Em algumas cidades brasileiras, o trânsito é caótico. Quem mora em São Paulo, por exemplo, sabe que muitas vezes é um desafio atravessar a cidade sem tomar nenhum susto. E isso apenas fica apenas na observação dos cidadãos. Uma pesquisa recente comprova: existe uma parcela (considerável) de brasileiros que desrespeitam as leis de trânsito.
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O levantamento inédito realizado pela Arteris, companhia do setor de concessões de rodovias do Brasil, é baseado na observação do comportamento de condutores em rodovias nacionais. O método também foi aplicado, neste ano, em rodovias da França, Espanha, Argentina, Chile e Porto Rico. O conteúdo foi apresentado durante o 4º Fórum Arteris de Segurança.
No Brasil, a análise foi realizada na Autopista Régis Bittencourt, em São Paulo. Durante os sete dias de observação, passaram pelo trecho escolhido 82 mil veículos. O comportamento dos condutores foi registrado por sensores fixos em pontos estratégicos da rodovia, além de monitorado por pesquisadores que acompanharam as ocorrências em tempo real.
Cadê a seta?
Um dos destaques do estudo fica para o fato de que 57,5% dos condutores observados foram flagrados mudando de faixa sem sinalizar. O dado registrado é superior ao verificado na França (26%) e na Espanha (39,6%). A manobra inesperada sem a utilização da seta é uma infração grave e impede que os demais motoristas possam tomar medidas preventivas para evitar, por exemplo, colisões laterais e traseiras.
Elvis Granzotti, coordenador da pesquisa e gerente de operações da Arteris, destacou que atitudes imprudentes podem colocar em risco a vida do próprio usuário e de outros condutores, pedestres e ciclistas. Por isso, exigem cada vez mais ações preventivas diferenciadas por parte das concessionárias, do poder concedente, dos órgãos de controle e fiscalização.
Cadê o cinto de segurança?
A conscientização sobre o cinto de segurança também fica em evidência pelos dados coletados. Apesar de apenas 1% dos condutores ignorarem o item, 48% dos passageiros do banco de trás foram vistos sem o cinto durante a pesquisa. Na Espanha, o uso do cinto é praticamente universal no banco da frente, mas ainda deixa de ser usado por 21,3% dos passageiros no banco de trás.
Usar o cinto pode reduzir pela metade as chances de ferimentos fatais para condutores e passageiros que trafegam no banco da frente, e em 3/4 para aqueles que viajam no banco de trás. “O comportamento dos responsáveis pela condução dos veículos possivelmente está muito mais vinculado à fiscalização do que propriamente a uma consciência e preocupação com a preservação da vida”, analisou Granzotti.
Velocidade e distância
Segundo a pesquisa, 15,9% dos motoristas parecem ignorar a recomendação expressa no Código de Trânsito Brasileiro de manter a distância mínima de segurança entre veículos. O resultado brasileiro é bastante similar ao espanhol, que foi de 16,5%. A França, por sua vez, apresentou o percentual mais alto de desrespeito à distância mínima de segurança, 25%.
O desrespeito aos limites de velocidade é alto para os três países. Na França, 41% dos veículos observados excedem o limite, 38,3% na Espanha e 29,6%, no Brasil. A infração é classificada entre média e grave no Brasil, pode gerar multa de até R$ 293,47 reais, e levar à suspensão da licença para dirigir.
Vício digital
O celular também apareceu como vilão na pesquisa realizada pela Arteris. O seu uso no trânsito pode acarretar uma infração gravíssima e a multa no Brasil pode chegar a quase R$ 300 reais, além de render sete pontos na carteira de habilitação. Alguns segundos de distração podem levar a um desvio de atenção grave, inclusive possibilitando que motoristas percorram vários metros “às cegas”.
Mesmo assim, a utilização do aparelho pelos motoristas é real. E isso acontece até mesmo nas rodovias (mesmo que de forma mais tímida). No período pesquisado, 1,19% dos motoristas foi visto com celular em mãos no Brasil. Na França, 4,1% dos usuários dirigiam manuseando o celular, e na Espanha, 4,6%.
Conscientização
Segundo a empresa, o objetivo da pesquisa é dar um vislumbre profundo sobre o comportamento dos motoristas. Dessa forma, é possível identificar alternativas para a mitigação de riscos e para a intensificação de campanhas.
“Conhecer a fundo o costume dos usuários tem se revelado cada vez mais importante para desenhar e executar ações mais estratégicas para sensibilizar e provocar mudanças de comportamento no trânsito, reduzindo assim fatalidades”, apontou o especialista.