Os deepfakes – vídeos falsos criados por meio de inteligência artificial e deep learning – estão cada vez mais realistas. A polêmica tecnologia tem sido alvo de discussão, uma vez que os vídeos criados artificialmente podem ajudar a espalhar notícias falsas ou colocar pessoas em situações constrangedoras. Mas também há usos positivos para estes vídeos, como por exemplo no mercado publicitário e de educação.
A técnica do vídeo deepfake pode ser usada para simular falsos discursos de políticos ou espalhar notícias falsas, influenciando eleições até o mercado financeiro.
Esse tipo de vídeo também é muito popular em sites adultos, que substituem cenas reais por rostos de celebridades.
Segundo a empresa de segurança online Deeptrace, 96% dos deepfakes registrados são pornográficos.
Mas nem todos os usos deste tipo de vídeo são nocivos. Agências de publicidade estão adotando a tecnologia para criar anúncios localizados e, desta forma, se aproximar do público-alvo da campanha.
“Os filmes gerados artificialmente podem ser aproveitados para o bem e para criar valor para marcas e consumidores. Isso inclui a criação de conteúdo localizado e traduzido, além de personalização leve, sem o alto custo de filmar diferentes versões do mesmo comercial”, afirma Anthony Baker, diretor executivo de tecnologia da R/GA de Tóquio, em entrevista ao site Marketing Interactive.
Já há, inclusive, empresas especializadas em criar versões deepfake de campanhas e vídeos institucionais. A empresa de tecnologia israelense Canny AI é uma das várias que utiliza a tecnologia para criar edições do mesmo vídeo em diferentes idiomas. Um comercial em inglês, por exemplo, pode ser transformado em outro idioma, de forma automática, sem a necessidade de regravação do original.
Outro uso possível do deepfake para o mercado publicitário é a personalização a partir de vídeos e fotos dos consumidores-alvo coletadas nas redes sociais.
Será possível, por exemplo, personalizar uma propaganda com imagens de pessoas nas quais o consumidor se identifica. Ou seja, um mesmo vídeo pode mostrar pessoas loiras, asiáticas ou negras, dependendo do perfil de quem estará assistindo.
Dando vida a figuras históricas
Além de impactar o mercado publicitário, os vídeos deepfakes têm potencial para aumentar a interatividade na sala de aula.
Pesquisadores do centro de inteligência artificial da Samsung em Moscou, na Rússia, usaram uma rede neural para animar fotos estáticas. Na demonstração da tecnologia, os pesquisadores conseguiram fazer com que a Monalisa ganhasse vida e conversasse com os espectadores a partir de apenas uma imagem do quadro.
Para professores, essa tecnologia pode fazer com que as aulas fiquem mais reais com a possibilidade de replicar depoimentos em vídeo de figuras históricas, como Albert Einstein, Santos Dumont, Leonardo da Vinci…
Entenda como funciona o vídeo “deepfake”
“Deepfakes” são conteúdos de vídeo ou áudio que foram manipulados usando a inteligência artificial e deep learning para parecer que alguém disse ou fez algo que nunca fez.
Normalmente o deepfake usa um vídeo real de uma pessoa como base e simula sobre ele informações geradas a partir de um banco de dados de imagens ou vídeos de outra pessoa.
A inteligência artificial identifica os pontos focais no rosto do vídeo original e aprende suas posições e relações entre si.
Em seguida, a tecnologia detecta os mesmos pontos focais no rosto das fotos ou vídeos da pessoa que será inserida na gravação original. De forma automática, a inteligência artifical reconstrói o rosto falso sobre o rosto original, como se fosse uma máscara.
Regulamentação estatal
Semelhante ao surgimento do Photoshop, que revolucionou a manipulação de imagens, é possível que a tecnologia deepfake se torne uma nova ferramenta para criação de conteúdo e seja usada de forma mais natural nos próximos anos.
A possibilidade de uso nocivo para espalhar notícias falsas ou constranger pessoas, no entanto, faz com que governos e órgãos de controle comecem a se preocupar com o assunto.
A China lançou uma nova regulamentação para impedir a disseminação de notícias falsas e vídeos enganosos. A nova regra, que entra em vigor em janeiro de 2020, proíbe a publicação de informações falsas ou deepfakes sem o devido alerta de que o vídeo em questão foi criado com a tecnologia.
Segundo o governo chinês, este tipo de conteúdo pode criar “riscos políticos” e trazer “impacto negativo à segurança nacional e à estabilidade social”.
No mês passado, a Califórnia se tornou o primeiro estado dos EUA a criminalizar o uso de deepfakes na promoção de campanhas políticas e publicidade. A lei torna crime publicar áudio, imagens ou vídeo que dê uma impressão falsa e prejudicial das palavras ou ações de um político.
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