A indústria do processamento de dados cibernéticos finalmente deu às caras no Brasil. Na semana passada, o Itaú inaugurou o Centro Tecnológico de Mogi Mirim (CTMM), um lugar onde vão passar todos os dados de correntistas, cartões de créditos e qualquer outra interação feita pela internet no Brasil.
A aparência e tamanho lembram uma fábrica, de fato. O espaço, que um dia abrigou um canavial, possui 815 mil m² (o mesmo que 114 campos de futebol), sendo pouco mais de 150 mil metros m² de área construída. Dentre as construções presentes no complexo, destacam-se os dois data centers e um centro de comando, além de estrutura energética auto suficiente que poderia levar luz para mais de 140 mil pessoas. Tudo isso teve um custo de R$ 3,3 bilhões.
Durante a visita monitorada, os jornalistas foram apresentados ao centro de comando, um espaço que lembra o famoso espaço de monitoramento de aeronaves da Nasa. Nele, é possível monitorar todas (!!!) as agências, transações e toda movimentação de dados na internet da empresa no país por meio de telões.Em uma das telas, há um mapa do Brasil e que, literalmente, exibe tudo o que acontece no interior do complexo da empresa e em tempo real. Os operadores do centro ainda podem verificar qualquer problema ?in loco? por meio de uma das 90 posições ou computadores instalados nessa sala. A sala de monitoramento não é algo necessariamente novo para o Itaú, pois eles possuem um espaço com características físicas relativamente parecidas. Mas as comparações são meramente visuais. A tecnologia empregada no novo espaço é de vanguarda e possui, dentre outras coisas, a comunicação via telepresença.
No entanto, o coração do centro de comando está em outro lugar. Estão, na verdade. São os dois data centers onde são processados os dados que podem ser monitorados na sala de comando. Os dois edifícios estão separados por uma distância de aproximadamente um quilômetro e isso é o primeiro indício do que pretende o Itaú: a independência de cada data center. Os dois espaços possuem um funcionamento espelhado, ou seja, eles ?olham? um para o outro e realizam as mesmas funções de maneira sincronizada. E por que isso? Porque um pode assumir todo o processamento de dados do Brasil, caso um deles falhe.
No momento, o Itaú utiliza o espaço para o processamento da informação de cartão de crédito, mas isso deve mudar de meado do próximo ano. A empresa afirma que o processamento dos dados dos correntistas dos bancos varejo e atacadista, internet banking, mobile, além dos cartão serão transferidos para Mogi Mirim até julho de 2016. Dessa forma, os 11 mainframes distribuídos nos dois data centers (seis em um e cinco em outro) será o responsável pela movimentação de 35 bilhões de transações feitas pela internet ? uma estimativa prevista até o fim do ano.
Para se ter uma ideia, isso representa 40% da riqueza do Brasil e, mesmo assim, ainda é pouco para a real capacidade dos 11 mainframes. A empresa afirma que ele possui uma capacidade de processamento 25 vezes maior que as 35 bilhões de transações. Em outras palavras, isso representa um potencial de processamento de 26 petabytes – e isso é muita coisa. Seria possível, por exemplo, armazenar todos os textos da Biblioteca do Congresso dos EUA que, juntos, somam 20 petabytes. Os mesmos 20 petabytes representam o processamento de dados de um Google no mundo em um único dia. Além disso, a atual capacidade do CTMM representa nada menos que 50% de todos os livros escritos (e em todas as línguas) escritos desde o início da história da humanidade.
E olha que o lugar não está pronto. Existem mais duas etapas para a ampliação de mais dois data center: a segunda em 2021 e 2023, e a terceira, em 2035.
?Não há nada parecido na América Latina?, garantiu Roberto Setubal, presidente do Itaú Unibanco durante o evento de lançamento. E, de fato, não há nada mesmo. O banco ainda promete deixar ativo um dos três CPDs (Centro de Processamento de Dados) em operações e por onde passam os dados dos correntistas. O edifício escolhido será mantido o da Avenida do Estado, localizado nas imediações do centro da cidade. A ideia é usar o dado como processador de dados emergenciais (em caso de falha dos dois data center de Mogi Mirim) e também espaço para backups de todos os dados. Por outro lado, outros dois CPDs serão desativados aos poucos.
Segurança dos dados
O cuidado com a proteção dos robôs de processamento de dados chamam a atenção e, não à toa, ganharam o certificado Tier III, um dos mais complexos do mundo e que garantem o funcionamento plenamente autômato e ininterrupto. Para isso, foi preciso um investimento em maquinários que mantém os mainframes a um temperatura de 24 graus o tempo todo. Além da energia elétrica própria no espaço, há outras duas formas que garantem o funcionamento: 12 gerador a diesel de grandes proporções e no-breaks no complexo, sendo que ambos com capacidade em manter os data centers em pleno funcionamento. E se tudo isso falhar, entra em ação o CPD da Avenida do Estado, como já mencionado.
O espaço também é sustentável, uma vez que otimiza o uso da energia no espaço. Um exemplo é a própria temperatura: se a externa for menor que a interna, a máquina capta esse ar de fora, filtra e refrigera as máquinas no data center. Entre outras medidas.
O curioso é que essa indústria de algo imaterial, em um espaço de 800 mil metros quadrados, não necessita de grandes quantidades de funcionários. Ali, existem aproximadamente 400 funcionários, sendo que a maioria exerce funções em áreas administrativas ou de segurança ? que é grande e inclui milhares de câmeras de monitoramento. Dentro dos data centers, quase não há pessoas de olho nas máquinas. E nem é necessário. Afinal, é tudo autômato.
Na semana passada, o Itaú inaugurou o Centro Tecnológico de Mogi Mirim (CTMM), um lugar onde vão passar todos os dados de correntistas, cartões de créditos e qualquer outra interação feita pela internet no Brasil.