Mesmo com a previsibilidade da tragédia que se avizinha, governos continuam a afirmar que não haverá racionamento, embora este já esteja ocorrendo em muitas cidades brasileiras e afetando, principalmente, as áreas mais carentes.
Nesse quadro de informações contraditórias, é possível compreender a pouca ou nenhuma importância atribuída pelas administrações públicas à educação ambiental. Conscientizar desenvolve a consciência sobre os problemas e povo educado e informado torna-se mais participativo.
Alguns alegam que fazem educação ambiental (EA). Contudo, as ações que desenvolvem, na realidade, são limitadas e pouco educam. Não contextualizam o problema, tampouco remetem a questões mais gerais, como o aquecimento global e as mudanças climáticas.
Educação ambiental deve ser entendida numa perspectiva ampla, que promova mudanças pessoais e coletivas na busca de uma sociedade sustentável e solidária, incentivando, para isso, a formação, a capacitação, a tomada de consciência sobre os problemas ambientais, no caso a situação climática; a mudança de atitudes, a participação cidadã na tomada de decisões e a promoção de valores positivos.
A EA, portanto, deve ser entendida a partir da perspectiva local, como um caminho para a gestão sustentável dos municípios, sendo um eixo transversal a ser considerado na concepção de políticas que atenderão às necessidades econômicas, sociais e ambientais, respeitando, ao mesmo tempo, a integridade cultural e os processos ecológicos essenciais, a biodiversidade e os sistemas que sustentam a vida.
A EA do ponto de vista das administrações públicas municipais, deve integrar o conjunto de políticas públicas para a melhoria da qualidade de vida de seus habitantes, deve ocorrer tanto em âmbitos formais (currículos da educação básica e média) quanto nos âmbitos informais, com a incorporação da questão ambiental no cotidiano e como política de Estado, privilegiando os processos globais, articulados com os temas locais, gerando abordagens inovadoras dos problemas e conflitos ambientais.
Não é isto que ocorre no enfrentamento dos problemas derivados do aquecimento global, no caso particular, a discussão sobre a crise hídrica. Não se mostra evidente a atuação dos governos na preparação dos cidadãos para o enfrentamento de uma formidável onda de calor que se aproxima, continuam afirmando que não restringirão o uso da água, como se tivessem controle sobre o clima.
A falta de informações verdadeiras (ou completas), beira à irresponsabilidade pública, pois há um esforço global no enfrentamento dessas questões.
No final deste ano se realizará em Paris a reunião da COP-21 que estabelecerá o novo protocolo que substituirá o de Quioto, para evitar o aumento do aquecimento sobre o planeta. Diversos governos como os Estados Unidas, China e países da União Europeia têm elaborado propostas e tomado decisões que antecipam um enfrentamento global e articulado do problema. Mas para que isso ocorra é necessário a conscientização e a participação de todos, governos, entidades, empresas e cidadãos.
Omitir a gravidade do problema é armar uma bomba relógio que explodirá num futuro próximo, afetando outras áreas da sociedade e prejudicando o desenvolvimento do país rumo a patamares mais sustentáveis.
A educação ambiental é arma poderosa que deve ser utilizada com maestria pelos governos. Trata-se sim de preservar nosso futuro comum e não de um grupo particular. A educação ambiental no enfrentamento da crise hídrica é essencial. Sem participação não há política pública, só ações evasivas que visam a manutenção de interesses particulares.
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Reinaldo Dias é professor da Universidade Presbiteriana Mackenzie Campinas, mestre em Ciência Política e doutor em Ciências Sociais pela Unicamp.