A captação de água da reserva técnica do sistema Cantareira completa um ano nesta sexta-feira e já custou R$ 120 milhões à Sabesp.
O que começou como uma solução pontual não tem data para acabar. Recentemente, a Sabesp divulgou que adiantará a programação de obras previstas no seu plano diretor, a princípio programadas para 2035, com a construção de um conjunto de adutoras para levar grandes volumes de água para regiões atendidas pelo sistema Cantareira.
Percebe-se que o conceito de cedo e tarde da empresa é um pouco flexível, falar em adiantar as obras quando é sabido que o caos está instaurado desde 2003 parece escárnio.
O foco principal da crise hídrica, entretanto, está na ampliação do volume de água disponível para abastecimento, que seja capaz de atender às necessidades da população. Neste mês de maio começa o período de estiagem, que se estende até julho.
Uma solução efetiva para o problema, que tem afetado boa parte do estado de São Paulo, é a gestão sustentável das bacias hidrográficas. A proposta envolve ações planejadas e executadas com total participação das comunidades das microbacias, corrigindo passivos ambientais, como a recuperação de nascentes, da mata ciliar, a readequação de estradas, os terraceamentos, o plantio direto de qualidade, a diversificação de culturas, entre outros.
Um exemplo de resultados conquistados pelo sistema de gestão de bacias hidrográficas é o programa ?Cultivando Água Boa?, desenvolvido pela Itaipu Binacional, em parceria com o Instituto Ecoar, que recuperou os recursos dos municípios lindeiros da hidrelétrica. A produção anual de água atinge 430 bilhões de litros, duas vezes mais que a necessidade da população local.
A experiência está sendo apresentada em exposição no Museu Oceanográfico da Universidade de São Paulo (USP) e pode ser uma alternativa para combater as baixas no Sistema Cantareira e Alto Tietê. A iniciativa acaba de conquistar primeiro lugar na categoria ?Melhores práticas em gestão da água?, da 5ª Edição do ?Water for Life 2015? da Organização das Nações Unidas ? ONU.
A partir do próximo dia 21, passará a contar com eventos especiais para estudantes de escolas das redes pública e privada do Estado de São Paulo.
?O programa configura uma estratégia local para enfrentamento das mudanças climáticas e para a gestão de bacias hidrográficas. Portanto, pode auxiliar neste momento em que é necessário rever a forma como os recursos hídricos são tratados e buscar novos aprendizados?, avalia o diretor de coordenação e meio ambiente da Itaipu, Nelton Friedrich.
Outra iniciativa notável, embora fora do circuito paulista, é a Escola Sustentável da Pontifícia Universiadade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), que desenvolveu um projeto para propor o levantamento do desempenho ambiental em instituições de ensino. A ideia é avaliar diversos itens, como uso de recursos naturais, de energia e descarte correto de resíduos, além de seleção de fornecedores e materiais sustentáveis.
A partir das informações, é possível auxiliar as escolas a adotar uma postura de responsabilidade ambiental entre alunos, professores, pessoal técnico-administrativo e gestores. Atualmente, as atividades estão sendo desenvolvidas na Escola Estadual de Ensino Médio Padre Nunes. Várias das atividades propostas estão implementadas, inclusive a cisterna para captação de água, construída com a comunidade escolar.
A Braskem ao longo de 2014 também conseguiu consumir 11,4 bilhões de litros de água de reúso. A maior petroquímica das Américas atingiu esse patamar a partir do recolhimento da chuva ou efluente industrial tratado. Isso só foi possível por meio do projeto Água Viva, no Polo de Camaçari (Bahia), e Aquapolo, que abastece o Polo Petroquímico no Grande ABC (São Paulo). Cerca de 30% do montante hídrico utilizado pela empresa é proveniente de reuso.
Mas enquanto consumidores finais conscientizam-se cada vez mais sobe a importância do uso sustentável da água, a Sabesp continua premiando grandes consumidores com descontos proporcionais à quantidade do uso da água, ou seja, quanto mais usam, menos pagam.