O discurso de conflito de gerações não é novo. Especialmente no mercado corporativo. De um lado, há jovens que não concordam com o modelo de gestão tocado há anos por profissionais mais velhos. Do outro, executivos experientes que consideram parte da geração Millennial mimada e que não aceita críticas. Para levar essa discussão para fora do senso comum, o CONAREC 2017 promoveu um encontro entre super empreendedores, todos consolidados nos mercados em que atuam, com integrantes da geração Y, com seus pensamentos disruptivos e em busca de um propósito, mas não menos competentes.
O painel foi mediado pela jornalista Regina Augusto, da Gume Reputação, e integrado por Flávio Rocha, presidente da Riachuelo, Alberto Pecegueiro, presidente da Globosat e Andries Oudshoorn, presidente da OLX, representando profissionais de gerações anteriores. Já no time dos Millennials estavam a Ana Julia Ghirello, CEO da abeLLha, Diogo Corona, diretor executivo da Smart Fit, e William Cordeiro, fundador da Hisston. Nessa ocasião, os dois lados puderam trocar visões de vida e de mundo, além de conversar sobre o futuro do mercado de trabalho.
Logo no primeiro bloco de perguntas, os Millennials questionaram as opiniões dos profissionais a respeito dos trabalhadores mais novos. Afinal, aquele perfil de jovem idealista, impaciente e inovador é o que predomina nos corredores da empresa? Não na opinião do Pecegueiro, da Globosat. Para ele, é impossível dizer que o jovem dos últimos dez anos tem um perfil linear.
Segundo o executivo, há situações de profissionais que trocaram a Globosat por uma empresa que tinha “uma mesa de pingue pongue”, mas depois voltaram porque os ganhos na empresa valiam mais a pena. “Os jovens são jovens como sempre fomos em algum momento da vida”, diz Pecegueiro. “Ele flutua nos comportamentos, então isso interfere nas expectativas e atitudes.”
Atrair talentos
De qualquer forma, qualquer empresa quer renovar a sua força de trabalho com profissionais talentosos. A Riachuelo é uma delas. De acordo com Rocha, presidente da companhia, a missão não só da Riachuelo, como de todo o setor, é atrair esses jovens, que sonhavam em trabalhar em outras áreas. Isso, no entanto, vem mudando, segundo ele. “O varejo já foi mais esnobado e agora muitos querem trabalhar conosco”, diz.
A forma que a empresa faz para agradar e atrair esses profissionais é dando responsabilidade para eles. Não à toa, os programas de trainees, que contrata recém-formados, é um dos mais disputados e transforma esses profissionais em gerentes de loja em pouco tempo. Tudo para que eles se sintam percentences à empresa e que enxerguem um propósito para lá trabalharem.
Essa busca pelo propósito também é algo comum dentro da OLX. O presidente Oudshoorn relata que isso não é só um discurso, mas algo que é o diferencial da empresa. O próprio perfil que a empresa busca é daquele jovem que consiga entender o modelo de gestão dos novos tempos, baseados em startups, onde todos podem desenvolver projetos e sem ser baseado em hierarquia. “Criamos times com missão e muita autonomia”, diz ele.
Em busca do protagonismo (com propósito)
A OLX treinou tão bem uma de suas executivas, que ela foi tentar a sorte sem o suporte da companhia. Ana Julia Ghirello, fundou a incubadora abeLLha. Ela, que até coloca Oudshoorn como um dos seus principais mentores da carreira, foi atrás de empreender por si mesma. Criou a abeLLha e começou a suportar o trabalho de outros Millennials em busca de mudança e de protagonismo.
Apesar de existir essa vontade latente de mudança e de trilhar os próprios caminhos, Ana Julia não concorda que os Millennials são mimados. Ao contrário. Para ela, muito se coloca essa opção tendo como base jovens privilegiados, que tiveram tudo desde o começo. Muito se ignora aqueles da base da pirâmide, que apanham muito no dia a dia para tocar o próprio negócio. “Temos jovens muito disciplinados e que essa história de geração de mimados não encaixa”, diz ela.
Sem blindagem para a frustração
Um ponto que Cordeiro, da Hisston, aborda é a questão da frustração. A geração Millennial realmente é muito ansiosa. Quer resultados para ontem e quer fazer a diferença no mundo o mais rápido possível, mas também não pretende deixar de lado a qualidade da vida e do propósito. Ou seja, exigem muito do mercado e de si mesmos e estão dispostos a ir atrás dessas metas.
A frustração, contudo, é inevitável. E, segundo Cordeiro, essa geração precisa estar preparada para esses momentos de caos na vida. O estresse é algo que vai ser corriqueiro e até importante na caminhada desses jovens empreendedores, tanto aqueles que tocam o próprio negócio quanto aqueles que empreendem dentro das companhias. “Se você não expor esses jovens à crise, aí sim vamos criar uma geração pouco resiliente”, afirma ele.
Questão de família
Para Diogo Corona, diretor executivo da Smart Fit, também existe o fator de desafios para aqueles filhos que tocam os negócios da família. É exatamente o caso dele, que toca a rede de academias juntamente com o pai Edgard Corona. Segundo ele, a meritocracia é algo que é a tônica da empresa, mas ele admite que foi beneficiado por ser herdeiro.
Isso, no entanto, não foi algo tão simples para ele. Segundo Corona, ao mesmo tempo em que o caminho pode ser facilitado pela posição de filho, a cobrança é muito maior. “Se eu errar, as pessoas vão ter a certeza que estou por causa da minha família, por isso tenho que trabalhar muito mais”, afirma ele.
Para finalizar, o executivo da Smart Fit refletiu sobre o futuro da geração Millennial. Ainda é muito cedo para dizer se os caminhos tomados por eles é realmente o correto. Afinal, ainda nem temos resultados para nos basear. Mas uma coisa é fato, eles estão mudando a maneira de vivermos e trabalhar.