“Não há dois lados em uma história. Há duas histórias. E como essas histórias vivem na internet, podemos escolher como experimentá-las antes”. A internet abriu diversas possibilidades interativas e criativas para que histórias sejam criadas de forma interativa e experimentando possibilidades diferentes. O SXSW tem toda uma programação voltada para a linguagem cinematográfica.
A web série “Distance” baseia-se em episódios que abordam a perspectiva de um garoto e a de uma garota, ou seja, sobre um relacionamento de longa distância, contada a partir de duas perspectivas, por dois diretores individuais. Ou seja, Emily mora longe de seu namorado, ambos estão em cidades diferentes. Dessa forma foi possível ver o mundo de cada personagem individualmente e como ele se combina com a vida dos outros. O curioso é que nesses momentos eles interpretam juntos, mas separados pela distância. A cena em que contracenam foi filmada em locais diferentes e a interação entre os atores foi feita via Facetime.
Outra característica da série é que permite à audiência ver a trama de diversas formas: pela perspectiva dele, apenas, ou dela ou de ambos, em tempos e ordens diferentes. Como será ver os episódios primeiro na perspectiva da namorada e depois, na perspectiva do garoto e vice-versa?
O painel “Distance: um conto dele, dela e de como você escolher”, trouxe os criadores da web série, justamente para discutir essas novas dimensões do storytelling. Alex Dobrenko, criador da série, disse que colocou muito de sua própria experiência em um relacionamento de longa distância. Ambos os Diretores, Carly Hudson e Jack Mayer, tinham consciência de que além da filmagem propriamente dita, estavam diante de uma experiência diferente, que obrigou os atores a atuarem de um modo inusitado, para que a correspondência fosse perfeita, em tempo real. Não apenas diretores diferentes, equipes diferentes, uma em cada localidade, para que a sincronia dos momentos fosse total. Ashley Spillers, atriz que incorpora Emilly, disse que foi muito estranho ser dirigida por dois diretores, tendo que atender a duas perspectivas separaras pela distância.
“Distance” trouxe uma forma digital pura de storytelling. Discutiu-se o processo de produção dessa série e como o espaço digital permitiu uma experiência que transcende a história e registra comportamentos de forma única, que estimula a audiência a escolher sua própria aventura. Experiências diferentes vêm sendo testadas ultimamente, no sentido de contar histórias que registrem esse momento de transformação social que vivemos atualmente. Boyhood, de Richard Linklater, concorrente ao Oscar de melhor filme em 2015, enquadra-se nessa proposta.
A série “Distance” partiu de um dado espantoso: 96% de nossas interações hoje acontecem por meio de mensagens de texto. Menos de 5% de nossas interações são realizadas de forma presencial. Estamos aprendendo novas formas de nos relacionarmos.
Quanto à série por si, é bem construída. Nos dois episódios mostrados no SXSW, vimos as conversas do casal em perspectivas diferentes, com um timing hilariante.
Uma geração digital onde o relacionamento é pessoal, mas que pode ser visto pelo que as telas mostram e pelo que queremos deliberadamente que seja visto.
Ainda assim, as perspectivas que vimos nos episódios seguem a linguagem proposta pelos diretores. Há toda uma carga de elementos que são trabalhados para emprestar a visão de cada personagem.
De todo modo, “Distance” expandiu os limites na forma de contar histórias. Pensando em uma perspectiva de longo prazo, da possibilidade de contar essa história por temporadas, como será desenvolver esses personagens? Como essa interação poderá se expandir em diversas sensações – frustração, raiva, ansiedade, problemas no trabalho, conversas com amigos, aniversários, até um provável encontro presencial?
Outro exercício será eventualmente trocar os diretores entre si, para que possamos verificar como essas perspectivas se constroem com personagens diferentes.
Veja o teaser da websérie:
Distance SXSW 2016 Teaser Trailer from Alex Dobrenko on Vimeo.
*Jacques Meir é Diretor de Conhecimento e Plataformas de Conteúdo do Grupo Padrão.