A Inteligência Artificial (IA) tem sido alvo de debate nos últimos tempos, se destacado como uma aliada em diversos setores, sua aplicação na medicina tem sido especialmente promissora. No contexto da saúde da mulher, a endometriose, uma condição complexa e muitas vezes difícil de diagnosticar, tem sido alvo de avanços impulsionados pela IA. Desenvolvida na Austrália e em fase de testes, essa inteligência promete acelerar o diagnóstico da doença.
Os pesquisadores que desenvolveram a ferramenta são da Universidade de Adelaide, na Austrália, em colaboração com a Universidade de Surrey, no Reino Unido. A equipe detectou um avanço significativo no diagnóstico da endometriose com a aplicação de uma inteligência artificial (IA). A nova tecnologia promete acelerar o processo de diagnóstico, melhorando assim a qualidade de vida de milhões de pessoas que enfrentam os desafios desta condição de saúde.
O Fernando Prado, especialista em Reprodução Humana, Membro da Sociedade Americana de Medicina Reprodutiva e diretor clínico da Neo Vita explica que o sistema desenvolvido pelos pesquisadores pode reduzir drasticamente o tempo do diagnóstico:
“O Imagedo utiliza inteligência artificial para analisar dados de ultrassom e ressonância magnética para ajudar a reduzir significativamente o tempo necessário para diagnosticar a endometriose – que, em média, leva mais de seis anos para ser diagnosticada corretamente”, dFernando.
Segundo os pesquisadores, Imagedo introduz recursos inovadores de IA para fornecer diagnóstico rápido e não invasivo de endometriose, combinando tecnologia de ressonância magnética e ultrassom “O longo processo de diagnóstico da endometriose pode levar à ansiedade, depressão e fadiga, muitas vezes exigindo que as pacientes consultem vários profissionais de saúde. Esta longa jornada de diagnóstico pode exigir cirurgia invasiva e atualmente carece de um teste não invasivo confiável, para não mencionar que apresenta muitos pacientes com riscos significativos para a saúde e econômicos”, diz.
“Um bom médico e bem treinado saberá diagnosticar precocemente a doença e evitar que ela só seja diagnosticada muito tardiamente, quando já causou sequelas importantes. Nesse sentido, a IA pode auxiliar na precocidade diagnóstica, transformando sobremaneira a qualidade de vida da mulher e reduzindo ou mesmo eliminando as sequelas em definitivo”, conta o especialista.
Endometriose afeta milhões de mulheres
A endometriose é uma condição médica que afeta milhões de mulheres em todo o mundo, e no Brasil, não é diferente. Segundo dados do Ministério da Saúde, uma em cada 10 mulheres no país enfrenta a doença, marcada pela presença de tecido endometrial fora do útero.
O principal sintoma, dor pélvica intensa durante a menstruação, muitas vezes é negligenciado por ser associado erroneamente às cólicas menstruais comuns. Essa falta de reconhecimento precoce contribui para diagnósticos tardios, muitas vezes quando uma condição já impactou significativamente a qualidade de vida dos pacientes, incluindo dificuldades para engravidar.
“Estima-se que de 3 a 5 milhões dessas brasileiras diagnosticadas tenham infertilidade. A endometriose é inflamatória e ocorre quando as células do endométrio, o tecido que reveste a parede interna do útero, em vez de serem eliminadas durante a menstruação, movimentam-se no sentido oposto, caindo no interior do abdômen e se implantam nos órgãos e tecidos internos. Ela se relaciona com a fertilidade, porque essas células se espalham pelo aparelho reprodutivo, dificultando desde a fertilização do óvulo até a implantação do embrião”, explica o médico.
A dor associada à endometriose é mais do que uma simples cólica menstrual. É uma dor debilitante que pode se estender para além do período menstrual, afetando a rotina diária e o bem-estar emocional das mulheres. Infelizmente, essa dor muitas vezes é desconsiderada ou minimizada, resultando em atrasos no diagnóstico e tratamento adequado.
“Esse já é um universo grandioso no Brasil de forma que quase 10,4 milhões de mulheres sofrem com o problema de acordo com dados oficiais. No entanto, é muito provável que o número de mulheres com endometriose atualmente seja maior do que o relatado, pois, até hoje, os sintomas da doença são negligenciados, levando a um cenário de subdiagnóstico. Isso é altamente maléfico, visto que a doença é a principal causa de infertilidade na mulher”, pontua o médico.