoas são quase que irresponsáveis no uso de seus celulares e que sua colaboração com a Avast tem o objetivo de reduzir essas ameaças à vida digital. “Estamos 100% dedicados em proteger os clientes e usuários de nossos sistemas. Recebemos 3,5 bilhões de ataques por mês”, afirma Ondrej. É assustador pensar que há tamanho volume de ameaças transitando pela rede enquanto postamos fotos ou escrevemos textos como esse ou navegando na internet em busca de uma informação.
Ainda assim, Kasparov diz que não há motivos para pânico. “A única solução para os problemas causados pela tecnologia de hoje é a tecnologia de amanhã”, o que significa que as máquinas podem aprender sim a resolver os impasses e o uso inescrupuloso que delas fazem uma gama de pessoal mal-intencionadas.