Antes de “aproximar e pagar” ser um gesto comum, finalizar uma compra com cartão exigia paciência – e papel carbono.
Era preciso inserir o cartão em uma máquina manual, girar uma alavanca para pressionar os dados impressos em relevo contra três vias de papel, assinar com caneta esferográfica e, em muitos casos, aguardar uma autorização por telefone. Tudo isso apenas para confirmar que a transação estava liberada.
Foi assim que os primeiros pagamentos com cartão aconteceram também no Brasil, décadas depois do surgimento do cartão de crédito nos Estados Unidos, com o Diner’s Club, nos anos 1950.
Embora inovador, o processo, como tudo na época, ainda era analógico, pouco ágil e sujeito a erros. Mas ali estava dada a largada para uma transformação que mudaria completamente a forma como o comércio, mais tarde, operaria.
Linha do tempo das maquininhas
Se nos anos 1950 o pagamento com cartão exigia paciência e coordenação, foi só na década de 1980 que a experiência começou a mudar de verdade.
A entrada dos terminais eletrônicos de pagamento marcou o início da virada digital – permitiam a leitura magnética e a validação da transação em tempo real, reduzindo erros e acelerando o processo.
No Brasil, essas maquininhas começaram a ganhar espaço no fim dos anos 80 e se espalharam de vez nos anos 90, impulsionadas pela estabilização econômica e pela consolidação das bandeiras de cartões.
A partir daí, as transações com crédito e débito passaram a fazer parte da rotina do varejo – dos grandes supermercados aos pequenos estabelecimentos de bairro.
“Na França dos anos 1980, a Ingenico lançou o primeiro terminal de pagamento eletrônico – um dos primeiros do mundo com design modular, o que permitia que os lojistas atualizassem apenas partes do equipamento, em vez de substituí-lo por completo”, compartilha José Barletta, diretor técnico da empresa, especializada em serviços de pagamento.
“Esse conceito inovador ajudou a acelerar a adoção dos terminais na Europa e tornou a empresa pioneira em soluções flexíveis e escaláveis”, complementa.
Com o avanço da internet e a miniaturização dos dispositivos, as maquininhas ficaram menores, mais autônomas e já no início dos anos 2000, modelos portáteis com conexão via 2G (e depois 3G e Wi-Fi) tornaram as transações eletrônicas mais acessíveis.
“Esse movimento democratizou o uso do cartão: pequenos empreendedores, ambulantes e autônomos passaram a contar com a tecnologia na palma da mão”, explica.
Tecnologia embarcada e segurança
Com a popularização do modelo eletrônico, cresceu também a necessidade de garantir pagamentos mais seguras, rápidos e integrados ao dia a dia do consumidor. Nesse contexto, surgiram as primeiras soluções com chip EMV – tecnologia desenvolvida em parceria por Europay, Mastercard e Visa.
Na prática, ao contrário da tarja magnética, que armazenava dados de forma estática, o chip criava um código único para cada operação, dificultando fraudes e clonagens.
“O chip foi um salto importante não só na segurança, mas também na confiança do mercado e dos clientes. Os terminais precisaram evoluir junto com essa exigência, por isso passaram a contar com sistemas embarcados mais robustos, interfaces intuitivas e múltiplas formas de autenticação. Isso foi essencial para garantir a integridade dos dados e a fluidez da experiência”, explica José Barletta.
Nessa esteira vieram também os pagamentos por aproximação (NFC), biometria, QR Code e integrações com carteiras digitais. Tudo isso exigiu um novo perfil de terminal, mais inteligente, conectado e preparado para funcionar como um hub de serviços no ponto de venda.
Claro que, a partir daí, seria necessário pensar em camadas de segurança cada vez mais sofisticadas: criptografia de ponta a ponta, certificações internacionais, atualizações remotas e detecção de ameaças em tempo real.
Assim as maquininhas deixaram de ser apenas um “meio de pagamento” para se tornar aliadas estratégicas no combate à fraude e na oferta de experiências confiáveis.
Zero contato
A era do pagamento por aproximação começou discretamente, mas não demorou para conquistar o varejo e o consumidor, afinal, com a tecnologia NFC, agora basta encostar o cartão ou o celular na maquininha – sem senha para valores mais baixos e com autenticação segura para compras maiores.
Esse novo formato ganhou força especialmente após a pandemia, com a busca por alternativas mais rápidas e livre do toque – e das bactérias e vírus.
“O NFC transformou a jornada de pagamento em algo quase invisível. A experiência ficou tão fluida que, muitas vezes, o cliente nem percebe que finalizou a compra”, comenta Barletta.
O elo forte entre lojistas e consumidores
Do papel carbono ao toque do celular, as maquininhas acompanharam – e muitas vezes lideraram – as mudanças no comportamento de consumo. Mais do que um item de conveniência, tornaram-se um elo entre o lojista e o cliente, entre o físico e o digital.
Hoje, além de processar pagamentos, esses dispositivos oferecem dados, conectividade e até serviços financeiros. E seguem evoluindo: com biometria, QR Code e integração a carteiras digitais, mostram que ainda há espaço para inovação no simples gesto de pagar.
Como lembra Barletta: “A maquininha pode parecer algo comum, mas é um símbolo claro de como a tecnologia molda o comércio – e de como ainda temos muito a avançar”, finaliza.