Talvez o leitor e a leitora não tenham tido a oportunidade de transacionar com criptomedas e seus primos, os NFTs (tokens não-fungíveis em tradução do inglês). Mas as criptomoedas hoje crescem e se multiplicam, não exatamente em valor, mas em capilaridade e alcance. Elas fazem parte de um ecossistema de inovação orientado à descentralização de informação e de transação, confrontando a regulação estatal para proporcionar novas alternativas de movimentação financeira para pessoas e empresas. No coração do desenvolvimento das criptomoedas está o protocolo blockchain, um sistema de autenticação e validação que “legítima” todas as transações realizadas nessas moedas, praticamente indevassável e à prova de hackers.
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Essa característica da tecnologia blockchain, suas diversas camadas de segurança e criptografia, permitem diversas aplicações em tese. Não por acaso, a tecnologia foi incorporada às obras autorais digitais, comercializadas e colecionadas como NFTs, naquilo que a Consumidor Moderno denominou “criptoverso”, ou seja, os ambientes digitais que emulam games, com avatares de seres humanos e interações com apelo sensorial, mas com possibilidades transacionais baseadas nas criptomoedas. O criptoverso é, assim, o metaverso com funções de consumo.
O criptoverso é o metaverso com funções de consumo
Evidentemente blockchain e criptomoedas fizeram parte fundamental do conteúdo do Web Summit. Um dos painéis que chamou a atenção foi: “Como o blockchain pode criar uma sociedade mais inclusiva”, reunindo Marieke Flament, CEO da Near Foundation, da Suíça, veterana e pioneira no uso de criptomoedas, Lacey Hunter, co-fundadora da TechAid, uma startup de Web 3.0 voltada para o uso de dados em prol de ajuda humanitária e Stewart Rodgers, editor-chefe da Dataconomy e especialista global em tecnologias de imersão e blockchain.
No painel, esses experts procuraram mostrar como o blockchain pode ser utilizado para resolver grandes problemas humanitários e mesmo influenciar governantes e instituições a moldar sociedades melhores e mais inclusivas. Será que o criptoverso pode criar maior inclusão financeira e cidadania econômica? Qual a resposta?
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Desafio é ampliar acesso à tecnologia blockchain
Basicamente não ter medo de realmente levar a tecnologia para essas populações. Porque a essência do blockchain é que ele ainda é inacessível para a maioria das pessoas, inerentemente inacessível para o cidadão médio. Será que popularizar carteiras digitais permitirá a adoção massiva para o uso natural e inato do blockchain? A ideia é fazer com que os usuários das plataformas atuais consigam transmitir essa simplicidade para a população em geral. A estratégia adequada aqui é tornar a inclusão possível a partir das experiências dos usuários e que eles tornem sua prática familiar para as demais.
Não há dúvida de que o blockchain assegura e traz transparência para as transações e permite que artistas em geral e empreendedores consigam acessar recursos e mercados inexplorados a partir dessa tecnologia. Stewart Rodgers manifesta ceticismo com esse “potencial inclusivo”, porque em tese, o blockchain parece intangível para os cidadãos comuns. Marieke, por sua vez, é otimista, porque todas as aplicações em torno das criptomoedas se preocupam demais com a experiencia do usuário e trabalham para que a inovação se torne compreensível como pedir um carro no Uber. A proposição de valor do blockchain é permitir a descentralização e o envolvimento e transações entre pessoas, o coração da ideia da Web3.
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Estamos no limiar de um futuro ainda incerto, mas que tem como destino tirar o poder concentrado das mãos dos grandes. Essa sempre foi a promessa da internet desde os primeiros dias, mas agora há tecnologias, desenvolvedores e uma geração disposta a levar essa descentralização e o compartilhamento do poder de ideias como o blockchain para cada vez mais pessoas. Essa força parece realmente impressionante e será difícil de controlar.
Carteiras digitais, criptoativos, transações P2P e NFTs são inovações que confrontam a lógica corrente acerca de como administramos investimentos e recursos. Pensar que qualquer pessoa possa criar um ativo que tenha paridade de valor com outros padrões monetários é contraintuitivo demais. Ainda assim, mesmo nesse momento chamado de “inverno cripto”, há um campo aberto para explorar a criação de valor em moedas e obras autorais digitais.
Não adianta pensar criptoativos com base nos princípios gerais da macroeconomia, taxa de juros, liquidez, inflação, ociosidade, desemprego. Apesar de vivermos uma recessão global (ainda que o Brasil pareça bem-posicionado, por ora, nesse cenário), simultaneamente a esse “inverno cripto”, com queda acentuada das cotações, muitos dos investidores estão segurando e mantendo posições, mais do que verificamos em outras classes de ativos.
É provável que o blockchain e as criptomoedas tornem-se padrões monetários realmente acessíveis e incrivelmente democratizados, dentro dos princípios elementares da exponencialização. Vale lembrar que na teoria dos 6Ds, após o desencanto sempre vem a disrupção.
*A cobertura do Web Summit é uma parceria da Consumidor Moderno com Oásis Lab.
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