Quais são os aspectos essenciais da inovação? É possível mapear e apontar quais atitudes realmente fazem uma empresa gerar inovação? Eric Roth, sócio sênior da McKinsey EUA, viaja pelo mundo ajudando empresas a mudarem seus negócios por meio de inovação. Eric também é colaborador ativo de Clayton Christensen, maior especialista global de inovação – ambos escreveram diversas obras e ensaios sobre o tema com projeção global. Há poucos dias, ele fez uma apresentação marcante durante o Fórum McKinsey, realizado em São Paulo.
O consultor é, na mesma medida, um incansável estudioso sobre a dinâmica da inovação e de como ela pode ser utilizada para transformar negócios. Para Eric Roth, a chave é saber criar valor a partir do seu sistema e do que sua empresa faz.
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Como premissas, ele recomenda: “seja espesso, denso, considere os 99% de transpiração e não fique atrás de uma inspiração fugaz, foque no como e não no que, aloque recursos para as melhores oportunidades e saiba que não há apenas uma bala de prata ou uma receita pronta.”
Sempre o contexto
Roth afirma que o cenário atual está dominado pela velocidade digital, pela ascensão do C2B (customer to business), e diz que há disrupção em toda parte. Toda inovação parte da necessidade de se resolver um problema e, nesse sentido, vale sempre considerar três ingredientes fundamentais – o digital, o design e a experiência do consumidor.
“A inovação acontece em uma velocidade sem precedentes. Negócios digitais estão remodelando as expectativas dos clientes em personalização e serviço. Veja o nível de serviço oferecido pela Amazon como referência”, enfatiza. Para ele, a onda digital e mobile muda tudo, todos os dias. Pagers, câmeras, relógios, celulares e desktops foram segmentos rompidos por apenas um produto: o smartphone, com iPhone à frente.
O especialista da McKinsey mostrou ainda como as fortíssimas marcas da P&G, considerada a maior organização de marketing do mundo, sofrem disrupção de dezenas de competidores inovadores, surgidos em pouquíssimo tempo. “Praticamente toda marca da P&G ganha um concorrente novo todo dia”, aponta.
Por outro lado, Roth lembra os dados de uma pesquisa global que aponta que 84% dos executivos consideram inovação muito importante, mas somente 6% deles estão satisfeitos com a inovação que suas empresas produzem. A inovação em escala demanda produtos, serviços, processos e modelos de negócios. Por isso, ideias apenas são insuficientes. Paciência e perseverança importam.
Inovação, evolução e atitudes
A apresentação prosseguiu com uma provocação inquietante: por que a inovação muitas vezes precisa obedecer ao tempo correto de lançamento para ser percebida e assimilada? Thomas Edison, um ícone da inovação, criou e comercializou o modelo de lâmpada popular, a partir de uma demonstração pública em Menlo Park em 1879. Mas foi somente três anos mais tarde que a inovação fez sentido, com a formação de um sistema de produção e geração de energia acessível às populações.
Outro exemplo: o QR Code foi criado em 1994 e só começou a se popularizar somente em 2011. Essas histórias ilustram uma das questões mais importantes quando o assunto é inovação: como saber quando o mercado está pronto para uma ideia fora do comum? E como conciliar essa persistência em uma ideia em um mercado regido pelo curto prazo? É uma questão complexa, porque inovação requer tempo e acionistas requerem velocidade. Inovação também requer tempo porque demanda muitas competências aplicadas e criatividade é apenas uma delas.
O especialista então mostrou as 8 atitudes essenciais da inovação:
1) Aspiração – pense em números, em grandes mercados;
2) Escolha – faça apostas claras, lógicas facilmente compreensíveis;
3) Descubra – tenha insights a partir de ideias isoladas e combinadas;
4) Evolua – pense sempre em incrementar, aperfeiçoar, ir além para não ser vítima da extinção;
5) Acelere – faça cavalos, não camelos, ou seja, a partir de uma ideia bem formatada, persista nela, sem ceder à tentação de moldá-la excessivamente;
6) Escale – ou seja, tenha a pretensão de ser grande, seletivamente, em mercados específicos;
7) Extensão – procure ser visto como um parceiro preferencial;
8) Mobilize – vá além das estruturas internas e estruturas, trabalhe para engajar pessoas e empresas.
Inovação e cultura interna
A partir das atitudes descritas, Roth conclama as empresas e os executivos a pensarem em objetivos inspiradores, mas tangíveis. Sempre é bom lembrar de JFK, presidente americano, morto em 1963, quando, em 1961, colocou a viagem e a exploração da Lua como objetivo a ser atingido em dez anos, sendo que em cinco anos um objetivo intermediário deveria ser atingido: a construção do módulo lunar capaz de pousar na superfície do satélite.
Roth também ressaltou que a busca por crescimento exponencial ou significativo só acontece de quatro maneiras: crescimento orgânico, melhoria incremental, aquisições e, claro, inovações que busquem desconstruir negócios. O problema é que incorporar a cultura de inovação e seu ecossistema não necessariamente encontra lugar nas empresas tradicionais. E é por isso que inovar causa tanta pressão. Mais complexo ainda é alocar a inovação como eixo do negócio.
Nesse sentido, quando se pensa nas escolhas da empresa, o portfólio precisa ser monitorado e revisado regularmente. Até que ponto seu portfólio é sensível a inovações, tanto oriundas do mercado quanto da própria capacidade de propor diferença?
Como estar atento aos sinais emitidos pelos consumidores à nossa volta? O que determinados comportamentos podem dizer sobre a existência de oportunidades para inovar? Ter a mente aberta para ideias, observando onde há a intersecção de tecnologias, pessoas e modelos de negócios para detectar lacunas onde a inovação pode capturar valor é a missão de todo e qualquer executivo que busque manter marcas, produtos e serviços em evidência considerando mercados regidos pela mudança.