A chegada da Inteligência Artificial (IA) no cotidiano corporativo tem exigido muito mais do que a simples adoção de tecnologias de ponta. O verdadeiro desafio, segundo o estudo Talent Trends 2025, da consultoria global de recrutamento executivo Michael Page, está em preparar os profissionais para lidar com a ferramenta de forma estratégica, ética e alinhada às necessidades reais do negócio.
Mais da metade dos profissionais brasileiros (53%) já utilizam IA em suas rotinas, um avanço considerável frente aos 37% do ano anterior. Apesar disso, 25% afirmam que suas empresas ainda não oferecem o preparo necessário para o uso adequado da ferramentas. Na América Latina, essa percepção é ainda mais acentuada, alcançando 34%. No cenário global, o índice fica em 32%.
Outros 35% dos profissionais no Brasil se sentem pouco preparados para usar IA, enquanto apenas 8% declaram estar extremamente preparados. A disparidade entre o ritmo da evolução tecnológica e a maturidade da força de trabalho levanta um alerta para líderes empresariais.
IA no cotidiano
“A inteligência artificial há muito tempo já se tornou parte do cotidiano de muitos profissionais. E o mais interessante desta evolução é que eles não estão usando a IA apenas para automatizar tarefas repetitivas, eles seguem explorando seu potencial para liberar criatividade, solucionar desafios complexos e acelerar a tomada de decisão”, afirma Lucas Oggiam, diretor executivo da Michael Page. “As empresas que abraçaram essa transformação já colhem frutos em eficiência e vantagem competitiva.”

A pesquisa, realizada entre novembro e dezembro de 2024 em 36 países, ouviu cerca de 50 mil profissionais de diferentes setores e níveis hierárquicos. Um dos principais objetivos foi mapear o alinhamento, ou falta dele, entre as expectativas dos trabalhadores e o que as empresas têm oferecido, sobretudo em um ambiente de trabalho mais fluido, dinâmico e digitalizado.
Entre os destaques do levantamento, 80% dos profissionais brasileiros disseram que as ferramentas de IA generativa melhoraram a qualidade do trabalho, um índice superior ao registrado na América Latina (71%) e no mundo (73%).
Esse ganho, segundo Oggiam, está diretamente relacionado à existência de diretrizes claras por parte das organizações. “Quando as empresas oferecem diretrizes claras sobre como utilizar a GenAI — seja para geração de conteúdo, análise de dados ou suporte à tomada de decisão — os profissionais respondem com mais confiança e produtividade. O papel da liderança, nesse contexto, é construir essa ponte entre inovação e cultura organizacional.”
Novos tempos
Além da capacitação técnica, os desafios envolvem questões éticas, proteção de dados sensíveis e adaptação às regulamentações em constante mudança. Para Oggiam, a fluência em IA já é uma nova linguagem de sucesso no mercado de trabalho, e dominá-la vai muito além da tecnologia.
“Não basta usar IA. É preciso saber por que, como e com que responsabilidade se está usando. As organizações que conseguirem comunicar isso com clareza sairão na frente, antes mesmo que a próxima onda de transformação comece”, conclui.





