O Carrefour, por meio da Fundação Carrefour, anunciou investimentos no setor pecuarista brasileiro em parceria com a ONG IDH, criada pelo governo holandês. Um montante de 20 milhões de reais beneficiará 457 pequenos criadores de bezerros. Inicialmente, o programa concentrará esforços no estado do Mato Grosso.
Paulo Pianez, diretor de sustentabilidade do Carrefour, afirma que a ideia do grupo é ter maior controle sobre a qualidade do produto e as práticas sustentáveis ao longo da cadeia de produção, tendo em vista o plano quinquenal apresentado no começo deste ano pela matriz da empresa, na França, que tem como principal pilar o incentivo à produção e ao consumo de alimentos sustentáveis.
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Pianez aponta ainda a intenção de recolocar no mercado produtores que foram retirados do ecossistema agropecuário por não atenderem às demandas de sustentabilidade. “Vimos que faltava um elo importante de inclusão desses produtores que não conseguem atingir as exigências. Esse programa vai levar tecnologia para melhoria de pasto e de manejo do gado. Serão oferecidas condições de capacitação e treinamento para todos esses produtores nos próximos três anos”, informa.
O Carrefour considera ampliar o programa dependendo dos resultados ao longo dos três anos. A iniciativa também pode se estender para a logística de distribuição da produção para fazendas engordadoras e frigoríficos, ampliando a rastreabilidade.
Sustentabilidade
Daniela Mariuzzo, diretora da IDH no Brasil, aponta a preocupação da ONG em adequar a produção de carne no Mato Grosso às práticas sustentáveis no maior estado produtor do País. O Mato Grosso concentra grande biodiversidade e é a única região do Brasil que concentra três biomas diferentes, Cerrado, Amazônia e Pantanal. Segundo a executiva, a ação vai ser concentrada no Vale do Araguaia e no Vale do Juruena, áreas de grande preservação de vegetação nativa. “Cerca de 40 a 45% dos bezerros consumidos no estado são produzidos nessas regiões”, aponta Daniela.
Ela ressalta ainda a importância de proteger os biomas durante o aumento exponencial de demanda por carne bovina, que deve acontecer até 2030, com o crescimento populacional em países emergentes que pode elevar a população mundial para 9 bilhões de pessoas em 20 anos. Além da questão ambiental, há também a necessidade de não deixar que a produção de carne se concentre na mão de poucos produtores. “Em 10 anos, cerca de 50% dos produtores serão eliminados da produção. Esse é um dos motivos de a gente trabalhar com os produtores na criação também”, ressalta Daniela.
Mato Grosso
A forte atuação do Carrefour no estado do Mato Grosso também é um dos motivos da implementação do programa na região. A fazenda São Marcelo, localizada na região e um dos centros do ecossistema de produção de gado no estado, pertencia ao grupo. Hoje é uma das principais fornecedoras do Carrefour. Também em Mato Grosso, o grupo varejista francês mantém parte importante de sua operação de atacarejo.
O governador Pedro Taques afirma que a importância do estado na segurança alimentar do Brasil e de outras economias emergentes deve aumentar nas próximas décadas. “Metade dessa nova demanda (por carne) estará entre China, Índia e Indonésia, que vão precisar de um acréscimo de 60% de alimentos, segundo a FAO. E 40% disso estará no Brasil, sendo metade no estado de Mato Grosso”, estima o governador.
Além das fronteiras
Segundo Carrefour, IDH e governo de Mato Grosso, todo o investimento do programa do Carrefour com a IDH será destinado a pequenos produtores e não inclui grandes pecuaristas. Noel Prioux, CEO do Carrefour, aponta que, de imediato, além do investimento direto em tecnologia e gestão, o grupo vai abrir suas gôndolas para esses novos produtos. “O Carrefour atuará para viabilizar a venda desses produtos em suas lojas. Está em linha com o plano Carrefour 2022, que tem como objetivo a transição alimentar, mais sustentável e saudável”, afirma.
Stéphane Engelhard, vice-presidente do Carrefour, aponta que a produção de carne sustentável no Brasil por meio do novo programa pode vir a abastecer as operações de varejo do grupo em outros países. “A gente começa com essa iniciativa, comercializando essas carnes dentro de nossas lojas no Brasil. Sendo um sucesso, não tem porque não exportar essa carne para outros países onde o Carrefour está”, afirma.