A jornada de trabalho de segunda a sexta, das 9h às 18h, está com os dias contados. Em uma época de mais pressão por resultados, síndrome de burnout e trabalhadores mais conectados, há um movimento emergente para reduzir o dia e a semana de trabalho.
O assunto voltou à tona recentemente após a eleição da nova primeira-ministra da Finlândia, Sanna Marin, que disse ter o objetivo de, no futuro, implantar um sistema de 4 dias úteis de trabalho no país. A ideia de Sanna não é nada radical, e várias empresas já utilizam uma forma ou outra de jornada flexível com ganhos de produtividade, lucratividade e retenção de funcionários.
A jornada de trabalho como conhecemos hoje foi implantada nas décadas de 30 e 40 ao redor do mundo como modo de estabelecer limites e padrões para o trabalho nas linhas de montagem das indústrias. No Brasil, a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), promulgada em 1943, estabelece que a jornada normal é de oito horas diárias, e de 44 semanais. Nos Estados Unidos, a semana de trabalho de cinco dias e 40 horas tem sido o padrão desde que o Congresso aprovou a Fair Labor Standards Act em 1938.
Hoje, na era da informação, com indústrias automatizadas e robôs fazendo trabalhos pesados 24 horas por dia, não é mais necessário que os trabalhadores tenham jornadas idênticas de trabalho como na linha de montagem.
Segundo pesquisa de 2018 do The Workforce Institute, 45% dos trabalhadores globais acham que cinco horas por dia são suficientes concluir as tarefas do trabalho, e 35% aceitariam um corte de 20% nos salários se pudessem trabalhar menos um dia por semana.
Pesquisa indica benefícios de jornada menor
Pensando em melhorar a produtividade, o engajamento e o equilíbrio entre vida pessoal e profissional dos funcionários, algumas empresas começaram a testar jornadas de trabalho alternativas. Em alguns casos, a típica semana de trabalho de 40 horas é apenas redistribuída em quatro dias. Em outros, um dia da semana é simplesmente removido, resultando em menos horas trabalhadas.
Uma pesquisa da Henley Business School, no Reino Unido, revela como uma semana de trabalho mais curta, com remuneração integral, pode aumentar os resultados das empresas por meio do aumento da produtividade e da melhoria da saúde física e mental da equipe.
Segundo a pesquisa, das empresas que já adotaram uma semana de trabalho de quatro dias, quase dois terços (64%) relataram melhorias na produtividade da equipe. A grande maioria dos empregadores disseram que uma semana de trabalho de quatro dias os ajudou a atrair e reter talentos.
A pesquisa também descobriu que esse estilo de trabalho aumentou a qualidade de vida dos funcionários, com 78% dos negócios dizendo que o time estava mais feliz, menos estressado (70%) e tirando menos dias de folga (62%).
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Veja abaixo cinco exemplos de experimentos de jornadas de trabalho alternativas que deram certo:
1. Microsoft no Japão aumenta produtividade
Durante o mês de agosto de 2019, os escritórios da Microsoft no Japão implantaram um projeto piloto que reduziu a jornada semanal de trabalho para quatro dias, com todas as sextas-feiras de folga aos funcionários sem diminuição de salário. Segundo a empresa, as semanas reduzidas resultaram em reuniões mais eficientes, trabalhadores mais motivados e um aumento de 40% na produtividade do mês.
“Trabalhe por um curto período de tempo, descanse bem e aprenda muito”, disse o presidente e CEO da Microsoft no Japão, Takuya Hirano, em comunicado publicado no site da empresa. “Quero que os funcionários pensem e experimentem como podem alcançar os mesmos resultados com 20% menos tempo de trabalho”, concluiu.
2. Na Patagonia, a ordem é curtir a natureza
A marca Patagonia, especializada em produtos para amantes da natureza, acampamentos, montanhismo e trekking, tem uma cultura corporativa que incentiva os horários flexíveis para que seus funcionários possam aproveitar as atividades ao ar livre. Para uma marca que promove produtos para que as pessoas curtam a vida na natureza, esse tipo de política faz todo o sentido.
Além dos horários flexíveis, a empresa também oferece um fim de semana de três dias a cada duas semanas. Os funcionários trabalham nove horas por dia, de segunda a quinta-feira e oito horas em sextas-feiras alternadas. Para a empresa, esses benefícios também são positivos. A retenção de funcionários é altíssima, com um turnover de apenas 4% ao ano.
3. Shake Shack busca retenção nos EUA
A rede americana de lanchonetes Shake Shack iniciou um programa piloto em que os gerentes de 30% de suas 187 lojas nos EUA estão no regime de trabalho de 4 dias por semana. Segundo o CEO da empresa, Randy Garutti, em entrevista à CNN, a medida busca aumentar a retenção e atrair novos candidatos qualificados para o grupo em um momento em que a economia americana tem uma taxa de desemprego baixíssima.
Por enquanto, o programa está em fase de testes e não se sabe se irá ser implantado globalmente nas lojas da rede, mas a ideia já vem dando resultados positivos. De acordo com a empresa, 63% dos candidatos a emprego de Shake Shack apontaram a semana de trabalho mais curta como a principal razão de sua candidatura.
4. Mentes descansadas programam melhor na Wildbit
A Wildbit, empresa americana de desenvolvimento de softwares, implantou uma jornada de 4 dias semanais em 2017, sem aumentar as horas de trabalho nos outros dias da semana. Para garantir que as entregas não atrasassem, reuniões desnecessárias foram cortadas e a burocracia do escritório foi otimizada.
“Estamos produzindo com mais qualidade e mais volume nos últimos dois anos do que fizemos anteriormente”, afirma a CEO da empresa, Natalie Nagele, em entrevista ao USA Today. Segundo ela, o dia extra de folga “dá um descanso à mente”, essencial para programadores, e “cria uma conexão real entre trabalho e casa”.
5. Teste na Perpetual Guardian vira livro
Em 2018, a Perpetual Guardian, uma empresa de serviços financeiros da Nova Zelândia, alterou a jornada de trabalho de seus 240 funcionários para quatro dias úteis de trabalho, mantendo o salário integral. Um estudo feito durante o experimento mostrou que a produtividade aumentou nos quatro dias em que eles trabalharam, então não houve queda na quantidade total de trabalho realizado.
O processo na Perpetual Guardian foi acompanhado por pesquisadores da Universidade de Auckland, que registraram um maior nível de comprometimento e empoderamento dos funcionários. Os níveis de estresse da equipe caíram de 45% para 38%. A avaliação positiva do equilíbrio entre vida profissional e pessoal aumentou de 54% para 78%.
“Precisamos fazer com que mais empresários testem esse novo modelo de trabalho. Eles ficarão surpresos com a melhoria na empresa, na equipe e na comunidade em geral”, afirmou Andrew Barnes, fundador da Perpetual Guardian, em entrevista ao The Guardian. A ideia deu tão certo na empresa de Andrew que ele lançou um livro – The 4 Day Week – e um site – com guias e dicas para empresas que querem implantar o sistema.
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