Bem-estar virou produto.
Respire. Medite. Beba água.
Frutinhas no café, quick massage às sextas, app que lembra de respirar e uma avalanche de discursos prontos sobre saúde mental, autocuidado e equilíbrio espalhados por redes sociais e intranets.
É o cuidado empacotado.
Bonito no PPT, vendável na convenção, instagramável no feed dos colaboradores.
Mas, no intervalo entre o post com frase inspiradora e o grupo da família pedindo ajuda pra levar a mãe ao médico, existe uma força silenciosa.
A Geração Sanduíche.
Mais de 66 milhões de brasileiros entre 40 e 59 anos que sustentam a vida em múltiplas frentes.
Filhos que ainda precisam. Pais que agora dependem. E uma rotina que não dá trégua.
É o middle management da vida.
Profissionais que lideram times pela manhã e coordenam exames à noite.
Que entregam resultado com uma mão e seguram o emocional da família com a outra.
Quem está sempre de prontidão.
Porque o cuidado não tem horário. E o call center do laboratório também não.
Quer falar de dados?
- 1 em cada 5 adultos dessa faixa etária relata sofrimento com saúde mental.
- 51% são mulheres.
- Elas dedicam 21 horas por semana ao cuidado de terceiros – em comparação a 10 horas dos homens.
- 65% das mulheres com mais de 40 anos usam redes sociais para buscar informações sobre saúde e bem-estar – tentando aprender sozinhas o que ninguém ensinou: como seguir em pé quando todo mundo se apoia em você.
E ainda chamam isso de “equilíbrio”.
Essa geração não reclama. Segue.
Segue porque precisa.
Segue com a exaustão disfarçada.
Com o corpo presente, mas o fôlego curto.
Com a entrega em dia e o autocuidado em espera.
E sim, quase sempre são mulheres.
Mulheres que gerenciam orçamentos e receitas médicas.
Que planejam o futuro dos filhos enquanto administram a fragilidade dos pais.
Sem holofote. Sem pausa. Sem manual.
Este texto não é sobre vitimização.
É sobre visibilidade, querido leitor.
É sobre o que precisa ser visto, enfrentado e cuidado.
Porque manter um modelo de bem-estar simbólico enquanto a base humana desaba não é só contradição.
É descuido.
É invisibilização institucionalizada.
Quer cuidar de verdade?
Então mude a pergunta.
Não é mais “tudo bem?”.
É: “de quem você está cuidando?”
Essa resposta diz mais sobre a saúde do seu time do que qualquer indicador de desempenho.
Porque quem cuida também precisa ser cuidado.
Não por fragilidade, mas por necessidade.
E quando ignoramos esse cuidado, não perdemos apenas produtividade, perdemos gente.
A Geração Sanduíche não precisa de mais uma campanha no Outubro Rosa.
Precisa de políticas que considerem a vida como ela é: complexa, intensa e cheia de camadas.
Quer entregar bem-estar de verdade?
Então ofereça estrutura.
Ofereça flexibilidade com propósito.
Escuta real.
Suporte emocional contínuo.
Confiança.
Isso não é mimo.
É gestão.
É o que separa marcas com cultura daquelas que só ensaiam o discurso.
“Empatia não é discurso. É prática cotidiana. E cuidar de quem cuida é um passo urgente na reconstrução da confiança dentro das organizações.”
Se esse texto te provoca, que bom.
É na provocação que nasce o movimento.
E se esse tema também te atravessa, te convido a conhecer o livro Diversa-IDADE, que escrevi junto com o professor Willians Fiori.
Não trazemos respostas prontas.
Trazemos as perguntas certas, aquelas que abrem espaço para conversas que não cabem mais ser adiadas.
Não há avanço coletivo sem empatia intergeracional. E não há bem-estar real sem presença, escuta e políticas que acompanhem a realidade de quem sustenta mais do que se vê.
Com carinho,
Tati Gracia

Tati Gracia é referência em comportamento de consumo e marketing de empatia no Brasil. Analista comportamental, gerontóloga e autora do livro “Empatia, Humanização além do Marketing“.