?É difícil falar em produtividade no Brasil, porque produtividade não chegou ao País ainda. Os gargalos e dificuldades à expansão dos negócios são absurdos?. Logo em sua primeira declaração no painel final do BR Week, nesta quarta-feira em São Paulo, Julio Mottin Neto, vice-presidente do Grupo Dimed, fez críticas fortes ao ambiente de negócios brasileiro, que desestimula a inovação e o empreendedorismo.
?As legislações tributária e trabalhista são anacrônicas e criam situações que reduzem nossa competitividade?, afirma. ?Não faz sentido eu pegar um medicamento em São Paulo, levá-lo para o Espírito Santo para ter uma alíquota de ICMS menor e depois transportar o produto para Porto Alegre?, exemplifica.
O painel ?Como buscar a eficiência e a produtividade em um país como o Brasil? contou com a mediação de Heloisa Callegaro, associate principal da McKinsey & Co, e presença de alguns dos varejistas mais destacados do País, além da participação do ex-ministro da Fazenda Mailson da Nóbrega. O sócio da Tendências Consultoria abriu o painel mostrando que o Brasil só irá crescer se a produtividade dos trabalhadores avançar. ?A indústria brasileira tem perdido produtividade nos últimos anos e o mesmo acontece no varejo. Só o agronegócio tem se tornado mais produtivo, pelo uso de tecnologia e porque lá o estrago da política econômica é menor?, diz.
Segundo ele, o País não sairá desse ambiente de estagnação econômica sem aumento de produtividade. ?No fundo sou otimista, porque temos grandes oportunidades de aumentar a produtividade. Se houver um mínimo de racionalidade do sistema tributário, se a legislação trabalhista se encontrar um pouco que seja com a realidade e se a logística melhorar nos portos, aeroportos e estradas, já teremos grandes ganhos?, comenta.
O grande gargalo, para Nóbrega, porém, é a educação. ?É um desafio que não se resolve de um ano para o outro?, diz. O varejo tem procurado fazer sua parte. ?Investimos muito em TI e RH, em ter boas ferramentas e na qualidade do nosso pessoal?, comenta Pedro Herz, presidente do conselho administrativo da Livraria Cultura. O mesmo acontece na DPaschoal: ?o nível educacional é muito baixo e precisamos assumir a tarefa de ensinar as pessoas para podermos oferecer um bom atendimento aos clientes?, afirma Roberto Szachnowicz, CEO da rede. ?O governo podia ajudar, flexibilizando as leis trabalhistas e melhorando as questões tributárias, mas há tanta empresa despreparada e desestruturada no mercado que conseguimos ser mais produtivos que a média do varejo?, acredita.
?Produtividade não existe sem motivação, e motivação vem com o compromisso do colaborador com a empresa?, teoriza Pedro Herz. E isso passa por treinar as equipes para que elas estejam alinhadas com o objetivo da empresa. ?Não adianta esperar vir uma saída rápida do governo. Quem suceder a Dilma terá uma tarefa muito simples, de fazer funcionar tudo o que saiu dos trilhos nesses últimos anos. É uma oportunidade grande?, comenta.
Brasil, terra de oportunidades
Mesmo em um momento complicado no mercado, em que a alta do dólar impacta diretamente o negócio de quem importa 80% de seus produtos, a Chilli Beans enxerga grandes oportunidades de expansão para seus negócios. ?Estou nos EUA há 8 anos, tenho 15 lojas lá, e apanho todo dia da concorrência e do mercado. Ainda não sei como falar direito com o consumidor lá. Já no Brasil, comecei do zero, tenho 700 lojas e irei chegar a 1000 nos próximos três anos?, conta Caito Maia, presidente da rede. Somente em 2015 serão 95 pontos de venda, espalhados no interior do País.
Caito toma como exemplo cidades como Ji-Paraná, município de 130 mil habitantes em Rondônia em que o franqueado local tem um faturamento equivalente a 40 vezes o aluguel do ponto e consegue, no fim do mês, um lucro líquido de praticamente 20%. ?Temos umas 400 cidades iguais a Ji-Paraná no Brasil. Por isso estou investindo forte no interior do Brasil, onde não tenho concorrência e a Globo chega. Há muito mercado para desbravar ainda?, diz.
O Grupo Dimed, dono da rede de farmácias Panvel, também vê grandes oportunidades. ?Quem tem capacidade de oferecer luxo acessível ao consumidor, hoje em dia, é a farmácia, e entendemos isso como uma oportunidade, mesmo em um cenário de dificuldades macroeconômicas?, afirma Mottin Neto.
Para os participantes do painel, a grande conclusão é que as empresas precisam assumir para si o papel de educar os funcionários e investir na melhoria de seus sistemas e processos, pois o ambiente de negócios não mudará radicalmente nos próximos anos. ?As empresas precisam criar as condições para seu crescimento, sem esperar que as coisas se resolvam em Brasília?, completa Maílson da Nóbrega.
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