Em um dos mais belos e filosóficos de todo o Conarec 2016, Christina Carvalho Pinho, presidente do Grupo Full Jazz, comentou sobre o fim dos estereótipos – uma maldição que acompanha a história da comunicação e do mundo. “Falar desse tema pode parecer misterioso mas, no mundo da criação, de branding, ao longo de décadas, eu descobri (por meio da mais dolorosa experiência) que estivemos ao longo de muito tempo mergulhados na linguagem dos estereótipos”, comenta.
Mas, percebendo que o mundo está saindo desse momento, a executiva confessa que passou a pensar sobre a existência dos estereótipos. “O que é essa nova consciência que está surgindo?”, pergunta. “Precisamos prestar atenção porque há um novo mundo chegando, de uma energia leve, a energia do ser”.
Como ela afirma, porém, ainda há uma prevalência da linguagem dos estereótipos. “As celebridades são os modelos que somos incentivados a seguir”, diz. “Precisamos olhar para isso para perceber que uma sociedade que se constrói a base de estereótipos está no caminho da morte: é denso, pesado e morto – trata o ser humano descolado de sua unicidade e transformado em clichê”.
Porém, como destaca Christina, ao lado de todas as noticias ruins, há indivíduos e empresas se reinventando. Nesse contexto, ela apresenta os participantes do painel. Assim, questiona a João Augusto Bertuol Figueiró, presidente do Instituto Zero a Seis – Primeira infância e cultura de paz: “qual é o impacto de uma sociedade baseada e consumida em estereótipos na formação do cérebro humano?”.
A vida em números
Diante dessa questão, Figueiró comenta que o pior dos deuses da mitologia é Chronos, o deus do tempo. “Seres vivos precisam se expressar em essência, mesmo aqueles que não são racionais. O caroço do abacate vai sempre se sobressair e virar um abacateiro. Mas, a essência humana é atropelada pelas mídias, pelos estereótipos e isso é a morte”, comenta. “A loucura é não viver de acordo com sua própria natureza e essas influências precoces na vida humana são devastadoras”.
Dentro desse cenário, Christina comenta que, “quando estamos dominados por estereótipos, nos sentimos zero”. O “um”, a referência mais alta possível, é aquele outro que é mais admirado e observado.
Em prol do instinto
Andrea Alvares, vice-presidente de marketing e inovação da Natura comenta que a empresa já nasceu com foco na luta contra estereótipos. “De uma forma não consciente, creio que isso tenha acontecido organicamente na história da empresa”, argumenta. “Desde a fundação e na figura dos fundadores havia um amor profundo pela verdade, pelos cosméticos, pela verdade inserida nos cosméticos e pelo uso dos cosméticos para ampliar a consciência”.
Como ela aponta, quando a Natura foi criada, a ideia da juventude eterna permeava (mais do que hoje, até) a sociedade. “Chronos nasce como uma marca do deus do tempo e fala que envelhecemos e que isso é natural. Assim, materializa essa ideia isso em um produto antissinais, numa proposta que liberta e promove o orgulho da própria história, das rugas”.
Liberdade financeira
Por fim, Christina questiona sobre a forma como a Serasa Experian trabalhou para se transformar em uma empresa que foge do estereótipo de “pai punidor” e se apoia no arquétipo de mãe. “A reputação é a consciência legitima da minha ação para o mundo. A Serasa costumava gerar medo”, comenta.
Manzar Feres, vice-presidente comercial da Serasa Experian, então, explica que a empresa entendeu que era necessário injetar um pouco de alma feminina na forma como atua. “Devíamos incluir mais educação, proteção e acabar com o estereotipo do cidadão ou empresa inadimplente”, diz. “Nossa preocupação é deixar de ser aquela entidade punidora para ser uma empresa que tem condições, dados, produtos para educar, ensinar, fazer com que cada cidadão mude”.
Por fim, ela deixa uma provocação para a plateia e, por consequência, para os leitores: “qual é o seu papel para transformar a sociedade morta dos estereótipos em uma sociedade viva?”.