Cannes – França – A excelência criativa vem da reflexão original sobre o mundo que nos cerca. Ainda que haja variedade de temas e meios, uma coisa permanece consistente: as narrativas que permanecem conosco baseiam-se em valores universais que se conectam conosco. Mas não são todas as pessoas que são igualmente retratadas na arte a na cultura. A nossa indústria sofre de uma crise de inclusão e falta de acesso. Sem acesso a uma gama maior de criativos, nossa voz como indústria torna-se singular e abre uma lacuna que a impede de retratar e considerar a população real. Simplesmente contratar mais mulheres ou de maior diversidade não vai resolver o problema. O importante é fazer com que a diversidade tenha voz na indústria.
Este painel, “Transformado a criatividade pelo acesso” reuniu Desmond Marzette, Diretor Global de Propaganda da Jordan Brand, Donald Chestnut, Chefe Global de Criação da SapientNitro, Mimi Valdés, Chief Creative Officer da I am Other, Xanthe Wells, Empreendedora criativa, USA e Matt Lambert, Diretor da PRETTYBIRD em uma jornada visionária e catalisadora de pontos de vista únicos e expressivos que geram um trabalho de excelência. O painel foi um apelo pela mudança conjunta.
“Mulher, seja homem!”
“Não é a conversa sobre diversidade que você teria com a sua mãe”, foi a provocação de Donald Chestnut, da SapientNitro, introduzindo o painel. Xanthe tomou a palavra e mostrou como ela participava de reuniões de board com seu bebê recém-nascido. Ela diz que a indústria da propaganda é desesperadora. “Todos dizem que querem uma mulher”, e mostrou como normalmente as organizações depois desprezam mulheres por elas serem… Mulheres!! Estão à procura de mulheres que ajam como homens… Que tenham “energia masculina”, como Muhammad Ali dizendo “dê algo mais do que você pode dar”. Ambição míope e a empatia raivosa são características associadas à liderança feminina, características e que impedem a mulher de ser feminina, líder e efetiva. Para Xanthes, nem todos os líderes são do mesmo jeito. “O momento em que você contrata uma mulher é quando o problema começa… Diversidade não é política, é pratica”, diz a criativa. Isso implica em modificar o ambiente para que acomode uma nova liderança, e o que unifica a visão de mulheres nas agências é justamente a criatividade.
Autêntico e íntegro
Matt Lambert começou a contar sobre sua jornada em busca do reconhecimento a partir de um trabalho fortemente baseado em respeito a todas as formas de fluidez de gênero. Ele diz que sacrifício e riscos são necessários para que se siga uma carreira baseada na autenticidade. Seu trabalho foi considerado “muito gay” (porque propõe mudar mentes a partir de mudança de linguagens, além de exibir corpos de modo explícito. Os riscos da homofobia são elevados para seu trabalho ser “apreciado”) e então discriminado pelos produtores da comunidade publicitária. Intimidade e honestidade, transparência e a consciência da própria vulnerabilidade, porém, foram princípios dos quais ele não abriu mão. Por isso, Matt defende a integridade. “Com quem você trabalhar é quem define você”.
“Para que o mundo seja um lugar melhor, temos sempre que dizer alguma coisa”, finalizou Matt.
Hip hop é uma filosofia de vida
Desmond Marzette falou sobre como é importante levar elementos culturais para a compreensão da evolução e da transformação social. Focado no estudo de elementos que nascem a partir do comportamento da comunidade afro-americano (a), Desmond tornou-se especialista na cultura hip hop. E destaca o quanto as falhas de comunicação são inevitáveis quando uma empresa, uma marca não têm especialistas em cultura trabalhando para você. A idiotice e o preconceito tornam as marcas completamente desconectadas dos valores dos diferentes grupos sociais.
Por isso, Desmond defende que o respeito seja recíproco, respeite a linguagem e valores para ser respeitado. Por isso “faço um apelo: Diversidade é uma variável cultural complexa e precisamos compreender como ela se manifesta. Procure experts de cultura e procure na sua audiência. Não tenha vergonha de se conectar com as pessoas em ambientes diferentes. A agência de propaganda não é o ambiente certo para procurar novas formas de criação, autênticas e leais à audiência”.
Crie condições para a diversidade
Lidere com individualidade. Mimi Valdés encerrou o painel destacando 3 ações que julga relevantes para conduzir seu trabalho de storytelling: inspirar, educar e entreter. Ela destaca os princípios para criar histórias que ultrapassem os limites do preconceito: “alimente a curiosidade”, “abrace o risco”, coloque “autenticidade como rei”, “convide todos” para conversar e “encontre os experts”, aqueles capazes de encontrar soluções e de chacoalhar o mundo com suas opiniões.
Ao final do painel, Chestnut, da SapienNitro retornou ao palco e convidou a todos para que se engajem na campanha Make some room (“crie condições”em tradução livre).
“Makesomeroom” é a hashtag do movimento lançado no Cannes Lions, em um painel muito rico, intenso e corajoso. Entender sobre a diversidade e como podemos usá-la para alavancar a criatividade e alcançar um novo patamar de engajamento e honestidade na conversação com as pessoas é mais uma demanda tanto de empresas quanto da sociedade.