O crédito continua sendo uma das principais alternativas de financiamento de compra de bens, realização de sonhos e equilíbrio no orçamento para muitas famílias brasileiras. Após dois anos consecutivos de queda na demanda por crédito, o país registrou, em 2024, uma recuperação expressiva, impulsionada por uma série de fatores econômicos e sociais. É o que aponta os dados do Indicador de Demanda dos Consumidores por Crédito da Serasa Experian.
Mas, quem são os brasileiros que buscam crédito? O perfil dos consumidores que buscam crédito é diversificado e revela os impactos das mudanças econômicas do país. De acordo com dados, os brasileiros com rendimentos mensais entre R$ 500 e R$ 1.000 lideraram o crescimento na busca por recursos, com uma alta de 1,0%.
Por outro lado, a maior retração na demanda foi observada entre os brasileiros com rendimentos de até R$ 500, um reflexo da pressão inflacionária e das dificuldades que as famílias mais vulneráveis enfrentam.
Além disso, a alta no indicador foi observada em 22 Unidades Federativas (UFs), com destaque para estados da região Norte, como o Amapá (13,9%), Amazonas (11,8%), Roraima (8,6%), Acre (8,0%) e Pará (6,6%), o que sugere uma recuperação econômica regional e o aumento da confiança do consumidor em compromissos financeiros.
Em 2024, o maior mês que se registrou a procura por crédito foi em dezembro, com um aumento de 5,0%. Camila Abdelmalack, economista da Serasa Experian, aponta que esses fatores ajudaram a fomentar a confiança dos brasileiros. “Uma avaliação mais positiva da economia, influenciada pela queda do desemprego em 2024, pode ter encorajado os consumidores a assumirem compromissos financeiros”, pontua. “Além disso, a digitalização dos serviços bancários e a ascensão das fintechs facilitaram o acesso ao crédito, permitindo que mais consumidores solicitassem empréstimos de forma rápida”.
Geração Z e a inadimplência em alta
O cartão de crédito continua sendo uma das opções mais populares para movimentar transações entre os consumidores. A facilidade e a conveniência dessa linha de crédito, segundo outro levantamento da Serasa Experian, em março de 2024, levaram o ticket médio do cartão de crédito a atingir R$ 1.416,58.
A relação entre renda e uso do cartão é clara: quanto maior a renda, maior o gasto no cartão. Para consumidores com uma faixa de renda superior a 10 salários-mínimos, o ticket médio foi de R$ 3.745,67. Já os consumidores com rendimentos de até um salário-mínimo gastaram, em média, R$ 417,51.
No entanto, o uso do crédito, especialmente o cartão de crédito, traz desafios, como o aumento da inadimplência, principalmente entre os mais jovens. A Geração Z (jovens de até 25 anos) apresentou um gasto médio de R$ 1.250 com o cartão de crédito, mas também enfrentou um maior índice de inadimplência. Em março de 2024, a taxa de pontualidade de pagamento de dívidas feitas no cartão de crédito entre os mais jovens foi de apenas 61,1%, o que sugere um comportamento financeiro mais arriscado.
Em contrapartida, a faixa etária acima de 60 anos apresentou uma taxa de pontualidade de 85,6%, evidenciando um perfil de consumo mais cauteloso e disciplinado.
Inadimplência nas empresas
Enquanto a demanda por crédito cresce, a inadimplência também tem mostrado sinais alarmantes, até mesmo entre as empresas no País. Em 2024, 6,9 milhões de empresas estavam endividadas, o que representa 31,6% das companhias em operação no Brasil. O setor de serviços foi o mais afetado, com 55,3% das empresas negativadas, seguido pelo comércio (35,4%) e a indústria (8,0%).
Em dezembro de 2024, o total de dívidas atrasadas atingiu R$ 150,6 bilhões, com um montante médio de R$ 21.678,1 devidos por empresa. A inadimplência nas micro e pequenas empresas (MPEs) é ainda mais pronunciada, com 6,5 milhões de negócios endividados, representando um total de dívidas superiores a R$ 130 bilhões.
A análise por Unidades Federativas revela um quadro desigual de inadimplência empresarial no Brasil. Estados como Alagoas (41,0%), Distrito Federal (39,8%) e Pará (39,2%) estão entre os que mais enfrentam dificuldades com a inadimplência, enquanto estados como Espírito Santo (25,1%), Piauí (24,9%) e Santa Catarina (24,2%) registram números menores de empresas com dívidas em atraso.