Recentemente a Dove, marca da Unilever, comemorou vinte anos de sua campanha “Beleza Real” de forma surpreendente. Diante de todo o hype de empresas no uso da Inteligência Artificial (IA), a Dove promete nunca usar a tecnologia para criar ou distorcer imagens de mulheres.
Ao fazer uma declaração sobre os efeitos da manipulação digital, a marca destaca o impacto negativo das ferramentas de IA na definição de beleza e na autoimagem de mulheres e meninas.
O mais interessante no vídeo comemorativo da campanha é como a marca demonstra a maneira que a IA generativa interpreta, por meio de prompts, esses mesmos comandos quando adiciona “de acordo com o Dove Real Beauty Ad”. O resultado são imagens mais realistas e diversas.
Apoio à beleza inclusiva
Em novo estudo global da marca, a Dove descobriu que 39% das mulheres se sentem pressionadas a alterar sua aparência por causa daquilo que veem online, mesmo quando sabem que isso é falso ou gerado por Inteligência Artificial. Pensando nisso, a Dove criou o “Real Beauty Prompt Guidelines”, um guia da marca sobre como criar “imagens mais reais” sobre beleza em programas abertos de IA generativa.
Kathryn Fernandez, diretora sênior de propósito e engajamento da Dove, disse em comunicado à imprensa norte-americana que essa ação é parte da “missão da Dove” em “apoiar uma beleza mais inclusiva”. Um posicionamento crítico e necessário, segundo a executiva, frente à previsão de cerca de 90% de conteúdos e imagens serão produzidos por IA até 2025.
Diante desse cenário e de marcas usando cada vez mais ferramentas de IA na criação de anúncios, a Dove foi inteligente em se apropriar do tema – e da ferramenta – para construir uma narrativa original, em sintonia com o propósito da marca e na forma de alertar as pessoas sobre o uso e impactos da IA em suas vidas.
Vale lembrar que, já em 2018, a Dove havia lançado a campanha “No Digital Distortion Mark”, uma marca d’água em imagens de suas campanhas sinalizando que as fotos usadas pela marca não haviam sido alteradas digitalmente. Nos anos seguintes a Dove seguiu com essa proposta, fomentando o diálogo sobre os impactos da manipulação de imagens de beleza para crianças e adolescentes publicando diversos estudos e campanhas: “Reverse Selfie”, que analisou o impacto negativo das redes sociais no comportamento das adolescentes; “Toxic Influence”, que mostrou que duas em cada três meninas americanas passavam mais de uma hora por dia nas redes sociais – com 50% delas dizendo que o conteúdo de beleza idealizado nas redes sociais causava baixa autoestima.
São atitudes no mínimo louváveis para uma marca de beleza quando olhada pelo prisma dos negócios. Um posicionamento que denota valores em sintonia com uma causa muito maior. Hoje, falar sobre o ambiente tóxico no universo digital e das novas tecnologias deveria ser parte da construção de valor de marca de empresas de qualquer segmento.