Na última semana, vídeos de pessoas utilizando o que parece ser um headset enquanto movimentam os braços e as mãos no ar e atravessam a rua ou dirigem seus carros estão gerando um misto de confusão e curiosidade entre os internautas. O que à primeira vista parece ser um comportamento perigoso por parte dos usuários do produto, na verdade se trata de uma nova forma de interagir com o mundo, consumir conteúdos, produtos e serviços, e se manter produtivo.
Tudo isso ainda não parece ser o suficiente para descrever o Apple Vision Pro, novo dispositivo de computação espacial – no sentido de espaço físico, e não da Via Láctea – da empresa fundada por Steve Jobs. Lançado no dia 2 de fevereiro, o produto está disponível apenas nas lojas dos Estados Unidos, ainda sem previsão de chegada no Brasil, pela bagatela de US$ 3,499 – mais de R$ 17 mil, na conversão atual.
O Apple Vision Pro se trata de uma espécie de óculos de realidade aumentada – por mais que a Apple prefira chamar de computação espacial – no qual o usuário utiliza um headset que torna o espaço à sua frente em uma grande tela de alta resolução. Há duas micro telas OLED de 23 milhões de pixels – ou seja, mais de 4k – que, além de recriar a paisagem à frente, também insere imagens virtuais.
Por meio do dispositivo, usuários podem assistir filmes, séries e vídeos em telas flutuantes no meio da sala de estar, anotar lembretes virtuais na cozinha, assistir a diferentes partidas de futebol virando para os lados para ver os diferentes lances, e até mesmo fazer reuniões por videoconferência com colegas e amigos. Nesse sentido, o termo técnico faz sentido: mais do que ter a realidade aumentada, o Apple Vision Pro promete uma nova forma de interagir com um computador.
Uma nova experiência
Mais de 600 aplicativos e jogos foram desenvolvidos para o dispositivo que extrapolam a interface de uma tela convencional de smartphone ou notebook – além da biblioteca de mais de mais de um milhão de apps disponíveis para os sistemas iOS e iPadOS. Isso porque os recursos se tornam experiências espaciais, nas quais os usuários conseguem utilizam suas salas, quartos e escritórios em uma grande tela.
Aplicativos como Apple TV+ e Disney+ permitem que usuários assistam às suas séries e filmes favoritos em experiências 2D e 3D, inclusive com conteúdos gravados em Spatial Audio. Por outro lado, a Netflix anunciou que não irá criar um aplicativo nativo para o Apple Vision Pro, e usuários terão que acessar a plataforma por meio de navegadores. Ao utilizar o Safari, navegador oficial da Apple, é possível abrir múltiplas abas, utilizando o espaço ao redor para dispor as diferentes informações oferecidas pelo aplicativo.
Isso é possível porque o Apple Vision Pro não depende de um display 2D para exibir imagens, textos e vídeos. Dessa forma, os recursos podem ser apresentados em qualquer escala e posição que o usuário desejar, ao mesmo tempo em que reproduz o espaço onde estiver – como um cômodo da casa, a rua ou um jardim. Por exemplo, é possível posicionar um cronômetro sobre o fogão para alertar quando um prato terminar de assar, ou colocar um post-it virtual no escritório para lembrar de importantes tarefas do dia.
Os aplicativos J.Crew Virtual Closet e Mytheresa: Luxury Experience também estão disponíveis no Apple Vision Pro, oferecendo uma experiência imersiva de compra. Por meio dos recursos é possível observar imagens das peças de roupa, prová-las em um manequim virtual e combinar diferentes peças, além de concluir a compra por meio do dispositivo.
Avanços na realidade aumentada
No dia do lançamento, Tim Cook, CEO da Apple, além de diferentes lideranças e colaboradores da marca deram as boas-vindas aos clientes da loja da Quinta Avenida, em Nova York. O primeiro cliente a levar o Apple Vision Pro, inclusive, deixou o lugar sob aplausos e celebrações. Até mesmo a fachada da loja foi modificada para ressaltar que mais um pedaço do futuro da Apple está sendo inaugurado.
O Apple Vision Pro não é a primeira tentativa das empresas de tecnologia em desenvolver um dispositivo de realidade aumentada ou virtual. A Meta, dona das plataformas Facebook, Instagram e Threads, já lançou a terceira geração de seu Meta Quest, de realidade virtual e mista, além do Oculus Rift, lançado em 2013. No mesmo ano, o Google lançou o seu Google Glass, que foi descontinuado no ano passado.
O Apple Vision Pro parece ser um avanço em relação aos produtos concorrentes. Diferentemente do Meta Quest 3, não depende do uso de controles para interação com o display. Por outro lado, é mais pesado do que o produto da Meta, com cerca de 600 gramas, o que pode cansar o usuário mais rapidamente. Com uma navegação fluida e uma grande diversidade de recursos, promete infinitas possibilidades de uso.
Por mais que o preço salgado afaste muitos consumidores, estima-se que cerca de 200 mil aparelhos foram vendidos somente na pré-venda. A tendência, antes mais associada ao mundo do entretenimento com as primeiras versões de óculos de realidade virtual e aumentada, começa a ganhar novos contornos de produtividade, jornada e experiência de consumo, além de conteúdos audiovisuais.