A Netflix anunciou no dia 18/10 que seu plano mais básico de assinatura no Brasil deixaria de existir a partir dessa semana. O pacote incluía o streaming de filmes e séries a uma resolução de 720p em um único aparelho ao valor de R$ 25,90 por mês. Assim, o valor do plano mais básico da empresa será de R$ 18,90 com a reprodução de anúncios e resolução de 1080p. Além desse, as outras possibilidades são a assinatura padrão, a R$ 39,90, a 1080p, e premium, por R$ 55,90 com transmissão 4K e sem anúncios.
A decisão não foi exclusiva para o Brasil, e a mesma medida será implementada na Alemanha, Espanha, Japão, México e Austrália. Segundo a empresa, a estratégia – antecipada para assinantes dos Estados Unidos e no Reino Unido – contribuiu para impulsionar a adesão aos planos padrão e com anúncios. Dessa forma, o objetivo é tornar a plataforma um veículo essencial para anunciantes. Além disso, a Netflix anunciou o aumento dos preços de alguns planos de assinatura para seus usuários norte-americanos, britânicos e franceses.
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Segundo carta endereçada a investidores, a Netflix aponta que a estratégia de compartilhamento de contas pago está gerando resultados positivos, com crescimento no número de assinantes, boas taxas de retenção e baixas taxas cancelamento de contas. Segundo a empresa, continuará “a aprimorar e otimizar nossa abordagem para converter mais domicílios de mutuários em membros pagantes integrais ou membros adicionais ao longo dos próximos vários trimestres”.
Anúncios, pra que te quero?
A medida não é inédita no universo das plataformas de reprodução e streaming de vídeos, filmes e séries e músicas. O Youtube, criado em 2005 e comprado pelo Google por US$ 1,65 bilhão no ano seguinte, lançou anúncios em 2007. Tratava-se de uma forma para a empresa reduzir os custos de tráfego por meio de banners de anunciantes quase transparentes nos primeiros segundos dos vídeos.
A estratégia de anúncios do Youtube cresceu ao longo dos anos, e hoje vários são reproduzidos durante as visualizações de vídeos – com comerciais inseridos na reprodução – e banners espalhados pelo site. Como consequência, diversos espectadores passaram a utilizar bloqueadores de anúncios ao assistirem vídeos na plataforma. Ao que, em 2021, o Youtube passou a notificar os usuários que, caso continuassem utilizando as ferramentas de bloqueio, a reprodução de vídeo seria interrompida – uma vez que a prática viola seus Termos de Serviço. Além disso, passou a recomendar que usuários assinassem o Youtube Premium, serviço pago que garante a navegação da plataforma sem anúncios enquanto remunera os criadores de conteúdo.
Em agosto de 2023, o Youtube anunciou o reajuste dos preços do serviço Premium. Hoje, o plano família custa R$ 41,90 ao mês – ante R$ 34,90, como custava anteriormente –, o individual R$24,90, quatro reais a mais, e o universitário, R$ 13,90 (R$ 12,50). Já o Youtube Music, concorrente de serviços de streaming de música como Spotify, Deezer e Apple Music, subiu de R$ 20,90 para R$ 21,90.
O Youtube Brasil aponta que a plataforma funciona como um tripé entre conteúdos para usuários, criadores de conteúdo e marcas. “Os usuários buscam, além de temas do seu interesse, análises e opiniões de pessoas com quem se identificam para tomar uma decisão em sua jornada de compra”, afirma a empresa. “Já as marcas buscam atingir os melhores resultados em suas campanhas, e o YouTube oferece a tecnologia de inteligência artificial do Google, indicando os formatos, momentos, telas e usuários certos para atingir os objetivos de campanha”.
A empresa ainda cita uma pesquisa da consultoria Kantar, que aponta que 79% dos usuários da plataforma concordam que a publicidade em vídeos no YouTube os torna mais propensos a considerar uma marca ou produto. Entre os usuários da geração Z, o Youtube é o canal número 1 em apresentar novas marcas e produtos. Já 84% dos entrevistados concordam que a publicidade em vídeos no YouTube é confiável.
A partir de agosto, o Spotify também anunciou um reajuste dos seus planos de assinatura. O individual, que até então custava R$ 19,90 por mês, passou a valer R$ 21,90 – o mesmo preço do Youtube Music. Já o plano família manteve seu preço de R$ 34,90. Assim como no Youtube, o serviço premium não possui anúncios – a não ser internos, como recomendações de podcasts da plataforma e álbuns recém-lançados por artistas. A diferença é que, desde o seu lançamento, o Spotify contava com anúncios e apresentava seu plano de assinatura como uma forma para que seus usuários os evitassem.
Estratégias de crescimento
Segundo a carta aos investidores na apresentação dos resultados do terceiro trimestre de 2023, a Netflix reforçou que está focada não apenas na geração de engajamento por meio da produção de filmes e séries, mas também na melhoria da monetização da plataforma. Esse objetivo se dá no compartilhamento de contas pagas, na expansão do negócio de anúncios e a sofisticação de planos e precificação.
Em junho, o Programa de Proteção e Defesa do Consumidor (Procon) de diferentes estados brasileiros, como São Paulo, Rio de Janeiro e Santa Catarina, acionou a Netflix por passar a cobrar por acessos a assinaturas da Netflix fora da residência principal do assinante. O valor cobrado era de R$ 12,90 ao mês por ponto de acesso extra, com o objetivo de impulsionar margens em mercados onde a plataforma já é consolidada. O objetivo do Procon era entender como funcionaria o novo sistema de cobrança e de acesso.
No entanto, a decisão foi mantida e, hoje, dispositivos conectados a uma conta da Netflix fora do endereço de IP do domicílio principal ou ID de aparelho diferente do cadastrado são considerados compartilhamentos indevidos. Assim, quem quiser utilizar a conta em outras localidades, terá que pagar a taxa adicional. No entanto, os planos determinam quantos usuários “visitantes” o assinante pode ter.
Já em relação aos anúncios, a empresa afirma que espera que este se torne um negócio multibilionário com o passar do tempo e que, em 2023, esse ainda não será um negócio relevante. A estratégia foi lançada há um ano como uma oportunidade de capturar um mercado que já movimenta US$ 180 bilhões (excluindo-se China e Rússia).
No último trimestre, a adesão de anunciantes cresceu 70% na comparação com o trimestre anterior e, hoje, representa cerca de 30% de todas as novas inscrições nos 12 países onde a Netflix está presente com anúncios.