Não é segredo que a produção de comida em massa para uma população mundial cada vez maior é uma das grandes causadoras de emissão de gases do efeito estufa.
No começo deste ano, 37 cientistas do mundo todo se reuniram para tentar solucionar o desafio de como será possível alimentar um planeta de 10 bilhões de pessoas no futuro com uma dieta saudável e dentro dos limites sustentáveis do planeta.
A iniciativa da fundação EAT resultou em uma dieta sustentável que ficou conhecida como “Dieta Planetária”. Ela sugere uma alimentação rica em frutas e legumes, proteínas vegetais e carboidratos integrais. As carnes e laticínios são indicadas em quantidades modestas.
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“O consumo geral de frutas, vegetais, nozes e legumes terá que duplicar, e o consumo de alimentos como carne vermelha e açúcar terá que ser reduzido em mais de 50%. Uma dieta rica em alimentos à base de plantas e com menos alimentos de origem animal confere benefícios à saúde e ao meio ambiente”, explica o cientista Walter Willett, professor da Faculdade de Saúde Pública de Harvard e um dos participantes da iniciativa.
Um estudo publicado no The Lancet Global Health no começo deste mês questiona um ponto-chave não coberto pelas diretrizes da dieta: ela é sustentável do ponto de vista econômico?
De acordo com o estudo, a resposta é negativa. Mais de 1,6 bilhão de pessoas, especialmente nos países em desenvolvimento, não têm condições de consumir o tipo de dieta balanceada sugerida.
Segundo o levantamento, as refeições mais acessíveis propostas pela “Dieta Planetária” custam, em média, US$ 2,84 por dia, das quais a maior parcela é composta de frutas e legumes (31%), seguidos de nozes (18%), carne ovos e peixes (15%), e laticínios.
Em países desenvolvidos e com renda per capita alta, a dieta representa em média 6% da renda de uma família.
Em países em desenvolvimento e de baixa renda, o custo aumenta para 89% da renda familiar, tornando a dieta sugerida inviável.
O estudo conclui que promover uma alimentação mais sustentável é possível e acessível em muitos países. Mas para uma parcela mais vulnerável da população, é necessário uma combinação de renda familiar mais alta, assistência nutricional e subsídios para diminuir o custo dos alimentos.
Estratégias para a produção sustentável de alimentos
Na iniciativa que definiu a “Dieta Planetária”, os 37 cientistas de 16 países e várias disciplinas, incluindo saúde humana, agricultura, ciências políticas e sustentabilidade ambiental, definiram cinco estratégias para a produção sustentável de alimentos:
Dietas Balanceadas
Os cientistas dizem que é necessário um compromisso internacional e nacional para a adoção de dietas saudáveis. “Este compromisso conjunto pode ser alcançado tornando os alimentos saudáveis mais disponíveis, acessíveis e mais baratos no lugar de alternativas não saudáveis”.
Novas prioridades agrícolas
De acordo com o relatório, políticas agrícolas e marinhas devem ser reorientadas em direção a uma variedade de alimentos nutritivos que aumentam a biodiversidade, em vez de procurar aumentar o volume de algumas colheitas, como acontece com a soja e a cana-de-açúcar.
Produção moderna e sustentável
O atual sistema de produção de alimentos requer uma nova revolução agrícola baseada na melhoria de uso do solo impulsionada pela sustentabilidade e inovação tecnológica.
Governança da terra e dos oceanos
O relatório indica ser necessário alimentar a humanidade com as terras agrícolas existentes, implementando uma política de expansão zero de novas terras agrícolas em ecossistemas naturais e florestas ricas em espécies. Além disso, é necessário melhorar a gestão dos oceanos do mundo para garantir que as pescarias não impactem negativamente os ecossistemas.
Redução de perdas e desperdício
Soluções tecnológicas aplicadas ao longo da cadeia de abastecimento alimentar e a implementação de políticas públicas são necessárias para alcançar uma redução geral na perda e desperdício global de alimentos.
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