Todo nerd que se preza sabe que só a tecnologia da warp, ou dobra espacial, permitia à tripulação da nave U.S.S. Enterprise saltar de uma galáxia a outra sem que uma única ruga aparecesse nos seus rostos. Até o fechamento desta edição, o homem ainda não conseguiu lançar um corpo a essa velocidade, maior que a da luz. Já no que diz respeito às comunicações e à mídia, vivemos de dobra em dobra, mudando a cada minuto a forma como interagimos com o resto do mundo e, principalmente, como este nos afeta.
Ninguém ignora a total reconfiguração do cenário da mídia. A palavra-chave é mobilidade e tudo é cada vez mais determinado pelos aplicativos que adotamos em nosso dia a dia. A telefonia celular se espalhou pelo planeta mais rapidamente que qualquer outra tecnologia. Identificar quais formatos de mídia sobreviverão a essas dobras espaciais não é tarefa simples, mas é essencial para permanecer no mercado.
Com a abundância de informações acessíveis a um toque, identificamos uma tendência de construção de relações one on one, não mais randômica, mas emocional e ligada a valores e preferências. Não é à toa que o mundo do esporte mantém seu prestígio: é um dos últimos lugares onde, com certeza, encontraremos os consumidores que procuramos. O mesmo toque, porém, permite que nos tornemos, em minutos, celebridades globais com milhões de visualizações nas redes sociais.
A partir dessas duas realidades, resta perguntar se a democratização da mobilidade da informação vai transformar a sociedade, empoderando o indivíduo, ou se veremos o surgimento de uma economia de superestrelas, na qual uns poucos decidirão o que a maioria vai acessar.
Os mais aptos a compreender esses fenômenos se adaptam rapidamente às exigências por canais de comunicação via app, que orientarão comportamentos. Podemos discutir o que e como virá com isso, mas não podemos deixar de reconhecer que temos hoje o maior potencial para influenciar e criar o futuro já desfrutado pelo homem. Jeff Burton, colega do CIFS e cofundador da Electronic Arts, ressalta que é o melhor momento já registrado para começar um negócio e alcançar o mercado global.
Mas, se os melhores terão todas as oportunidades, resta saber o que sobrará para os menos privilegiados, que historicamente perdem seus empregos para a produtividade propiciada pela tecnologia. Um estudo feito pelo CIFS alerta para uma inevitável polarização em todas as áreas.
O maior desafio do futuro será o entendimento coletivo de que cada “direito” conquistado por um grupo social corresponde a um “direito” cedido por outro grupo, e que essa negociação é fundamental para o desenvolvimento da sociedade.
Sobre o efeito warp na mídia, Flavio Ferrari, membro do Instituto e MD da Ipsos Connect, ressalta uma importante mudança: “o cenário de está em transição e o papel de cada mídia no planejamento de comunicação vem mudando. A mídia delimita um território de afinidades para o encontro entre marcas e consumidores. O discurso da marca, neste cenário, é construído pelo consumidor a partir de elementos fractais de comunicação, distribuídos de forma sinérgica e acessados em cada encontro”.
Peter Kronstrom é Head do Copenhagen Institute for Futures Studies (CIFS LATAM) e colunista da Consumidor Moderno.
Artigo publicado na edição CM 203