São Paulo tem cerca de 60 ruas de comércio especializado, segundo a SPTuris. A Teodoro Sampaio é referência quando o assunto é instrumento musical; as lojas da rua da Consolação têm centenas de lustres de cristal expostos nas vitrines; e para comprar Bíblias, CD’s de música cristã e livros de autores evangélicos, a Conde de Sarzedas é o endereço certo.
Em uma cidade de 12 milhões de habitantes que possui tanta variedade, parece loucura dizer que os consumidores possam sentir falta de algum tipo de produto ou serviço. Porém, esta era a realidade dos veganos de São Paulo até um par de anos atrás.
Imaginar que um açougue vegano vem para atender este público é tentador, mas esta não era a intenção de Marcella Izzo e Bruno Barbosa quando iniciaram o negócio. O casal não abriu a NoBones pensando em receber muitas visitas, nem para atender apenas os veganos. “A nossa expectativa era outra, era de ser um mercadinho de bairro”, lembra Barbosa.
Mas a projeção de Bruno foi ultrapassada já na véspera da inauguração da loja, que fica em Perdizes, zona oeste da capital paulista. O evento criado no Facebook pelo jornalista e publicitário mostrou que a espera por um estabelecimento como o que fora inaugurado em dezembro de 2016 era maior do que imaginaram. Os sócios se assustaram com a quantidade de pessoas que confirmaram presença no evento. Eles triplicaram a produção e chamaram um amigo para ajudar.
Às 5 horas da manhã, depois de finalizar todos os detalhes da garagem que foi transformada em ponto de venda, Bruno e Marcella precisaram ficar no local até às 8 horas da noite dando explicações aos clientes que se frustraram com a falta de produtos. O estoque foi zerado em apenas duas horas. Além da quantidade inesperada de clientes, o volume de cada compra também impressionou. Alguns visitantes pediam todas as unidades disponíveis para levar para casa.
A partir daquele momento, a NoBones já ganhara outro patamar. Aquele foi apenas o primeiro passo para que a marca virasse uma das referências em fake meats no Brasil.
Passado vegano
Antes de criarem o açougue vegano, Bruno e Marcella já tinham o costume de não consumir alimentos de origem animal, como carnes e queijos. Com a prática, eles desenvolveram várias receitas e ofereceram aos amigos – não necessariamente veganos – que os visitavam e que, mais tarde, começaram a pedir encomendas dos pratos.
Bruno percebeu que poderia transformar a atividade em um negócio rentável e então sugeriu o aluguel de uma casa que contasse com uma garagem, desenvolveu todo o conceito de marca e anunciou a inauguração nas redes sociais da empresa, que hoje reúnem quase 27 mil seguidores.
“NoBones para todos”
O mote parece simples e óbvio, mas é importante lembrar que a NoBones é um açougue vegano, termo que desperta preconceito, tanto de pessoas que comem carne – e vira e mexe deixam comentários nada educados aos sócios – quanto dos veganos mais radicais, que reclamam da palavra “açougue”, alegando que ela remete a carne.
O objetivo é alcançar quem come alimentos de origem animal e quem não come. Bruno conta que o açougue quer acabar com o preconceito dos não-veganos. “Se a gente tivesse feito uma pesquisa antes da inauguração a gente não tinha aberto a NoBones”, diz Bruno.
A missão do açougue vegano é reduzir drasticamente o consumo de carnes no Brasil. A estratégia para atingir o objetivo não é mostrar aos não-veganos o sofrimento de animais, mas sim conquistá-los pelo paladar, como qualquer outro tipo de alimento. Bruno acredita que todo o mercado de produtos veganos tem a responsabilidade de produzir comida saborosa para não afastar potenciais clientes. A NoBones vem conseguindo fazer isso, segundo o publicitário: “Pelo menos 40% a 50% do público come carne e está reduzindo o consumo”.
No menu da NoBones tem picanha, costelinha, salsicha e linguiça. Tudo isso é produzido na cozinha do açougue, que é liderada pela chef Marcela. A gordura da picanha é feita com queijo vegetal e a imitação da carne leva arroz vermelho, beterraba e fumaça líquida. O caule do cogumelo eryngui imita a costelinha, que ainda leva barbecue. O “osso” do prato é o próprio cogumelo. As salsichas são de tomate seco e de alho. Já as linguiças, feitas à base de feijão branco, são de pimenta calabresa ou espinafre. Todo o processo de produção dos cortes especiais é artesanal.
Estas receitas – além de vários outros produtos veganos que a loja oferece – renderam um bom desempenho ao açougue. A empresa faturou R$ 400 mil no ano passado com a loja e com o e-commerce que atende São Paulo, Rio de Janeiro e Goiânia. A expectativa é fechar 2018 com faturamento na casa dos R$ 540 mil.