As 24 varejistas premiadas como as Melhores Empresas para se Trabalhar GPTW NOVAREJO têm ações que motivam, engajam, desenvolvem e retêm o quadro. Mas nem sempre elas são suficientes. Há fatores externos às companhias que podem tornar os projetos de gestão de pessoas menos eficazes, comprometendo não apenas o quadro de funcionários, mas também a produtividade e rentabilidade do varejo.
E o principal entrave, por unamimidade, não é uma novidade no varejo: a falta de flexibilidade da CLT (Consolidação das Leis Trabalhistas). ?A verdade é que ela é o grande guarda-chuva?, avalia Eduardo Terra, presidente da SBVC (Sociedade Brasileira de Varejo e Consumo) e sócio da BTR Educação e Consultoria. ?Essa legislação, ultrapassada e travada, gera custos altos para as empresas?, afirma.
No varejo norte-americano, país onde o setor é mais maduro, esse custo é menor porque não existe uma legislação trabalhista ? o que é são contratos de trabalho acordados entre empresas e empregados, diretamente. Modelo, acredita Terra, difícil de pegar no Brasil. ?Mesmo porque as empresas abusavam dos consumidores e funcionários no passado, então é importante ter uma proteção. No entanto, o setor amadureceu e estamos em um mercado de maior concorrência?, afirma.
O problema é que a rotatividade no setor ainda é muito alta, de cerca de 50%. Mesmo as melhores varejistas têm problemas com isso ? a taxa entre elas varia entre 15% a 111%. Essa rotatividade é fruto de uma série de fatores: há ainda a percepção de que varejo é primeiro emprego; mercado de trabalho ainda aquecido, que faz os trabalhadores se deslocarem para outras empresas e setores que oferecem salários mais altos; e a sazonalidade do setor.
?O varejo é sazonal no dia, na semana, no mês e no ano. Seria razoável contratar pessoas só para trabalhar na hora do almoço, no caso de alimentação, ou no final de semana. Mas não existe essa flexibilização: ou você contrata nas 40 horas semanais ou não contrata?, afirma Terra. Em uma situação como essa, ou o varejista fica com mão de obra excedente, de braços cruzados, ou fica com quadro defasado, nos horários de pico.
Para amarrar a situação, ainda há a questão econômica ? ela acaba sendo soberana quando o assunto é contratação. ?Na verdade, o emprego no varejo responde diretamente pelas vendas do setor?, avalia o economista da CNC (Confederação Nacional do Comércio) Fabio Bentes. Para ele, além da óbvia sazonalidade ? em épocas de grande movimento, como o Natal, há mais contratação ? pesa ainda nesse aspecto as expectativas do empresariado do setor, como em qualquer outro.
?Ele avalia se o quadro econômico seguinte será favorável. E não será fácil contratar um funcionário fixo no Brasil no próximo ano. Em uma perspectiva mais duradoura de aumento de vendas, há aumento das contratações?, avalia. ?Independentemente do horizonte, o empresário é obrigado a olhar pra frente e tomar uma decisão?, afirma o economista. Essa essa decisão não tem sido positiva quando o assunto é pessoas.
Ano passado, que já não foi um ano bom, com aumento de vendas de 4%, o varejo nacional gerou 263 mil vagas formais. Neste ano, Bentes calcula um crescimento nas vendas de 3%. Acompanhando essa expectativa, os últimos 12 meses registraram a criação de 143 mil vagas. Para efeitos de comparação, em 2010, ano boom para o setor, com aumento de 10,9% das vendas, foram criadas 531 mil vagas.
Na política de gestão de pessoas, há outros fatores econômicos influenciadores, como a capacidade das pessoas de comprar, inflação, mercado de trabalho, crédito e até mesmo a variação do dólar, dependendo do negócio. Tudo o que afeta vendas e performance no setor, afeta o quadro. Nesse sentido, as perspectivas não são tão boas.
?A expectativa é de um crédito mais caro mesmo, a economia não vai crescer nada neste ano e para 2015 o crescimento pode ser de apenas 1%, a expectativa é que os preços fiquem 6,5% maiores na média?, analisa Bentes. Para não dizer que não se falou em flores, a notícia positiva é a inadimplência, que está abaixo de 6,4%, o menor percentual nos últimos 12 meses. ?Sinaliza que as pessoas estão mais cautelosas com relação ao futuro?, avalia.
Claro que, com isso, o consumo pode cair, fator ruim no curto prazo, mas que prepara o terreno para compras mais efetivas, com garantia de pagamento no médio e longo prazo. Para o economista, dificilmente o comércio retoma o ritmo de crescimento e bonança registrados entre 2005 e 2015. Vai ficar neste ano com um crescimento entre 3,5% e 4%. E nessa toada, até o desempenho dos próximos anos não chegarão aos pés da média de 8% nos últimos anos. ?Para crescer 8%, o varejo vai precisar tirar um coelho da cartola?. Dá para sentir qual será a direção das políticas de RH.
Confira na edição 38 da revista NOVAREJO reportagem especial sobre as ações e histórias das Melhores Empresas para se Trabalhar GPTW NOVAREJO.
Leia mais