Ao redor do mundo, 53% dos consumidores acreditam nas reivindicações ambientais nos rótulos de produtos e na publicidade, aponta a pesquisa “Crisis as catalyst – How global emergencies can push sustainability forward, da Growth for Knowledge (GfK)”. O estudo mostra que as crises, como a da pandemia de Covid-19, são catalisadoras para o rápido avanço de soluções e inovações sustentáveis. E considerando que hoje, dia 5 de junho, é celebrado o Dia Mundial do Meio Ambiente, nada melhor do que compreender como a responsabilidade ambiental se tornou aspecto obrigatório para as empresas.
Dia Mundial do Meio Ambiente e o que se espera das empresas
O Dia Mundial do Meio Ambiente foi criado pela Organização das Nações Unidas (ONU) em 1972 para atrair a atenção da sociedade aos problemas ambientais e ao impacto das ações humanas no meio ambiente. Desde então, anualmente, cada edição possui uma temática. A de 2021 é a restauração de ecossistemas.
No Brasil, destaca-se que essa questão está um pouco atrasada em relação à Europa, porque, para estudo da GfK, o cidadão tem outras necessidades e preocupações, como segurança, saúde e dinheiro para pagar as contas no fim do mês. Com isso, a sustentabilidade acaba tendo uma força um pouco menor: se for pensar em uma pirâmide, o assunto ainda está na base.
Entretanto, o indivíduo, principalmente na faixa dos 40 anos, já vivenciou apagões e longos períodos de racionamento de água. Por isso, Roberta Zanini, gerente de consumer intelligence da GfK, explica que o foco para as ações sustentáveis mercadológicas deve ser esse público, uma vez que ele dá valor aos recursos naturais.
“Os consumidores estão abertos e esperam que as empresas e os governos façam a parte deles. Contudo, o cliente brasileiro não tem o preparo que irá gerar uma mudança de compra para produtos e serviços ambientalmente corretos, porque isso normalmente é bem mais caro que o comum. O preço ainda é uma barreira. Se a empresa conseguir manter o valor tradicional, aí ele se interessa. Isso vale também para a geração Z, pois mesmo sendo mais engajada do que as anteriores, ela não possui um poder de compra tão significativo neste momento”, explica.
No âmbito empresarial, é fundamental esclarecer que a importância da confiança do consumidor na marca e a mobilidade em prol de problemáticas coletivas geraram um movimento em massa, que visa ampliar a conscientização do cuidado que o planeta requer. Afinal, não há um plano B caso a Terra entre em colapso devido ao consumo desenfreado e o esgotamento de matérias-primas e da biodiversidade.
“O tema deixou de ser uma oportunidade de comunicação: hoje é uma obrigação. O mercado financeiro vai, cada vez mais, se basear nas práticas socioambientais para entender o valor das corporações. As empresas que se comprometem com as metas do Net Zero 2050 estão saindo na frente. É preciso usar a inovação para executar políticas de novas energias, lixo zero, carbono zero e logística sustentável”, coloca Hector Gusmão, CEO da Fábrica de Startups.
Daí entra a necessidade de se colocar o conceito de Environmental, Social and Corporate Governance (ESG) em prática. “As empresas precisam repensar como as coisas foram feitas até hoje e que estar constantemente em busca de alternativas que reduzam ou zerem os impactos negativos de forma a obter um equilíbrio verdadeiro entre meio produtivo e o meio ambiente visando sempre a construção de um futuro sustentável. A principal visão é a de equilíbrio e a de que todos somos responsáveis pelo mundo que vivemos e para isso precisamos formar cidadãos conscientes de sua responsabilidade socioambiental”, afirma Denise Padovan, gerente administrativa e de sustentabilidade corporativa da Matera, empresa de tecnologia voltada a bancos tradicionais e digitais, fintechs e gestão de riscos.
As mensagens a serem transmitidas
Visto a importância em posicionar a favor do meio ambiente como forma de gerar valor e autoridade, é primordial entender como as empresas podem trabalhar suas medidas sustentáveis. Para Rapha Avellar, fundador da Adventures, Inc., plataforma de marketing para a nova era que por meio de tecnologia, dados e conteúdo suporta o crescimento dos negócios do futuro, a tendência é que daqui para frente haja uma série de ambientes “não-normais” que irão tirar as organizações da zona de conforto.
“Mais do que pensar no cotidiano, será cada vez mais exigido um olhar a longo prazo sobre as transformações e impactos positivos que podemos gerar. As causas sustentáveis estarão mais ligadas a princípios e propósitos do que a ações isoladas. Nós somos um exemplo disso. Fazemos parte do movimento Capitalismo Consciente, somos 100% carbono neutro e estamos nos preparando para sermos uma Empresa B”, salienta o executivo.
Desse modo, os profissionais consultados se uniram e listaram mensagens centrais que podem ser desdobradas para gerar insights para negócios de diversos segmentos:
- A melhor empresa é a empresa consciente, que coloca o planeta como um stakeholder;
- Se cada um fizer a sua parte, os frutos serão positivos;
- Tenha um olhar macro e mude o jeito de pensar e aplicar o ESG;
- O futuro do meio ambiente depende das decisões de agora;
- Novos resultados não serão atingidos se insistir no tradicional.
Como se estruturar para executar ações ambientais
As iniciativas sustentáveis estão em alta por todo o mundo e, caso a organização decida se enveredar para este ramo, é essencial se estruturar interna e externamente para que tudo ocorra sem grandes entraves e sem ser pega de surpresa. Pensando em tudo isso, Hector Gusmão, CEO da Fábrica de Startups, elenca quatro passos fundamentais:
1. Defina objetivos
Determine onde a empresa quer chegar e quais são as metas. Escolher uma frente ou algumas das principais, com quick wins, ajuda muito a trazer uma sensação de evolução. Também alinhe isso claramente, de forma horizontal, em toda a companhia.
2. Escolha os embaixadores
Selecione um time interdisciplinar e os líderes, ou até mesmo um comitê, que irão levar a empresa a alcançar as metas. Foque não só em especialistas em sustentabilidade, mas gestores das mais diversas áreas da companhia.
3. Pense em inovação aberta
Pesquise sobre iniciativas externas que surgiram de academia, startups e empreendedores que já estejam em etapa pós-validação. Esses players trazem a diversificação e a velocidade necessária para implementar ações sustentáveis.
4. Comunique de forma eficiente
A transparência e o acompanhamento constante do andamento das metas são essenciais para que a empresa se posicione de fato em relação aos seus objetivos e para incentivar um engajamento de todos os seus stakeholders. O ideal é, além de ter iniciativas internas em prol do meio ambiente, inspirar e gerar uma onda positiva de mais empresas aderentes.
Cases de mercado: exemplos que mostram a efetividade do propósito sustentável
O Dia Mundial do Meio Ambiente provoca a reflexão e tem uma causa muito nobre, que pode servir como mola propulsora para o desenvolvimento do propósito sustentável na cultura empresarial. Algumas companhias já notaram a relevância do assunto e investem em campanhas e ações não só sazonais, mas que já fazem parte do cerne de sua cultura institucional. Confira alguns exemplos de sucesso:
Natura
Entre tantas ações, a empresa não testa seus produtos em animais, prioriza o uso de materiais reciclados pós-consumo e de origem renovável, desenvolve soluções que facilitem a reciclagem e contribui para os direitos humanos das famílias envolvidas na coleta do lixo reaproveitado.
Ambev
Para ajudar no combate à Covid-19, a companhia doou 2,5 milhões de pães, 100 mil pedras de sabão, 20 toneladas de gomas de tapioca, 100 leitos de hospital, 3 milhões de máscaras de proteção e 3,3 milhões de unidades de álcool em gel.
Para 2025, foram estabelecidas algumas metas de sustentabilidade, como o uso 100% de energia advinda de fontes renováveis, redução em 25% das emissões de carbono e melhorar a disponibilidade e a qualidade da água para 100% das comunidades em áreas de alto estresse hídrico com as quais a cervejaria se relaciona.
Lojas Renner
Presente no Dow Jones Sustainability Index de 2020, as Lojas Renner assumiram compromissos públicos em sustentabilidade. Entre os objetivos de 2021 estão reduzir 20% das emissões de gases causadores do efeito estufa em relação aos índices de 2017, suprir 75% do consumo corporativo de energia com fontes renováveis e chegar a 80% das vendas de peças com algum atributo de sustentabilidade, sendo 100% com algodão certificado. Com o lançamento, em 2018, de uma linha de roupas sustentável, é possível gastar menos 44% de água durante a produção e lavagem dos jeans.
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