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É possível inovar ao empreender?

É possível inovar ao empreender?

Especialistas destacam a importância da liderança, resiliência e cultura organizacional para fomentar a inovação em empresas de diferentes setores.

A aplicação de tecnologias novas em negócios já consolidados certamente tem os seus desafios, mas como realizar essa transição dentro do movimento empreendedor? Esse foi o cerne do debate no painel “Empreendedorismo e Inovação: Como Transformar Desafios em Oportunidades?”, realizado no dia 11 de setembro no CONAREC 2024. O painel trouxe à tona discussões relevantes sobre as estratégias de inovação em iniciativas empreendedoras fora e também dentro de grandes companhias. 

O debate, mediado por Itamar Olímpio, fundador da C-Viva Consultoria de Inovação, contou com a participação Juliana Alencar, CEO da Weird Garage; Rodolfo Chung, CEO da Memed; Alan Constâncio, Diretor Executivo da Betta Global Partner; e Juliana Carsoni, CEO da Juntos Somos Mais.

Cultura de inovação: a base para o sucesso

O primeiro ponto discutido foi sobre como cultivar uma cultura de inovação nas empresas em 2024. Juliana Carsoni, da Juntos Somos Mais, destacou que um dos maiores desafios enfrentados para a implementação da tecnologia pelas companhias é justamente em seus pontos fortes. “Os desafios iniciais normalmente são nos pontos fortes das empresas, pois onde elas são mais fortes, há um medo da mudança te fazer perder a vantagem que possui. Fica mais difícil identificar as oportunidades de inovação”, disse Carsoni. Para ela, muitas vezes, as lideranças têm receio de inovar para não comprometer o que já funciona bem. “Há um pensamento focado no curto prazo e nas métricas imediatas, mas as oportunidades de inovação, geralmente, estão a médio e longo prazo”, completou.

Juliana Alencar, da Weird Garage, reforçou a importância de a liderança estar engajada com a inovação desde o início dos projetos. Segundo ela, “projetos de convencimento da liderança não são interessantes, não geram inovação”. Ela ressaltou que se a inovação não for parte da cultura da empresa desde a base, os avanços ficam comprometidos. “Se a cultura e a inovação forem áreas muito solitárias dentro da organização, teremos problemas”, afirmou Alencar, enfatizando a necessidade de manter a cultura empresarial sempre alinhada com as práticas inovadoras.

A importância de olhar para fora

Quando questionado sobre os desafios de inovar em empresas grandes e tradicionais, Rodolfo Chung, CEO da Memed, falou da importância de olhar para fora do próprio setor. “Muitas vezes, as ideias surgem da conexão de pontos; olhar para fora é fundamental para que a inovação seja trazida para dentro”, explicou Chung, destacando que suas experiências internacionais, inclusive na China e na Austrália, trouxeram aprendizados sobre como diferentes culturas empresariais abordam a inovação.

Ele também compartilhou sua vivência enquanto CEO do Zé Delivery, onde enfrentou resistências e desafios antes do sucesso alcançado durante a pandemia. “Resiliência é fundamental. O Zé Delivery explodiu durante a pandemia, mas foram nove anos de persistência e apoio das lideranças antes disso”, afirmou, destacando a importância do apoio interno para que inovações floresçam mesmo diante de obstáculos.

Manutenção da inovação

Alan Constâncio, da Beta Global Partner, trouxe uma perspectiva interessante ao falar sobre a manutenção da inovação em empresas que nascem de ideias disruptivas, mas precisam manter essa energia criativa ao longo dos anos. Ele citou o caso da Betta, empresa que atua há mais de 30 anos no mercado, com a manutenção de longo prazo de clientes em todo mundo. “Se pensássemos apenas que é legal ter os mesmos clientes por 30 anos, talvez eles não estivessem aqui com a gente ainda. Eles estão pela nossa capacidade de manter a inovação”, afirmou Constâncio. Para ele, a inovação é um processo contínuo que envolve a antecipação das necessidades dos clientes, não apenas reagir a problemas quando eles surgem.

Ainda nesse contexto, Constâncio destacou que empatia é uma ferramenta essencial para identificar oportunidades de inovação. “Precisamos estar atentos ao espaço ao nosso redor e entender onde podemos atuar antes dos desafios se tornarem intransponíveis”, disse ele, enfatizando a importância da proximidade com clientes e colaboradores para o desenvolvimento de novas ideias.

Inovação e concorrência

Juliana Alencar trouxe uma reflexão sobre a importância de não se deixar levar pelo que a concorrência está fazendo. Em sua opinião, muitas empresas caem na armadilha de tentar copiar práticas de mercado, perdendo de vista sua própria essência. “Se você olha e tenta fazer o que seu concorrente está fazendo, você sempre estará um passo atrás”, afirmou. Ela utilizou a metáfora de uma escalada, em que olhar para os outros escaladores apenas aumenta o risco de não atingir o objetivo final. Para ela, o segredo está em focar na própria cultura e no legado da empresa. “Você precisa olhar para seu histórico, se orgulhar dele e, sem se acomodar, criar um movimento para evoluir dentro da sua melhor versão”, disse.

Empatia e resiliência: elementos-chave

Durante o painel, o mediador Itamar Olímpio perguntou aos participantes como eles encontravam oportunidades em meio aos desafios. Juliana Carsoni falou sobre a importância da resiliência no ambiente de inovação. “Boas ideias provavelmente vão surgir de centenas de experiências que fracassaram. O primeiro sinal de resiliência é se ver fracassando vários dias e seguir tentando”, compartilhou ela, recordando sua experiência na Unilever e no projeto Compre Agora, onde enfrentou uma verdadeira montanha-russa de emoções e resultados. Ela alertou, no entanto, sobre a necessidade de manter a inovação baseada em métodos e disciplina, para que os desafios não sufoquem as oportunidades.

Por outro lado, Allan Constâncio abordou o desconforto como um motor da inovação. “Sem problema, não vamos buscar uma solução. Precisamos ter desconforto”, afirmou. Ele destacou a horizontalidade da organização como um ponto forte para identificar oportunidades e promover a inovação colaborativa.

A visão e o passo a passo

Rodolfo Chung encerrou o painel com uma importante reflexão sobre a combinação entre visão de futuro e a execução passo a passo. “Não adianta ter a visão e não saber o passo a passo, e tão pouco saber como trilhar o passo a passo, mas não ter um destino onde se quer chegar”, concluiu ele, reforçando que o papel da liderança é definir a estratégia e criar o ambiente para que as equipes na linha de frente tragam as melhores ideias.

Dicas finais: como inovar e empreender

Ao final do painel, cada palestrante compartilhou uma dica para quem busca inovar. Juliana Alencar falou da importância do autoconhecimento e do estudo do comportamento humano. “Só entendendo a si mesmo e o mercado, você pode criar uma verdadeira marca”. Allan Constâncio, por sua vez, destacou o valor do aprendizado contínuo e da cultura de dono, afirmando que a inovação pode vir de qualquer lugar da empresa. Já Juliana Carsoni recomendou começar com projetos de baixo custo e escalar aos poucos, enquanto Rodolfo Chung enfatizou a necessidade de ter uma visão clara do futuro e saber como executá-la.

O debate deixou claro que inovação e empreendedorismo andam de mãos dadas com liderança, resiliência e cultura organizacional, e que o sucesso depende de uma combinação equilibrada entre visão estratégica e execução.

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